Capítulo 3- Uma viagem sem volta

Um ano se passou desde que Jeremias se mudou para nossa casa, nada era como antes, nem eu me sentia a mesma.

Meu corpo estava mudando, eu tinha 11 anos, sentia coisas estranhas tinha pensamentos confusos.

Mamãe não era mais a mulher mais doce do mundo, sequer me olhava, as vezes parecia me desprezar, e outras vezes sentia-se com vergonha.

Mamãe sentia muito medo de Jeremias, ele havia se tornado um homem agressivo, e muitas vezes ele forçava mamãe a estar com ele.

Comigo Jeremias era doce, e bondoso, o homem mais bondoso do mundo, me dava presentes, e fazia tudo o que eu pedisse, era estranho, mas de certa forma ele tentava ocupar o lugar de papai.

Eu sempre assistia notícias sobre a empresa de papai na tv, mas em uma das notícias, algo terrível acontecera.

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Eu havia chegado do colégio, quando mamãe me esperava aos prantos, logo me assustei com a sua expressão, afinal há muito tempo mamãe não demonstrava emoções.

Mamãe me tomou pelo braço e se sentou ao meu lado.

Ela disse que precisava me contar algo muito difícil.

Eu logo senti que ela estava falando de papai, eu senti que algo ruim acontecera.

Mamãe contou que a empresa havia sido destruída por uma grande explosão, e que papai havia morrido, mas seu corpo não havia sido encontrado.

— Como morreu? Não! O meu pai, não!

Você está mentindo! Sua mentirosa! Você quer me afastar dele!

Jeremias logo chegou, e tentou me acalmar.

—Acalme-se anjinho, infelizmente, sua mãe não está mentindo, houve um terrível acidente, não podemos fazer nada, foi a vontade de Deus.

—Cale a sua boca! Maldito mentiroso! Você acha que eu não te conheço? Você é só um aproveitador, e um covarde que tem feito mal a minha mãe todo esse tempo, e só está interessado em nossa fortuna!

—Querida, eu entendo, que esteja magoada, e com raiva, mas não adianta descontar em mim, ou na sua mãe, nós só queremos o seu bem.

—Eu não estou descontando nada, você não sabe nem metade da raiva, que eu estou sentindo, e se eu descontasse vocês não suportariam!

E não coloque a culpa de nada em Deus, Ele é justo, e com certeza, o meu pai ficará bem.

Eu logo perdi todo o equilíbrio das minhas pernas, o ar me faltava, a única coisa que conseguia fazer era chorar, eu não podia crer que papai havia morrido, como ele pôde? Como pode me deixar? Ele não podia. Ele prometeu, que estaria comigo!

Eu não poderia suportar tamanha dor, era muita dor para uma menina de apenas onze anos, mamãe chorava e me abraçava forte, era o mesmo abraço que papai havia me dado antes de partir, naquele instante um grande desespero tomou conta de mim.

Meus pais eram meu porto seguro, eu não poderia perdê-los, o que seria de mim agora? Eu queria morrer, mas mamãe precisava de mim, ela precisava do meu amor, ela também estava sofrendo com a morte de papai.

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Eu fui para meu quarto e dormi quase toda a tarde, eu só queria que tudo fosse um grande pesadelo, eu queria acordar e saber que papai estava vivo, e que não havia acontecido explosão alguma, mas quando acordei nada disso aconteceu, papai havia mesmo morrido, e

aquela dor que rasgava meu peito era real.

Me levantei e mamãe estava de malas prontas esperando por mim.

—Depressa Angie vista seu casaco, e pegue esta mochila, nós precisamos aproveitar a ausência de Jeremias.

E não entendi o porquê mamãe estava fugindo novamente, mas eu a acompanhei, eu não poderia abandoná-la, agora ela era tudo que eu tinha, apanhei minhas coisas, vesti meu casaco e a segui.

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Mamãe dirigiu por umas cinco horas seguidas sem descanso, ela disse que iríamos para a casa de minha tia Samantha, ela morava em uma pequena ilha chamada Midlon, mamãe não tinha família, por isso nós procuraríamos uma irmã de papai.

Eu perguntei a mamãe porque Jeremias não estava nos acompanhando, e mamãe disse que era dele que nós estávamos fugindo, eu lhe perguntei o porquê, mas ela insistiu em não responder.

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No dia seguinte chegamos à casa de Tia Samantha logo pela manhã, ela nos recebeu, muito bem, era uma mulher de uns quarenta e poucos anos, solteirona, ela havia ficado sozinha assim como nós desde a morte da vovó e papai, titia ainda não havia superado as mortes.

Eu estava imensamente confusa com todas essas mudanças, mamãe me mandou ir assistir tv, enquanto ela e tia Samantha conversavam, as duas sussurravam para que eu não escutasse, mas não pude deixar de ouvir quando mamãe jurou se vingar dos assassinos de papai,

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Tia Samanta a repreendeu, dizendo que vingança não a levaria nada, mas mamãe insistia colérica, e dizia:

— "Vou matar aquele maldito, vou matá-lo! vou vingar a morte de Robert!"

Tia Samantha tentava acalmá-la, mas mamãe não se continha, eu ouvi as duas citarem o nome de Jeremias por mais de uma vez, mamãe dizia que havia sido vítima de um golpe, e que ele queria matá-la para ficar com toda a fortuna.

Tia Samantha dizia que era impossível ele conseguir, já que eu era a única herdeira de papai.

Mamãe se surpreendeu, quando tia Samantha revelou, que papai havia feito um novo testamento, onde eu seria a única beneficiária.

Eu não consegui entender nada, tentava me aproximar, quando fui surpreendida pelo telefone que tocava.

Corri para atender, até que reconheci a voz de Jeremias.

—Eu sei o que você fez Jeremias, mamãe vai se vingar, você pagará por todo o mal que fez ao meu pai.

Mamãe ouvira a conversa e gritou para que eu não falasse mais nada, eu desliguei imediatamente o telefone.

Mamãe me abraçou assustada, eu senti todo o amor que mamãe sentia por mim, ela tinha medo de me perder, temia pela minha vida caso Jeremias nos encontrasse, mamãe percebeu que a casa de tia Samantha não era mais segura para nós, então voltamos a viajar, mamãe dirigiu mais oito horas, dessa vez paramos em uma pousada para descansar.

Durante a noite mamãe parecia estar tendo pesadelos, e de repente acordava gritando, eu me sentia na obrigação de protegê-la, e todas as vezes em que ela tinha um pesadelo, eu a abraçava bem forte para que mal nenhum acontecesse e ela dormia.

Depois de descansarmos mamãe dirigiu mais oito horas até que chegamos a um vilarejo desconhecido, chamava-se Fetmancity, era um lugar calmo e parecia ser uma típica cidade caipira, logo mamãe decidiu que ficaríamos por lá.

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