A Decepção Dói.

Eu não posso ficar em casa só porque é o meu aniversário, um dia que eu fico em casa é um dia muito produtivo que eu deixo de fazer. Não posso me dar ao luxo de perder. Meu dia é o mesmo de sempre.

Eu vou até a floricultura compro mais flores para acompanhar as que eu já estou levando e começo a andar próximo aos restaurantes, sorveterias, lanchonetes, saídas de igreja... Eu tenho um certo horário, um mapa que eu fiz para passar por cada um desses lugares no momento que sei que tem casais saindo de cada ambiente diferente.

E assim vou fazendo, o meu dia hoje é um dia daqueles que eu fico até mais tarde. Já passam de oito da noite, eu ainda estou por aqui somente quando eu vendo a última flor que eu decido ir para casa.

Mas tem algo me incomodando, não sei dizer o que é, mas está me incomodando. Eu não estou entendendo essa sensação... E volto para casa. Ao chegar em casa não vejo os meus irmãos aqui, onde eles podem ter ido a uma hora dessas? Quer saber... Estou cansada demais para procurar por eles.

Eu tomo meu banho troco de roupa e me jogo na cama. O meu aniversário passou mais como um dia qualquer, tirando o fato que meus irmãos prepararam um café da manhã de aniversário maravilhoso para mim.

Mas o resto do dia passou como é sempre para mim, andando por quilômetros e quilômetros na rua vendendo flores. Hoje eu consegui vender todas, estou aqui sentada na cama depois do meu banho separando o lucro do dia do que eu preciso para comprar mais material para trabalhar.

Até que o dia foi bem produtivo hoje, abro a gaveta onde eu guardo todo o dinheiro e algo me deixa surpresa... Eu tinha três pacotinhos de dinheiro dobrado dentro dessa gaveta e eles não estão mais aqui.

Eu estava juntando esse dinheiro há sete meses para poder dar um jeito de trabalhar com outra coisa que possa render mais dinheiro, não acredito nisso.

— Como pode ter sumido? Será que os meus irmãos pegaram o dinheiro? Eles não fariam isso comigo! — Falo angustiada.

Eu me levantei da cama e tirei a roupa de dormir que eu estava vestindo e coloquei um vestido com um par de botas que ganhei de uma moça na rua e saio de casa furiosa.

Vou até os lugares que meus irmãos costumam ir encontrar seus amigos, mas não os encontro lá. Eu até perguntei por eles.

— Oi Bratt, você viu a Jocelyn ou o Elliot?

— Hoje não, e eu acho até estranho pois eles não perdem a noite do poker. Mas ainda não apareceram por aqui.

— Você sabe muito bem que não gosto quando vocês chamam eles para jogar poker! Todos vocês sabem que só eu trabalho naquela casa, sabem o que passo o dia inteiro nessa rua e ainda chamam eles para gastar um dinheiro que eles não tem! Isso é uma baita sacanagem da parte de vocês! Eles odeiam ficar tanto tempo dentro de casa, e acham que vão ganhar dinheiro jogando com vocês, mas a única coisa que eles fazem é gastar o dinheiro que eu sofro para ganhar!

— Você sabe muito bem que por mim nós já estaríamos casados e com filhos! E seus irmãos teriam que se virar sozinhos! Eu já disse para você que eles são aproveitadores e não amam você! Se algum dia oferecem dinheiro para eles em troca da sua vida você realmente acha que eles vão escolher você? Acorda Raven, eles não te amam só amam a vida que você proporciona para eles!

— Você não os conhece como eu! Você não passou o que nós passamos, e eu não queria ter beijado você naquela maldita festa! Eu estava bêbada e me sentindo vulnerável... Quanto aos meus irmãos, Elliot me salvou de ser abusada quando eu era apenas uma criança. Coisas assim não dá para esquecer, Bratt. Eles podem ter defeitos, e muitos, mas voltaram naquele maldito lar para menores e me tirou de lá!

— Você realmente é muito inocente. Você acha mesmo que eles voltaram lá por amor a você? Eles voltaram porque sabiam que você poderia ser valiosa para eles. Diz para mim, quantos namorados você teve? Eu respondo... Nenhum! Eles nunca deixaram você namorar, a única coisa que você fez da vida para eles foi trabalhar. Raven, você realmente acreditou que eles estão doentes e não podem trabalhar? Eu tenho pena de você, apesar de ser apaixonado por você e me dói dizer isso.

— Eu... Odeio você!

Saio correndo dali e volto para casa. Estou muito irritada, como o Bratt diz aquelas coisas para mim? Eu não quero ouvir aquelas coisas idiotas que ele disse! Só quero voltar para casa e ver se meus irmãos já voltaram.

Quando chego em casa vejo que eles não estão, e isso causa uma dor em meu peito. Eles pegaram um dinheiro que não era deles, um dinheiro que eu estava juntando para poder alugar alguma barraquinha pela cidade e montar a minha banca de flores em um ponto bom para vender.

Eu ainda não acredito que eles fizeram isso comigo, dói porque eu sei o que eles passaram para cuidar de mim sozinhos. Eu sempre vi meus irmãos como meus salvadores e tudo o que eu fiz foi por ser grata a eles, por tudo que já fizeram na minha vida.

E hoje escutei coisas do melhor amigo deles que eu não queria ouvir, e espero sinceramente que nada disso seja verdade. Porque se for, eu vou odiar eles para o resto da minha vida e eu não posso odiar a minha única família. Eles são tudo o que eu tenho e se eu perder eles... Eu perco tudo.

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