Cléia
Negligência e roubo somados, o resultado é um só: falência.
Terminei de comer e vou para o banheiro que mal me cabe, por isso tirei a roupa antes de entrar e pendurar em ganchos na parede. Que bom me livrar dessa cinta apertada e quente. Entrei no chuveiro e deixei a água cair, sem molhar os cabelos, ainda presos no coque. Só após me secar, soltei-os, que caíram até o meio das costas, lisos com cachos largos nas pontas. Escovei bastante, vesti o Baby Doll, apaguei a luz e deitei.
Tive um sonho único e reparador, acordei só com o despertador e comecei minha rotina diária. Cheguei com a Aline, como sempre.
— Bom dia, parceira!
— Bom dia, Aline.
— Você não parece muito animada.
— Não estou — confirmei — A empresa está um caos, com muito trabalho a ser feito.
— É verdade, mas o CEO é bonito e simpático, não deve ser difícil trabalhar com ele. — Sonhadora essa Aline.
— Simpático com você, ele nem olha para mim, mas prefiro assim, só preciso executar meu trabalho e tá muito bem. Vamos tomar café logo? — perguntei ao sairmos do elevador.
— Sim. — Nos viramos em direção a copa, mas fomos interrompidas.
— Senhorita Cléia, que bom que já chegou! — O infeliz já estava lá.
— Bom dia, senhor. — respondi sem me virar, sentindo que ele se aproximava.
— Preciso que a senhorita me ajude em algumas coisas. — falou ele, chegando ao meu lado.
— Já vou lhe atender, senhor. Gostaria de um café?
— Não, já tomei, obrigado. Pode vir à minha sala para falarmos? — Continuei sem olhar para ele.
— Assim que terminar de chegar, senhor. Meu horário de expediente ainda não começou.
— Isso significa que não posso contar com a senhorita? — perguntou ele, na maior cara de pau.
— Bom dia, senhor Cardoso! Que bom vê-lo bem-disposto. Nós estamos indo tomar um café e depois arrumamos nossa mesa para iniciar o expediente, o senhor pode esperar só um instante? — Essa é minha amiga mesmo, sempre me socorrendo.
— Ah, sim. Desculpe, Aline, bom dia. Espero em minha sala, até já, senhorita Cléia. — virou-se e marchou para sua sala.
Soltei o ar que estava retendo e respirei fundo, tentando me acalmar.
— Acho melhor você tomar um chá de camomila em vez do café. — Sugeriu Aline, preocupada.
Finalmente eu me mexi e fui até a copa, acompanhada por ela e coloquei o disco para fazer o meu café na máquina.
— Chá? Nem pensar. Sem café eu não sou nada. Tomara que ele não tenha percebido que ainda estou de sapatilha. — digo.
— Ele nem olhou para nós, duvido até que tenha percebido que está sem óculos e seus olhos são cor de âmbar. — Ela ria igual uma hiena.
Só agora me dei conta que estou sem os óculos, afinal, ainda nem cheguei. Peguei o copinho de isopor com o café e fui rapidamente para minha mesa, troquei os sapatos, beberiquei o café, coloquei os óculos, beberiquei o café, guardei a bolsa, terminei o café, joguei o copo no lixo e com a agenda na mão, caminhei para a sala da presidência.
— Com licença — falei ao entrar — bom dia, senhor.
— Bom dia, Cléia. Sente-se. — Nem olhou para mim, novamente.
Abri a agenda e iniciei a narrativa, mas ele me interrompeu.
— Lembra que eu disse que preciso de sua ajuda em algumas coisas?
— Pois não, senhor?
— Tenho duas tarefas para você, já que você chega cedo e sai tarde, não será difícil. A primeira é: quero que reúna o máximo possível de informações sobre os setores que considere que está fora do lugar e me faça um relatório. A segunda é: depois do expediente, desce de escada e olhe andar por andar, sala por sala, se tudo está desligado e apagado e o que não estiver, me relate. Você receberá um bom extra por esse serviço. Estamos entendidos? — Esse homem é um sem noção.
— Sim, senhor. — consenti e passei a narrar o que estava agendado para o dia. Como ainda era cedo, passei a ele as pastas das reuniões e me retirei.
Aline esperava eu sair da sala para correr ao meu encontro.
— Então, amiga, o que ele queria?
— Me dê mais trabalho. Vou ter que chegar mais cedo e sair mais tarde. Só daqui a dois dias vou ter ideia de quantas horas de sono vou perder com isso. Agora me deixe trabalhar. — tentei segurar minha vontade de chorar.
— Sinto muito, querida. Pelo menos ele vai te pagar para isso? — perguntou Alina, ainda parada ali.
— Sim, agora me deixe trabalhar, Aline, é muito serviço.
— Tá, tá, tchau. Se precisar, estou aqui.
Sentei a frente do computador e iniciei logo meu trabalho. Abri a página de cada setor e fui analisando cada dado relatado, logo comecei a encontrar as falhas, tudo por desleixo e também haviam gastos excessivos com materiais de escritório. Muitos clipes, grampos, borrachas, lápis e canetas, que davam para usar um ano inteiro, pedidos todo mês.
Precisei parar e me preparar para a primeira reunião. Fui até ele, que já estava de pé para sair, endireitei-lhe a gravata, limpei a lapela com a mão e lhe passei a pasta correta, me afastei e lhe abri a porta. Ele ficou parado no lugar, me olhando pela primeira vez.
— Não entendo porque você faz tudo isso, não precisa, eu sei me cuidar. — Ele falou, franzindo as sobrancelhas, com o semblante duro.
— Sim, senhor. — Era melhor não falar mais nada, não queria seus olhos sobre mim.
Acho que ele desistiu de continuar reclamando e passou por mim como um furacão.
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Atualizado até capítulo 104
Comments
Maria Helena Macedo e Silva
quem já foi secretária sabe que isso acontece com mais frequência do que gostaríamos🤦
2024-09-10
1
Márcia Jungken
caramba Domênico não precisa ser grosso com a Cléia, ela só quis ajudar ele 🙄🙄🙄
2024-01-02
5
MARIA LUZINETE DIAS SILVA
Ele está se incomodando com o zeli e a eficiência dela
2023-10-18
3