Vicente ficou dois dias sem ver Sophia. Ela havia avisado que começaria a trabalhar no dia seguinte e não queria se complicar logo no começo, então precisava ficar e aprender. Ele a respeitava, então esperou um sinal da humana de que poderiam se ver novamente.
Mas sua paciência se limitava apenas a Sophia e quando foi confrontado por Samuel, para explicar os motivos pelo qual bateu em Victor, quase o matando no processo, não ficou nada tranquilo. Já desconfiava que aquela conversa aconteceria e que o tom seria de cobrança, com a preocupação em manter o que eram em segredo, então as defesas estavam levantadas. Não tinha interesse em se explicar, em tentar entender porque era daquela forma e não seria Samuel a desvendar aquelas questões.
Assim que chegou na casa de Samuel e Viviane, sentado entre os metamorfos, enquanto a humana observava também muito próxima, se sentiu ainda mais desconfortável com a situação.
- Por que fez aquilo com o humano? Sabe a importância de termos que ficar controlados, sem chamar atenção demais, mais do que já fazemos naturalmente. - disse Samuel, quando os três estavam em seus lugares.
- Ele me provocou! - disse Vicente, mais nervoso do que achou que ficaria,estando ali sentado naquela mesa com os outros dois metamorfos o encarando, além da humana Viviane, alma gêmea de Samuel, que parecia aflita assistindo aquela conversa.
- E isso lhe dava o direito de quase matá-lo com socos? Você o espancou Vicente! O deixou inconsciente! Sabe que ele está no hospital, ainda desacordado?
- Foi vê-lo? - perguntou o mais novo, surpreso.
- Claro que fui! Precisava saber em que situação estávamos. Como ele ainda não acordou, não tem como acusá-lo de nada, ainda.
- Ele não vai me acusar de nada.
- Como tem tanta certeza?
- Não é a primeira vez, Samuel. Pensei que a essa altura James já teria contado. Sempre estivemos envolvidos em brigas, Victor e eu. Então relaxe. Ele está vivo, você mesmo viu.
- Realmente acha que isso justifica?
Samuel sabia que não devia se surpreender. Nenhum deles tinha um temperamento tranquilo e Vicente era o pior dos três. Ele relevava porque sabia por tudo que o outro passou, tendo apenas 18 anos, mas ainda se surpreendia em vê-lo tão calmo, sem remorso, ao falar em bater em alguém que obviamente não tinha chance alguma contra alguém como ele.
- Sim, acho! Ouça Samuel, Victor é uma desavença desde o ensino médio. O babaca me provoca sempre que pode e eu sempre revido. Passei um pouco dos limites ontem, mas nós dois sabemos que eu nunca deixo barato.
- Isso é verdade. - disse James, ganhando um olhar irritado de Samuel ao intervir a favor do melhor amigo.
- Está do lado dele? - perguntou Samuel, ganhando um olhar exasperado.
- Não é questão de lado. Eu estava com Vicente na escola Samuel, ele falou a verdade. Deveria ter tentado matá-lo por isso? É óbvio que não, mas eu entendo. Às vezes é difícil se segurar com alguém que sempre nos fez mal.
Vicente sorriu, admirado com sua prática e olhou para Viviane.
- O que tem para o café da manhã? - perguntou, ainda sorrindo e ganhando um de volta. Ela estava tão aliviada quanto ele em deixar aquele assunto de lado.
- Café, ovos, bacon e torradas. - respondeu rapidamente, assim que viu Samuel abrir a boca para protestar, pronto para voltar a discussão.
Desistindo ao ver que estava sozinho naquela, o mais velho do grupo suspirou e levantou para ajudar a namorada a colocar a comida que tinham feito na mesa.
Quando contou o que fez para Sophia, no entanto, as coisas foram um pouco diferentes para Vicente. Ela não estava nada feliz com aquilo.
Eles só conseguiram se ver no sábado. Sophia se sentia cansada, principalmente em fingir ser a garota feliz que foi no passado, desejando sua cama, mas ao mesmo tempo sentia falta da paz que apenas aquela cidadezinha e Vicente pareciam conseguir transmitir a ela, então não hesitou em chamar o metamorfo quando foi avisada da folga. Eles se encontraram direto na casa dele, para jantarem juntos.
Ela não esperava ser bombardeada com aquela notícia nada boa.
- Você fez o que?! - disse Sophia, levantando da cadeira. Era a primeira vez que Vicente a via tão irritada.
- Está tudo bem, Sophia. Ele está vivo. - disse Vicente, mas se assustou ao vê-la virar as costas para ele e seguir para a sala.
- Ah, isso me deixa tão tranquila.
O sarcasmo transbordava em sua fala, mas Vicente estava mais preocupado com o fato de que ela seguia em direção a bolsa e as chaves que tinha deixado em seu sofá.
- Sophia, não vá! Não precisa sair assim, vamos conversar…
- Sobre o que? Como quase matou aquele cara?
- Eu não ia matá-lo.
- Como sabe disso? Porque pelo que me contou, se não fosse por Samuel e James aparecerem, você iria continuar batendo.
Vicente suspirou, não tendo dúvidas de que ela estava certa, mas ainda querendo evitar um afastamento.
- Me desculpe. Eu vou me esforçar para mudar.
Foi a vez de Sophia suspirar, mas largou suas coisas e se aproximou do metamorfo, colocando a mão em seu peito.
- Eu não quero que mude para mim. - sussurrou.
Vicente ficou confuso, sem saber o que fazer com aquela nova informação.
- Então o que quer? Eu… faço o que você quiser.
Vicente nunca se imaginou dizendo aquilo por alguém, mas quando falou aquelas palavras tão verdadeiras, sabia que estava fazendo a coisa certa, pela pessoa que realmente merecia. As palavras que vieram dela, comprovaram tudo isso.
- Mude por você mesmo. Se acha que vai se sentir melhor mudando, então tente fazer isso. Eu sei o que é mudar por alguém, só porque alguém espera que eu mude, e é horrível. Não desejo o mesmo para ninguém.
Sophia sorriu ao ver o olhar irritado que surgiu no belo rosto masculino.
- Não se compare com aquela coisa! Você é muito melhor e eu quero ficar com você. - disse Vicente, voltando a sorrir ao ver o sorriso brincalhão surgir nela.
- Quer ficar comigo por que eu sou melhor do que um vampiro?
- Exatamente!
Os dois riram e Vicente a puxou contra ele, lhe dando um beijo no rosto.
- Me perdoa? - perguntou o metamorfo, ainda abraçado a ela, se afastando o suficiente apenas para conseguir encará-la.
- Não vai mais espancar ninguém, vai?
- Só seu ex, se ele aparecer de novo pela cidade. Pode ser?
Rindo, Sophia concordou, o puxando para um beijo que sabia que ele esteve se segurando para lhe dar desde que entrou pela porta.
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Atualizado até capítulo 70
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