Somos conduzidas a um grande alojamento, uma estrutura imponente que se ergue contra o céu alienígena. As paredes são feitas de um material que parece capturar e refletir a luz de maneiras fascinantes, criando um efeito caleidoscópico que é ao mesmo tempo belo e um pouco desorientador.
Ao entrarmos, somos recebidas por um grupo de alienígenas que parecem ser uma espécie de comitê de boas-vindas. Eles nos entregam cobertores grossos e macios, tão diferentes dos trapos ásperos a que estávamos acostumadas. O toque suave do tecido contra minha pele é quase chocante em sua gentileza.
"Bem-vindas ao seu novo lar", diz um dos alienígenas, sua voz traduzida suavemente pelo dispositivo em minha orelha. "Sabemos que vocês passaram por muito. Aqui, esperamos que possam encontrar paz e um novo começo."
As palavras são bonitas, cheias de promessa, mas anos de abuso e traição tornaram difícil acreditar nelas completamente. Busco refúgio no canto mais distante do alojamento, enroscando-me em uma bola, na tentativa de me acalmar e permanecer despercebida.
De meu canto, observo as outras mulheres. Algumas parecem tão assustadas quanto eu, seus olhos arregalados e vigilantes, seus corpos tensos como se esperassem um ataque a qualquer momento. Outras parecem mais à vontade, conversando em voz baixa entre si ou com os alienígenas.
Embora tente me manter invisível, sinto os olhares de desdém de algumas das outras mulheres. Suas vozes chegam até mim, carregadas de amargura e ressentimento.
"Olhem para ela", ouço uma delas sussurrar. "Agindo como se fosse a única que sofreu."
"Provavelmente era a favorita do mestre", outra responde com veneno na voz. "Aposto que ela recebia tratamento especial enquanto o resto de nós sofria."
Suas palavras me atingem como facadas, cada uma delas ressaltando o abismo de solidão e incompreensão que parece me separar até mesmo daquelas que compartilharam meu cativeiro. Quero gritar, explicar que não era assim, que eu sofri tanto quanto elas, talvez até mais. Mas as palavras ficam presas em minha garganta, sufocadas pelo medo e pela vergonha.
Fecho os olhos com força, tentando bloquear as vozes, as memórias, o medo que ainda se agarra a mim como uma segunda pele. Tento me concentrar na maciez do cobertor, no ar fresco que entra pelas janelas, na promessa de segurança que este novo mundo oferece.
Mas é difícil. O trauma não desaparece da noite para o dia, não importa quão seguro o ambiente possa ser. Cada sombra ainda parece esconder uma ameaça, cada som repentino me faz estremecer. A liberdade, tão ansiada por tanto tempo, agora parece quase assustadora em sua vastidão.
No entanto, em meio ao turbilhão de emoções conflitantes, sinto uma pequena centelha de esperança começar a se acender em meu peito. É frágil, vacilante, mas está lá. A esperança de que, talvez, com o tempo, eu possa aprender a confiar novamente. A esperança de que as feridas em minha alma possam, eventualmente, começar a cicatrizar.
Abrigo essa esperança, por menor que seja, como uma chama preciosa contra a escuridão. Porque agora, pela primeira vez em muito tempo, tenho a chance de um novo começo. Um futuro que, embora incerto e assustador, é meu para moldar.
Enquanto o dia avança para a noite neste mundo alienígena, me permito, pela primeira vez em anos, sonhar com possibilidades. Com um amanhã que pode ser diferente, melhor. E embora o medo ainda esteja lá, sussurrando nas sombras da minha mente, permito-me acreditar que talvez, apenas talvez, eu possa encontrar a força para enfrentá-lo.
Neste novo mundo, sob este céu estranho e belo, começo a dar os primeiros passos hesitantes em direção à cura, à recuperação, à redescoberta de quem sou além do rótulo de vítima. É uma jornada que sei que será longa e difícil, cheia de recaídas e momentos de dúvida. Mas é uma jornada que, finalmente, tenho a liberdade de empreender.
E assim, enrolada em meu cobertor macio, em meu canto do alojamento, fecho os olhos e me permito ter esperança. Esperança de que este novo mundo possa se tornar um lar. Esperança de que eu possa, um dia, me sentir inteira novamente. Esperança de que, apesar de tudo que passei, ainda haja um futuro para mim.
Com esses pensamentos, deixo o cansaço me envolver, caindo em um sono que, pela primeira vez em muito tempo, não é atormentado por pesadelos. Em vez disso, sonho com campos verdejantes, céus azuis e a promessa de um novo amanhecer.
( isso é só um prólogo de como Lucy foi resgatada, o resto da história está no livro lótus da saga flores da terra o segundo livro e miosótis e tem mais dois no mesmo universo deles)
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Comments
Ivania Ferreira da Silva
já li o livro...é uma estória maravilhosa, ainda que angustiante e triste...mas o final é surpreendente feliz...amei
2025-01-11
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