Sophia estava cansada da dor, do desespero, da solidão que parecia não ter fim. Desde que havia sido abandonada por seu namorado Rafael, de forma humilhante, sem chances de sequer absorver completamente aquelas palavras, que a deixaram se sentindo um lixo, um nada, Sophia não conseguia mais ser ela mesma, apesar de saber que as coisas precisavam mudar, o mais breve possível, antes que enlouquecesse de vez.
Ela era apenas uma jovem humana, em um mundo insano, repleto de criaturas perigosas e capazes de destruí-la, não apenas com os dentes como acabou descobrindo, mas estava na hora de seguir em frente.
Sophia tinha acabado de se formar no Ensino Médio, estava com 18 anos e tinha namorado um vampiro por longos dois anos. Ou melhor, tinha sido um brinquedo por longos dois anos, que só se encerraram porque ele tinha se cansado. Era hora de procurar outras diversões, tinha dito ele ao se despedir, lhe deixando uma mordida de despedida. Sophia quase desejou não ter ido visitá-lo como ele pediu - coisa que nunca fazia -, mas fosse naquele dia ou não, em algum momento aquela despedida chegaria.
Às vezes se perguntava porque eles tinham que se revelar para o mundo justo na vez dela de ser adulta, mas não encontrava resposta e talvez nem houvesse uma de verdade. O fato era que tinha sido ingênua suficiente para cair nas garras de um deles.
Para sua sorte, ou não, resolveu ir até a cidade vizinha, o único lugar onde não havia nada para lhe lembrar daqueles que a magoaram e lhe possibilitaram seus momentos de tranquilidade, com o mar à sua frente.
Ela caminhou por algum tempo pela praia, antes de se sentar na areia e ficar ali, respirando e se sentindo mais calma a cada segundo, acompanhada apenas pelo barulho do mar.
- Ei\, você não deveria estar aqui. - disse uma voz masculina\, a tirando de sua própria mente.
Sophia se virou surpresa, vendo um dos homens nativos daquele lugar. Ele parecia enorme mesmo à distância, com belos músculos e a pele bronzeada.
- E por que isso? - perguntou ela\, levantando enquanto ele se aproximava\, parecendo ainda maior perto dos 1.59 de altura dela.
- Porque pessoas como você não são bem-vindas aqui.
- Por que sou da cidade aqui do lado?
Ele riu, debochado.
- Porque anda com as criaturas noturnas. Seus seguidores não são bem-vindos nas nossas terras.
- Ah!
Sophia o encara chocada, lembrando de sua conversa com seu velho amigo Lucas, de meses atrás.
- E você sabe exatamente de quem estou falando. - continuou ele\, não tirando o sorriso debochado do rosto\, nem mesmo com o curto momento em que deixou a tristeza transparecer.
Sophia balançou a cabeça, afastando pensamentos ruins, que só serviriam para lhe afundar de novo. Estava na hora de mudar e ela começaria com o belo rapaz a sua frente.
- Eu sou Sophia Flores. - disse\, lhe estendendo a mão e sorrindo com a surpresa nos olhos cinzentos do homem lobo enorme à sua frente. Não sabia que era capaz de surpreender algum deles\, mesmo que não fossem vampiros. Todos os seres sobrenaturais que havia conhecido tinham lhe passado a impressão de durões\, indestrutíveis\, incluindo as hipnotizantes fadas.
- Hum... Vicente Ramos. - disse ele\, parecendo desconfiado de repente\, mas aceitando sua mão.
Sophia sentiu o conforto ao apertar a mão quente de Vicente, mas depois de tudo que passou o melhor era ignorar qualquer reação de seu corpo ao encontrar um homem bonito, alto e sexy sem fazer esforço, como o que estava a sua frente naquele exato momento.
- É um prazer conhecer você\, Vicente. Agora\, o que acha de me mostrar a cidade? Faz um tempo desde que andei por aqui\, já que costumo ficar apenas na praia.
- Só pode estar brincando!
- Bem\, eu perdi os poucos amigos que eu tinha\, então pensei que poderia encontrar alguns novos. Não é algo ruim\, é?
Sophia não percebeu, mas o que disse pareceu despertar algo em Vicente, que suspirou, desistindo, e, aproveitando que não tinha largado a mão dela, para puxá-la por onde tinha vindo. Poderia abrir uma exceção, principalmente para uma mulher tão jovem e que já mostrava tanta dor quanto ele. Humana, destacou em sua mente, tentando se lembrar de tomar cuidado, por ela e por ele mesmo.
- Tá legal\, mas precisamos estabelecer algumas regras Flores.
- Tipo quais?
- Tipo não fale com ninguém que não conheça por aqui. Nem todos são incríveis como eu.
Sophia se surpreendeu ao rir, enquanto Vicente a encarou, se surpreendendo ao achá-la tão bonita naquele momento. Ela deveria rir mais, não tinha dúvidas. Ela era pequena, perto dele claro, com longos cabelos pretos e lisos, além de olhos verdes que o fascinavam naquele momento. Sentia como se pudesse se perder ali, pelo tempo que Sophia deixasse.
- Se eu ver algum amigo meu pelo caminho\, fingimos que não nos conhecemos\, nem gostamos um do outro. Entendido? - continuou\, tentando ignorar aquelas sensações desconhecidas e que não deviam ser bem-vindas. Já tinha se magoado o suficiente para uma vida\, não precisava arriscar tudo de novo\, por mais uma humana.
- Entendi e eu digo o mesmo.
- Pensei que não conhecesse ninguém aqui - afirmou\, tentando parecer desconfiado\, embora estivesse lutando para tirar os olhos da bunda perfeita naqueles jeans apertados\, que ela lhe mostrou ao se virar\, parecendo procurar algo\, embora Vicente desconfiasse que estava apenas pensando.
- Só alguns amigos do meu pai e os Bissoli.
- Ahh\, é claro que sim. Eu devia saber que era próxima ao filhote.
- Filhote? Lucas também… - Sophia parou antes que falasse demais. Duvidava que Vicente fosse tão amigável se contasse que sabia o que ele era\, por uma fonte suficientemente segura. Afinal\, diferente dos vampiros e dos lobisomens\, os metamorfos não costumavam ficar se exibindo por aí. Só tinha faltado arrastá-la de volta para a cidade dela quando a viu na praia. Sophia se perguntou se até mesmo eles\, os vampiros e lobisomens\, tinham conhecimento da existência daqueles seres\, que eram mais fortes do que pareciam -\, ela o observou mais uma vez\, tentando não chamar atenção para aquilo\, vendo os músculos de perto\, e tudo que se apertava naquele jeans.
Não sabia que gostava de corpos definidos até conhecer Vicente.
Quando Vicente parou, Sophia o imitou e esperou, paciente, tentando transparecer calma.
- O que sabe sobre isso? - perguntou ele\, encarando Sophia com aqueles olhos cinzentos. Por um segundo tinha pensado que fossem azuis\, mas eram tão claros que pareciam realmente cinza.
- O suficiente\, mas não vou contar para ninguém. Não é como se alguém fosse acreditar de qualquer jeito. A maluca Flores\, que depois de se envolver com um vampiro de verdade\, está vendo mais do que deveria sobre metamorfos também. Vocês são discretos para que sua existência seja praticamente ignorada e não pretendo mudar isso\, não me diz respeito.
Ela então sorriu sem graça, enquanto Vicente não conseguiu achar graça nenhuma.
- Acho que posso abrir uma exceção. - disse Vicente\, mais para si mesmo que para a pequena mulher a sua frente.
- Do que está falando?
- Vamos Flores\, temos muito o que conversar.
Ele a puxou para que caminhasse ao seu lado e, para surpresa da humana, eles realmente conversaram.
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Atualizado até capítulo 70
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