Capítulo 4. Tribufu

Domênico

Voltei a olhar para a comida e prestar atenção em suas palavras, para esquecer aquela visão deliciosa que me fazia ter pensamentos luxuriosos, com aquelas coxas à volta do meu quadril e quicando sobre meu membro duro. Não tô conseguindo focar. Presto atenção na comida, terminando rápido e seguindo para o banheiro, para distrair meu amiguinho, que está querendo aparecer.

A mulher é um tribufu, controle-se, homem!!!

Estou carente, é a única explicação, e não gosto de pegar mulher no trabalho. Estou com 38 anos, não sou mais um garotinho descontrolado, tenho a mulher que eu quero, na hora que eu quiser, não preciso de todo esse descontrole. Finalmente começo o meu dia. As reuniões são sucessivas, incluindo os chefes de setor, a quem passei os lugares onde encontrei algum descaso e fui taxativo quanto ao que acontecerá, caso continuasse o desperdício.

No final do dia, Cléia informou sobre meu motorista estar me esperando e deu boa noite. Mal notei sua presença o dia todo, mas ela estava lá, informando, anotando, lembrando, executando seu trabalho com perfeição. Eficientíssima, mas continua sendo um:

Tribufu!

Saí e nem percebi que não a cumprimentei, era apenas como mais uma peça dos móveis do escritório. Entrei no elevador e reparei que todos já tinham ido, menos ela. Não liguei, ela era muito bem paga para isso. Encontrei o motorista, que também era segurança e ele, após me cumprimentar com um boa noite, me direcionou a um Citroen, um carro clássico, preto, com vidros escurecidos, próprio para um empresário de sucesso. Ele abriu a porta traseira e eu entrei.

— Obrigado, qual o seu nome? — perguntei, educadamente. Os funcionários que lidamos cotidianamente são os melhores informantes.

— Meu nome é Carlos Albuquerque, senhor Cardoso.

— Chame-me só de Dom, pode ser senhor Dom, na frente de outras pessoas. — Informei.

— Como quiser, Dom. Obrigado.

— Esperou muito tempo ou esse horário era normal, antes de mim?

— Não, senhor, digo Dom. O antigo CEO nunca ficava até mais tarde, o presidente também, quase não ficava aqui.

— Então o presidente não era o CEO?

— Não. O senhor conheceu Cléia? Claro, ela é sua secretária. — comentou Carlos, não entendendo o porquê.

— Sim, conheci, eficientíssima.

— Ela era a filha do presidente, mas trabalhava para o CEO.

Agora sim, deu um nó na minha cabeça. Como assim, ela era a herdeira dessa empresa, mas trabalhava para o CEO?

— Não entendi a pergunta. Por que ela é secretária?

— Não, a pergunta certa é: por quê ela era secretária do CEO, se era a herdeira?

— Ela nunca gostou da forma como o pai dirigia a empresa e a própria vida, e por isso, começou a trabalhar cedo. Na verdade, começamos juntos.

— Que interessante, mas com a fortuna que recebeu, não precisaria trabalhar, por que ainda o faz? — perguntei intrigado, mas entendendo perfeitamente a atitude mandona dela.

— Fortuna de dívidas, o senhor quer dizer. Ela ainda está pagando. — Informou ele, se calando e aproveitei para também ficar só com meus pensamentos, em silêncio.

Então, aquela mulher durona, era a herdeira e trabalhou duro para crescer e chegar ao posto que está. Mas está trabalhando, praticamente, para pagar dívidas, por quê? Ele desembolsou um capital enorme para comprar a empresa, para onde foi esse dinheiro? Será que seus pais eram tão perdulários, que simplesmente saíram gastando sem se preocupar se tinham reserva ou não? Era um caso a pesquisar. Chegamos.

— Aqui está, senhor.

— Só mais uma pergunta, quantos anos a senhorita Cléia tem?

— 34, Dom, e nos últimos dois, tentou de todas as formas convencer os pais a se aquietar e viver uma vida mais tranquila, sem tantas viagens e gastos, mas não adiantou. Parece, também, que o antigo CEO, andou metendo a mão na cumbuca, se é que me entende.

— Sim, isso eu entendo, só não entendo como podem ter gastado tanto, em tão pouco tempo. — Ele abriu a porta e eu desci.

— Eles gastaram a vida toda e a venda, pagou só uma parte dos gastos de anos, além de deixar a firma no buraco. — Explicou ele.

— E Cléia arcou com tudo. É uma pena, os auditores ainda estão examinando as contas, vamos ver o que encontram. Boa noite, Carlos, obrigado pelas informações.

— Boa noite, Dom e bom descanso. Amanhã, estarei aqui às oito. — Se despediu e entrou no carro, assim que entrei no elevador, indo para a cobertura.

Cléia

Que dia estranho

.

Esperei com tanta ansiedade pelo novo presidente e CEO da empresa e fui surpreendida por um homem que sequer olhou para mim. Mas tudo bem, meu foco agora é não perder o emprego, ainda falta um ano para terminar de pagar o empréstimo que fiz para quitar a dívida de meus pais. Precisei juntar tudo o que tinha, vender os imóveis, dispôr da herança de minha avó e mesmo assim, ainda precisei pegar um empréstimo que leva 60% do meu salário, todo mês.

Ninguém imagina que levo quase uma hora de casa para o trabalho e vice-versa. Não posso nem pensar em perder o ônibus, mesmo cheio, se não, me atraso. Por isso, saio sempre mais cedo de casa. Na verdade, é uma quitinete que eu mesma limpo e faço minha comida. É muito dispendioso ser secretária executiva, pois tenho que estar sempre elegante e com boa aparência. O que significa, cabeleireiro, manicure, depiladora, esteticista e uma alimentação regrada, para manter a silhueta, o que no meu caso é bem difícil.

Desci do ônibus, com a minha enorme bolsa no ombro e andei até a ruazinha do subúrbio onde moro. Levo essa bolsa enorme, pois sempre troco os sapatos por sapatilhas, não daria para enfrentar o caminho de volta para casa, com aqueles saltos. Finalmente entrei em casa, tirei as sapatilhas logo na entrada e coloquei a bolsa sobre a mesinha, com as chaves da porta que tranquei.

Estou tão cansada hoje, que só queria tomar banho e dormir. Vou até a geladeira e não tem nada que me anime. Peguei uma cenoura e uma maçã e vou para o quarto comendo, uma mordida em cada uma, por vez. Sentei na cama, terminando de comer e analisando o dia. Aquele CEO é eficiente, mas ainda terá muito trabalho para pôr as contas em dia.

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