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Gustavo narrando

Tentei ligar para a minha mãe durante o dia e ela não atendeu, não fazia muito que ela respondeu dizendo que tinha dormido e acordado agora e já era quase 23h da noite.

Tentei ligar para Ruan para conversar com ele mas também não adiantou de nada, Ruan e a nossa mãe não precisava de telefone nunca usava eles.

Ainda estava com Marcos na minha cabeça e eu precisava achar um geito de pegar ele é jogar na cadeia, para assim dar paz para a minha mãe, Ruan está do jeito que tá por causa dele. Paro o carro na sinaleira em frente ao shopping a onde a minha mãe tinha a loja, Maria passa correndo na faixa tentando atacar o ônibus mas o ônibus passa direto, vejo que ela chinga é se senta na parada.

- Oi - Eu falo depois que estacionou o carro e desço e ela me encara - Você quer uma carona?

- Não precisa - Ela diz mechendo no celular - Daqui a pouco deve ter outro ônibus.

- Você vai ficar aí sozinha? - Eu respondo - Já é tarde e é perigoso\, O alemão fica no caminho da minha casa\, posso te deixar lá sem problema nenhum.

- Não sei se meu pai iria gostar - Ela fala

- Ele não vai saber - Eu falo - Diz que e uber - Ela me olha e olha o carro.

- Não sei se donos de carro assim fazem uber - Ela diz

- Fica tranquila - Eu falo - Tia Rayssa não vai ver problema nenhum\, e só uma carona\, certo?

O problema não era o Mateus e sim o Marcos que ia encher o saco do Mateus por causa que eu levei ela, mas eu ia levar, não ia deixar a garota aqui sozinha.

- Você tá gostando de trabalhar na loja? - Eu falo

- Estou sim - Ela diz - Tia Natália é ótima.

- Você tá estudando de manhã\, não está? - Eu pergunto

- Sim - Ela fala - direito.

- Direito? - Falo surpreso.

- Só porque moro na favela e sou filha de traficante\, Eu não posso? - Ela pergunta na lata.

- Não disse isso - Eu respondo

- Pelo tom de surpresa - Ela diz

- Você que está insinuando isso - Eu falo - Tem muita gente lá dentro que não é bandido\, que cresce lá\, minha mãe cresceu lá e eu nasci lá também.

- Tá certo - Ela diz - Mas você nunca voltou para lá\, ao contrário de Ruan.

- Com a profissão que eu tenho\, acho que não sou bem vindo lá  - Eu falo para ela

- Me deixa aqui - Ela diz

- Ainda está longe - Eu falo

- Apenas duas ruas - Ela responde - Caminhar faz bem para a alma.

- Tudo bem - Eu respondo - Se cuida então até chegar lá.

- Fica tranquilo \, ninguém vai me fazer mal - Ela diz - Já tem vapor para todo o lado e como você disse você não é bem vindo aqui e eles já devem saber que você está dentro desse carro.

- Não tenho medo disso - Eu respondo - Eu sei os riscos que corro\, mas jamais deixaria você lá sozinha a noite esperando um ônibus.

- Obrigada por isso - Ela diz sorrindo - O próximo ônibus iria demorar bastante - Eu sorrio.

- Então acho que apareci na hora certa - Eu falo sorrindo e ela assente.

- Tenho certeza que sim - Ela diz me olhando.

Nos encaramos por mais alguns segundos.

- Obrigada Gustavo  - Ela fala sorrindo - Boa noite.

- Boa noite - Eu falo para ela e líbero as portas e ela desce.

Acompanho ela com os olhos até ela sumir da rua e depois ligo o carro, novamente vejo Ruan com os mesmos garotos e na mesma rua fumando maconha.

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Natália narrando

Gustavo tinha saído cedo e eu estava aproveitando para dar uma auditada na casa, por mais que estivesse a faxineira, eu gostava de arrumar de vez enquanto eu mesmo a casa. Por mais que eu tivesse dinheiro, eu não gostava de esbanjar e não mudei a rotina da minha vida, minha casa era aconchegante , com tudo do bom e do melhor mas era uma casa pequena, de três quartos, era a mais simples do condomínio. Eu tiro o meu colar e coloco encima da bancada da sala.

- Oi mãe  - Ruan fala entrando na porta

- Oi meu filho  - Eu falo

- Tudo bem? - Ele diz me abraçando

- Sim e você? - Eu pergunto para ele - Semana que vem quem vai fazer 18 anos? - Ele sorri

- Quero fazer um churrasco  - Ele fala

- Claro  - Eu falo - Já pensei em tudo\, chama seus amigos\, tia Rayssa\, você pode montar um palco\, show\, contrato gente para assar a carne\, barman para as bebidas.

- No alemão mãe  - Ele fala e eu encaro ele - Meu pai já arrumou tudo.

- Mas você sempre comemora seu aniversário aqui? - Eu falo para ele

- Por isso mesmo - Ele diz - Vai ser uma única vez lá.

- Seu irmão não vai ir - Eu falo

- E aqui ele iria esta? Até porque ele vive ocupado com o trabalho - Ele diz - Gustavo mudou muito mãe\, ele não iria participar mesmo que fosse aqui.

- Vai ser na casa do Marcos? - Eu pergunto

- Na tia Rayssa - Ele fala

- Podemos comemorar a noite aqui nos três então - Eu falo

- O churrasco começa de meio dia e termina só a noite - Ele fala

- No outro dia? - Eu pergunto

- Já tenho show  - Ele diz - Você vai ir não é mesmo?

- Claro - Eu falo para ele e ele sorri - Vou na cozinha tomar uma água.

Lavo o meu rosto e seguro as lágrimas para não caírem, não acredito que ele ia fazer o aniversário dele lá. Será que era muito egoísmo meu ficar mal por causa disso?

- Eu já vou indo - Ele fala entrando na cozinha

- Se cuida filho- Eu falo

- Te amo mãe - Ele diz

- Eu também  - Eu falo e ele me abraça e sai pela porta da cozinha mesmo e bem rápido.

Senti ele inquieto de mais agora e ele quase saiu fugindo de dentro de casa. Eu acho que ele percebeu que eu tinha ficado mal com essa história.

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