Nunca Confie Demais.

Eu acabo dormindo enquanto choro, eles realmente não voltaram para casa. Será que eles pegaram esse dinheiro e fugiram? Será que cansaram de mim? Será que eles realmente não me amam?

Eu durmo pensando nisso e tenho um pesadelo horrível. Nesse pesadelo tem alguém nas sombras tentando me pegar, são mãos com unhas afiadas que brotam das sombras escuras e tentam a todo custo me puxar para o escuro.

E eu tenho medo do escuro. Na verdade tenho pavor... Eu acordo gritando e vejo que já amanheceu. Pela altura que gritei pelo menos a Jocelyn era para ter entrado aqui.

E a casa está silenciosa, ninguém veio até aqui no quarto, então me levanto e saio correndo pelos poucos cômodos que tem. Eles não estão aqui, pelo jeito que está a casa eles nem voltaram para casa na noite passada.

E a certeza de que eles me abandonaram começa a surgir em minha mente e eu me sinto angustiada. Tenho que tomar um banho e sair para vender flores... Como vou fazer isso?

A minha cabeça está nos meus irmãos, eles não fariam isso comigo! Eles não me deixaram desse jeito, não no dia do meu aniversário. Não depois de fazerem uma festinha surpresa para mim... Eu sou obrigada a tomar o meu banho e pegar o dinheiro que eu preciso para comprar as flores.

E eu acabo levando os lucros e colocando na minha bolsa. Estou com medo de perder esse dinheiro também e saio empurrada pela porta para o meu dia de trabalho.

Hoje estou tão distraída que as pessoas para as quais eu já costumo vender flores notam o meu desânimo... E compram mais flores até para poder me animar.

Só que eu não consigo ficar animada, pelo contrário, eu fico cada vez mais chateada porque eu lembro a todo instante o que está acontecendo em minha vida.

Eu estou muito ansiosa para chegar em casa e ver se os meus irmãos já voltaram para casa. Meu coração está muito apertado e dói, estou aqui vendendo flores, o dia está chuvoso e a minha amiga Saori aparece do nada.

Ela é aquele tipo de amiga que some, mas sempre aparece nos dias chuvosos... No começo eu achei isso muito estranho. Mas hoje eu não acho mais... Ela parece ser uma amiga muito boa e conversamos muito.

Eu a conheci faz uns nove meses, eu estava vendendo flores à noite e acabei indo para um lado da cidade que não era para eu ir, mas ainda tinha flores para vender e precisava daquele dinheiro.

Mas fui cercada por um grupo de homens, eram quatro homens, e se não fosse a Saori acho que não estaria mais aqui. Ela apareceu do nada e deu uma surra nos homens e olha que ela é magra e um pouco mais alta que eu. Mas como ela é japonesa creio que tenha aprendido todos os golpes que usou quando era criança.

— Oiiii... O que está acontecendo com você? Da para sentir essa energia estranha a sua volta! Amiga, você quer tomar um sorvete?

— Oi amiga, eu estou péssima. Meus irmãos sumiram ontem a noite e até agora não sei o que pode ter acontecido com eles. Eu não posso ir na delegacia porque onde moramos não é nosso... Nós invadimos o local há alguns anos e ficamos lá.

— Existe a possibilidade deles terem viajado sem te comunicar? Porque eles são adultos, podem ter arrumado algum trabalho em outro bairro ou cidade e não deu tempo de te avisar.

— Não amiga, eles deixariam um bilhete para mim ou até mesmo uma mensagem no celular. Eu já liguei para o celular deles e só dá desligado, meus irmãos não são desse tipo de pessoa que fica com o celular desligado.

— Eu quero te ajudar, mas eu não sei como! Se nem você sabe o que aconteceu com eles ou para onde eles podem ter ido...

— Está tudo bem, você já faz muito em me ouvir... Ficamos ali conversando por um tempo e ela acabou comprando as últimas flores que eu estava segurando e começou a dar para as pessoas a nossa volta.

A Saori é muito graciosa e as pessoas acabam sorrindo quando ela entrega a flor, ela é muito linda e também parece ser rica e digo isso por causa do seu perfume doce e as roupas e jóia que usa. Não sei como ela é minha amiga.

— Vamos tomar sorvete agora?

— Não sei porque você me chama para tomar sorvete, você sempre joga o seu fora dizendo que contém açúcar e gordura demais!

— Eu gosto de ver você saboreando o sorvete, você parece uma criança com doce e me fascina.

Dou um sorriso para ela e caminhamos para a sorveteria. A noite cai e eu mal percebi, pois conversar com a Saori é muito bom e me faz bem. Contei para ela sobre o Bratt e ela disse para mim;

— Você quer que eu dê um jeito nele? Eu posso dar um jeito nele, e esse idiota não poderia ter falado assim com você!

— Não... Está tudo bem. Ele está ressentido porque eu não aceitei ir morar com ele e ser mãe de seus filhos. Saori, agora eu preciso ir... Preciso ver se meus irmãos já estão em casa.

— Esse é o meu número de telefone! Somos amigas a tanto tempo e não te dei meu número ainda e muito menos tenho o seu, quando quiser me ligar ou mandar mensagem pode ser a hora que for, você pode.

— Obrigada.

Enviei uma mensagem para ela poder salvar o meu número e logo assim que cheguei em casa recebi uma mensagem dela perguntando se eu estava bem e se já tinha chegado em casa.

Mas no momento não estou preocupada com isso, estou preocupada com esses dois homens que estão dentro da minha sala e eu não os conheço.

Eles olham para mim de um jeito muito estranho e dizem que eu tenho que acompanha-los se eu quiser ver os meus irmãos vivos. Nesse momento minha vista embaça de lágrimas nos meus olhos, e eu acompanho eles Deus sabe para onde. Eu só quero encontrar meus irmãos.

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