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Passo a noite inquieta, oscilando entre períodos de sono agitado e momentos de vigília ansiosa. Cada ruído me faz estremecer, cada movimento nas sombras me faz temer que meu mestre tenha de alguma forma me encontrado.

Quando a manhã finalmente chega, sinto-me exausta, mas estranhamente esperançosa. A luz do sol alienígena se infiltra pelas janelas, pintando o dormitório com tons de azul e verde que nunca vi antes.

Uma das alienígenas entra no dormitório, sua presença imediatamente acalmando o burburinho de conversas nervosas. "Bom dia a todas," ela diz, sua voz suave mas firme. "Hoje é o dia em que vocês darão seus primeiros passos em seu novo lar. Por favor, sigam-me."

Lentamente, uma a uma, nós nos levantamos e a seguimos. Algumas mulheres andam com confiança, outras, como eu, com passos hesitantes e temerosos. Somos levadas por corredores luminosos até chegarmos a uma grande porta.

"Além desta porta," a alienígena explica, "está o seu novo mundo. Tomem um momento para se prepararem."

Há uma pausa tensa enquanto todas nós processamos suas palavras. Então, lentamente, a porta se abre, revelando um mundo além de qualquer coisa que já tenhamos visto.

Após a última mulher sair do consultório, temos permissão de sair da nave. Dou um passo hesitante para fora, meus pés tocando o solo deste novo mundo pela primeira vez. Inalo profundamente, enchendo meus pulmões até a capacidade máxima com o ar fresco e puro deste lugar ainda desconhecido para mim.

Horas se passaram desde que fizemos nosso pouso forçado neste lugar, um grupo de mulheres cujas almas foram resgatadas de um planeta desolado e árido. Lá, a areia era uma presença constante, invasiva, cobrindo cada centímetro de espaço como um manto sufocante, e nós éramos mantidas sob o jugo da escravidão.

Este novo ambiente é um contraponto vibrante ao deserto que deixamos para trás; é um oásis de vida onde árvores majestosas desafiam a gravidade, estendendo-se em direção ao céu azul límpido, enquanto uma vegetação rica e diversificada se espalha até onde a vista alcança. O ar aqui é tão puro que parece tecer em torno de mim um manto de alívio e renovação.

O impacto visual e sensorial de estar cercada por tanta vida e cor, após anos submersa em um mundo de desolação e areia, é avassalador. Fico imóvel, paralisada, aspirando o ar com avidez, permitindo que a esperança, como uma fonte recém-descoberta, flua para dentro de mim com cada respiração.

Sim, o medo ainda se faz presente, uma sombra persistente em minha mente, questionando se algum dia serei capaz de me desvencilhar completamente dele - o medo de ser arrastada de volta àquele inferno, ao mestre cruel que nos dominava. Porém, posso sentir que o medo está se tornando quase insignificante por um momento, eclipsado pela doce liberdade de saber que nosso opressor está agora a incontáveis anos-luz de distância.

Entre as mulheres que compartilham meu destino, um murmúrio constante de conversas e especulações enche o ar, discutindo sobre a possibilidade de retornar aos seus planetas natais. Algumas, embriagadas por uma alegria palpável, já fazem planos para reencontrar seus lares e entes queridos.

Outras, assim como eu, se veem diante da realidade de que tal opção não existe. Meu planeta, a Terra, é um enigma para nossos salvadores alienígenas, tão remoto e desconhecido que a ideia de me enviar de volta é considerada impraticável.

No começo, essa verdade me devastou. A saudade por meu tio, o último vínculo com minha família, apertou meu coração com uma força descomunal. E quando supliquei por uma chance de retorno, eles me explicaram com gentileza que a Terra era praticamente invisível para as raças mais avançadas, exceto para aqueles caçadores de escravos que visavam seres de mundos menos desenvolvidos como o meu.

"Tenha paciência", eles pediram, suas vozes cheias de compaixão. "Um dia, talvez encontremos uma maneira de levá-la de volta. Mas por enquanto, este é o lugar mais seguro para você."

A lembrança da noite em que fui arrancada da Terra ainda é vívida em minha memória. Era uma noite de chuva intensa, como se os céus chorassem em desespero, ecoando meu próprio desalento. Eu tinha discutido com meu tio por algo tão trivial que agora me escapa completamente da memória.

"Você nunca pensa nos outros!", meu tio havia gritado, seu rosto vermelho de raiva. "Sempre tão egoísta!"

Suas palavras me cortaram profundamente, embora agora eu entenda que eram mais fruto de sua própria frustração do que uma verdade sobre mim. "Você não me entende!", eu havia retrucado, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Nunca tenta me entender!"

Necessitando de um momento de solidão, saí sem avisar, caminhando em direção à biblioteca. As ruas, vazias e silenciosas sob o manto da chuva, pareciam espelhar minha própria melancolia. Gotas grossas de chuva misturavam-se com minhas lágrimas enquanto eu caminhava, perdida em pensamentos de autocomiseração.

Ao cruzar um beco escuro, mal percebi as figuras sombrias que se ocultavam na penumbra. Esse descuido se revelou o maior erro da minha vida. Num piscar de olhos, fui capturada, sentindo uma picada aguda em meu pescoço, e então, a escuridão me envolveu completamente.

Quando recobrei a consciência, me vi cercada por seres estranhos, em uma nave espacial, falando línguas incompreensíveis. A realidade de que havia sido sequestrada e vendida como mercadoria a um ser repulsivo rapidamente se impôs sobre mim.

O terror daqueles primeiros dias em cativeiro era asfixiante, uma sombra perpétua que me seguia a cada momento. Lembro-me da primeira vez que desobedeci ao mestre; a punição foi rápida e brutal, uma lição cruel sobre o verdadeiro significado do medo.

O primeiro golpe me pegou de surpresa, a dor explodindo em minhas costas como fogo líquido. Gritei, um som animalesco que mal reconheci como meu próprio. Os golpes continuaram, cada um pior que o anterior, até que minha garganta estava rouca de tanto gritar e minha pele em carne viva.

Agora, à medida que essas memórias dolorosas ressurgem, faço um esforço consciente para afastá-las. Minha respiração se torna rápida, superficial, enquanto luto contra a constrição em meu peito, uma manifestação física do turbilhão de emoções que me consome. É quase como se estivesse tentando respirar através de um canudo, cada inalação exigindo um esforço descomunal.

Me concentro em um ponto fixo no chão, uma pequena flor alienígena de um azul brilhante que cresce entre as raízes de uma árvore próxima. Foco toda minha atenção nela, nos detalhes de suas pétalas delicadas, na maneira como ela se move suavemente com a brisa. Lentamente, minha respiração começa a se acalmar, o aperto em meu peito diminuindo gradualmente.

Consigo me acalmar o suficiente ao ver um dos guardas alienígenas se aproximando. Seu rosto mostra uma expressão que interpreto como preocupação e compaixão. Ele se aproxima lentamente, como se temesse me assustar.

"Está tudo bem?", ele pergunta gentilmente, sua voz suave e reconfortante. "Percebi que você parecia um pouco... perturbada."

Engulo em seco, tentando encontrar minha voz. "Eu... eu estou bem", consigo murmurar, embora minha voz trema um pouco. "Só... lembranças."

Quando finalmente me acalmo, ele fala novamente. "Vamos. Deixe-me mostrar-lhe seu novo lar."

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Atualizado até capítulo 5

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