A viagem de barco partiu do cais no Burgo para a Malvidea, uma pequena ilha em forma de ferradura na Região das Ilhas, esse local era amplo e com mais de mil ilhas espalhadas pela longa extensão de água. Algumas dessas elevações de terra tinham o tamanho do meu quarto e outras abrigavam cidades imensas, no geral, eram responsáveis por abastecer alimentos para o restante de Domínio, desde a Cidade do Minério, que na verdade tinha mais de 50 milhões em metros quadrados de extensão e o Burgo.
- Não acredito que comemos o que é feito aqui - eu bufei enquanto descia da balsa - o que essa ilha produz?
- Gordura de baleia\, no geral\, mas melhor tomar cuidado com o que diz - Dominic apontou com a caneta na direção de um grupo de sujeitos mal encarados.
- Eles não mexeriam com uma sentinela. Mesmo sendo outra espécie.
Passamos por uma ponte que mal nos aguentava por um pequeno corredor entre as rochas até a vila do outro lado. Atrás dela uma montanha gigantesca e bifurcada se mantinha ameaçadora.
A vila era, com certeza, muito pior do que posso descrever, construções antigas em madeira e ferro com vidros quebrados e o chão de terra se transformara em lama diante da umidade eterna da ilha, onde não era lama eram paralelepípedos escorregadios. As cores eram um misto de marrom com cinza e estava nos prédios, nas roupas e na natureza em volta, Dom andava tão perto de mim que tropeçava vez ou outra nos meus sapatos, mais a frente havia uma colina que tivemos que subir quase até a metade.
Certamente sentinelas não deviam usar scarpins de salto agulha.
Entre as pedras altas da colina, não era preciso esforço para perceber o animal gigantesco caído no chão com a barriga para cima e a cabeça jogada para trás, a asa direita cobrindo parte de seu corpo.
O guarda local estava apoiado com as garras na pedra e o corpo inclinado.
- Estômago fraco - sussurrei para Dom.
- O cheiro não está ajudando.
Tirei um par de luvas de borracha do bolso e as vesti, cobri o nariz e a boca com o cachecol antes de me aproximar.
- Ele não está doente.
Minha atenção foi atraída para um homem abaixado ao lado da cabeça do animal.
- Isso ainda não sabemos.
- O primeiro sinal de doença é nos dentes\, os dele estão saudáveis.
- Você deve ser o criptozoologo.
Ele se levantou, era maior e mais largo do que aparentava, seus cabelos ruivos circulavam seu rosto em cachos alinhados e seus olhos de um azul profundo que facilmente me causaram arrepios. O sotaque deixava clara sua origem, extremo norte, se ainda vivesse lá seria um ótimo ferreiro com esses braços fortes. Aliás, tudo nele era forte.
- Sim\, Hamish Gallacher - ele estendeu a mão para mim e eu hesitei\, aquele homem poderia quebrar meus dedos sem esforço – eu comando o arquipélago.
- Moira Clark - segurei sua mão\, foi firme mas leve\, isso me surpreendeu - sentinela\, esse é meu assistente Dominic Ioannou.
- Gostaria de dizer que é um prazer mas nessas condições - ele olhou com pesar para o animal.
Era magnífico, uma fera, mas ainda assim magnífico.
- Pode me dizer a causa da morte?
- Não\, assim como o outro\, nenhum indício\, parece ter simplesmente caído.
Eu me abaixei perto do corpo, haviam marcas de garras em suas asas e a pele em volta descascava. Meu olho treinado facilmente viu a discrepância.
- E isso?
- Provavelmente alguma caça tentando se defender\, não foi suficiente para feri-lo a tal ponto.
- Me ajude a levantar a asa.
Eu puxei o membro do animal com a ajuda de Dom, era pesado demais para nós, mas quando Hamish a segurou e empurrou para cima pareceu leve em sua mão.
- Como eu pensei - me inclinei e estendi a mão para Dom que fazia estardalhaço com a bolsa de onde tirou uma lupa - tem marcas aqui\, eu já vi isso em algum lugar - disse inspecionando a asa.
- Tem certeza? para mim são só veias\, vamos terminar logo e sair daqui\, por favor - Dom reclamou atrás de mim\, ele parecia muito mais incomodado que eu nesse lugar.
Eu passei o dedo sobre as marcas e a pele se desfez sob a luva.
- Aqui\, Dom. Me ajude.
- Com o quê? Não trouxemos material para isso\, o Sr. Semyonova foi bem claro em suas instruções.
- Você tem uma dessas vassourinhas de escavação? - perguntei ao especialista que estava olhando a asa do animal de perto.
- Pegue - Hamish me entregou um enorme canivete que devia pesar cerca de um quilo\, com mais compartimentos que eu podia contar\, ele apertou a base várias vezes até sair algo mais parecido com uma escova de dentes.
- Escova de limpeza - ele me entregou o objeto\, mas meus olhos estavam fixos em suas mãos\, grandes\, fortes e atrativas - aqui está - ele disse um pouco alto demais.
- Obrigada - ignorei minhas bochechas queimando e me abaixei perto da asa\, passando a escova pela pele do animal que se desfez como cinzas revelando símbolos embaixo - parecem hieróglifos.
- Conhece essa língua? - Hamish se curvava sobre mim\, o cheiro de sua colônia me entorpecia e quase bloqueava o cheiro forte do dragão\, isso se eu conseguisse respirar com sua presença tão perto de mim.
- Não\, parece antiga. Dom\, fotografe isso.
Hamish se afastou, assim como eu, dando espaço para que Dominic registrasse toda a asa e outras partes do animal.
- Sabe o que isso significa\, Srta. Clark?
- Sim\, esse Dragão foi assassinado por meio de feitiçaria.
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Atualizado até capítulo 132
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