A minha história começa com o Fred, tinha tudo pra dar errado. - disse com risada. Eu detestava ele, implicava muito com ele, até ele não aguentar. Primeiro por ele ser um ano mais velho que eu, ou seja, era um menino com quase minha idade e, eu não curtia muito, sempre gostei de cara mais velho. Como não bastasse, por conta desse babaca tive a obrigação de abandonar um dia de diversão com as minhas amigas para uma reunião família com ele e meus pais.
Vou explicar. Para a minha infelicidade o coitadinho tinha acabado de voltar para o Rio depois de quase cinco anos fora do Brasil. A minha mãe que considerava como um sobrinho, por ser muito amiga de sua mãe. Quis mostrar a ele as novidades que surgiu na cidade com esse tempo que ele estava fora, e me pediu para ir junto. Ela era amiga de infância da mãe dele, até estudaram juntas, e nunca perderam esse contato de grande amigas. Sempre achei isso muito legal, levar uma amizade da infância pra vida. Elas são como irmãs até hoje.
O Fred ficou nos Estados Unidos por dois anos e nove meses. Partiu para lá por causa de um intercâmbio de oito meses mas, mas como era bom no “sou mais eu” basquete, acabou arrumando uma bolsa ótima para participar de um time em uma escola bem requisitada. E, para desespero, saudade é muito mimo de sua mãe, na época eu a chamava de tia Sandra, foi ficando, ficando e ficando…
Nós dois nunca se gostamos. Brincávamos, mas não éramos muito próximos, era até divertido, mas era esquisito brincar com ele. Não tínhamos o mesmo interesse, os mesmo interesse. Um exemplo? Numa tarde de muito calor, o idiota me chamou para ir em seu quarto me mostrar uma “coisa anormal”. Fiquei curiosa e fui. O besta tinha colocado uma máscara assustadora, trancou a porta do seu quarto e começou a me assustar.
É por essas e outras que não sei se quero ter filho menino.
Tudo bem que ele tinha uns 10 anos e uns 6 de mentalidade. Mas de jeito nenhum se chama uma menina no seu quarto pra fazer essas brincadeiras, seja ela de qualquer idade.
A gente cresceu, desengonçado, estranho, tímido de mais para o meu gosto. Sem molho e sem sal.
Deu pra perceber o quanto eu era implicante com ele, né?
Além disso, eu implicava muito com essa coisa de intercâmbio, essa história de chamar gente que a gente nunca viu de “pai” ou “mãe”. Óbvio que acho a experiência de conhece outra língua, outra cultura e de fazer novos amigos muito boa… mas eu implico. Sempre tive vontade de viajar e ficar um tempo fora, mas não bancada pela a minha família, sabe?
Queria ir com o meu próprio dinheiro, ou me sustentar trabalhando de qualquer maneira que seja.
Agora que você sabe o meu grau de antipatia com o Fred, deve presumir que eu conseguiria ficar mais dois anos sem ver ele que nem ia sentir falta.
Não estava com a menor vontade ver e ter que sorrir para ele, só pra agradar minha mãe… queria mesmo ter a coragem de me comportar mal durante todo o período que estivesse perto dele.
Mas sempre fui uma ótima filha, e a mamãe, uma fofa.
Nunca me pediu nada. Por isso, decidir que tentaria ser simpática, iria fazer pergunta sobre a viagem e fingiria interesse em saber sobre o basquete.
Por dentro, achando desnecessário dizer que estava achando aquele programa um tédio. O maior do mundo. Ir com os meus pais em uma churrascaria para o Fred matar a saudade do churrasco brasileiro depois de um passeio pela orla até a praia? Lindo o passeio, eu sei. Mas por obrigação? Não sou obrigada a nada!
Além disso tem o fato de eu não ser nada fã de carne vermelha. Mas tudo bem, eu podia ser uma menina simpática por alguns instante. Minha mãe merecia, era uma ótima mãe, e tinha passado comigo, sem reclamar o último sábado todo procurando uma fantasia para uma festa.
Entrei no carro com uma cara nada agradável do lado avesso e a minha cara falsificada fofa, linda e feliz por fora. Partimos em rumo a Ipanema, onde o insuportável, sem sal e sem gosto, estaria a nossa espera.
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Atualizado até capítulo 32
Comments
Camillevit
🔥🔥🔥🔥🔥🔥
2024-08-20
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