Outras ideias

Helena e seu grupo voltaram di almoço. Apesar da conversa ter sido deixado de lado, por Helena dizer que era apenas uma brincadeira para descontrair, Antônio ficou fermentando a ideia. Talvez, no final do dia, pudesse conversar com o CEO sobre o assunto. Nem de longe suspeitava que um dos diretores ouviu a conversa e foi divulgar como se a ele pertencesse.

Enquanto isso, Helena e os demais estavam discutindo sobre as tentativas frustradas de fazer negócios com a empresa de instrumentos musicais. Helena observou a abordagem de cada um. Todos cometeram um erro fatal. Não informaram a importância do projeto para a comunidade carente da favela que seria assistida. Quantas crianças aprenderiam um instrumentos, ao invés de aprender a usar uma arma. Quantos jovens deixariam de ser aviões de tráfico, para aprender música e se apresentar na cidade e até fora da cidade.

Isso era a primeira coisa a ser dita. A importância do projeto. O resto, como os lucros pela empresa parceira, o nome divulgado pela mídia, a população dando valor à música e comprando instrumentos musicais para os jovens. Isso viria no reboque.

Helena: Bom. Tentaram muitas estratégias e nenhuma delas funcionou. Terei que ser bastante imaginativa. Já tentaram tudo que é possível e não deu certo. Caramba! Marquei com eles amanhã cedo, 10 da manhã. Só vou deixar a Carolina na creche e tenho que correr. Não sei como é o trânsito daqui. Não quero fazer feio logo de cara.

Antônio: Está falando da empresa de instrumentos musicais?

Helena: Sim. Não quero correr o risco de perder a hora.

Antônio: Nessa semana o Heitor está à disposição. Peça a ele hoje quando for para casa. Ele não vai negar.

Helena: Obrigada por lembrar-me. Já tinha esquecido disso. Acabei achando que seria só na hora de entrar. Pensei que ia me virar para aprender a voltar para casa.

Heloisa: E onde está morando?

Helena: Em uma vila com casas de um quarto. Perto do supermercado X.

Augusto: Hein?! Você disse Vila com casas de um quarto, perto do supermercado X?!

Helena: Foi exatamente o que eu disse. Por quê repetiu palavra por palavra? Não entendi...

Antônio: Alguém errou feio. E sei quem foi.

Helena: Quem deu a chave da casa foi o Henrique. Ele estava muito afobado.

Hélio: Henrique é pau mandado daquela megera. Ela armou para você.

Helena: Que megera?

Heloisa: Magdalene, a secretária do CEO. Ela soube que uma jovem iria se juntar ao grupo de administração e arrumou o pior buraco para você e sua filha.

Antônio: Deixa conosco. Essa ela não escapa. Passa o endereço completo para mim. Vou resolver isso agora.

Helena: Não quero causar problemas para ninguém. Estou bem.

Heloisa: Existem padrões de moradia para cada setor. A casa que deram é do peão que não tem família.

Helena: Mas eu já fiz compra, arrumei tudo.

Antônio: Já volto com a solução.

Antônio saiu da sala fuzilando. Chegou na sala do CEO e bateu na porta, sem falar nada com a secretária. Ao ouvir a voz do chefe liberando a entrada, abriu a porta e fechou atrás de si, trancando.

Antônio: Somos amigos de longa data. Vim trabalhar com você porque conheço a sua índole. Isso que fizeram com Helena foi a pior das baixarias.

CEO: Calma, Antônio. Desse jeito vai enfartar. O que fizeram com a novata da Administração?

Antônio: Sabe a vila de casas de um quarto, para peão solteiro? Foi onde colocaram a Helena com a filha de um ano.

CEO: Espera, meu amigo. Tem coisa errada aí. A casa que foi escolhida para ela e a filha fica na direção contrária da vila dos peões. Fica próximo ao centro da cidade.

Antônio: Mas ela está numa casa de vila. Você sabe quem fez isso.

CEO: De novo, não. Ela fez o mesmo com Heloisa a quatro anos e eu além de repreender, tirei todas as bonificações dela por dois anos. Será que não aprendeu a lição?

Antônio: Pelo jeito, não. Vamos realocar Helena ainda hoje? Amanhã cedo ela tem entrevista com a empresa de instrumentos musicais. Estou bastante confiante nela. E por falar em confiante. Hoje durante o almoço no refeitório ela veio com uma ideia de usar bafômetro em dias aleatórios e cortar o dia de quem esteja alcoolizado.

CEO: Eu já soube. Um diretor veio falar sobre isso, como se fosse ideia dele. Gostei da ideia e pedi ao delegado meu amigo para ajudar a ensinar os seguranças a fazer o teste.

Antônio: Essa jovem vinda da sede está cheia de ideias incríveis. Temos que aproveitar o máximo possível. Vai que ela resolve ir embora.

CEO: Não vamos deixar escapar por entre nossos dedos, como se fosse areia. Aguarde enquanto chamo Henrique.

Em poucos minutos batem na porta. Antônio abriu a porta e Henrique entrou esbaforido.

Henrique: Chamou, chefe?

CEO: Quem paga seu salário?

Henrique: O senhor, chefe.

CEO: E quem determina para onde um funcionário irá morar?

Henrique: O senhor, chefe.

CEO: Me responda, então, por favor, porque uma funcionária da administração foi parar na vila dos peões?

Henrique: A moça de ontem não era um peão? Mas passaram a informação errada. Estou aguardando a chegada de uma funcionária transferida para a administração na segunda que vem.

CEO: E quem passou a informação?

Henrique: Foi a sua secretária.

CEO: Muito bem! Pode passar no RH e receber sua rescisão. É o segundo que vai para a rua por não seguir minhas ordens.

Henrique: Senhor, eu não tive culpa. Recebi a informação errada.

CEO: Confirmasse comigo se a informação estava correta ou não.

Henrique: Desculpa. Não foi por maldade.

CEO: Agora vai embora e pede a dona Magdalene que entre.

Magdalene entra toda sorridente.

Magdalene: Me chamou, chefinho?

CEO: Mais respeito. Nunca dei nenhuma intimidade. Agora me explica, como uma funcionária da administração foi parar na vila dos peões?

Magdalene: Não fui eu. Isso é coisa do incompetente do Henrique.

CEO: Sabemos que foi você. Fez as suas armações contra Heloisa também. Daquela vez, repreendi, cortei bonificações e achei que fosse aprender a lição. Agora é rua. Passa no RH e recebe a rescisão. Fora da minha vista.

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