No dia seguinte acordei bem cedo, eu queria saber sobre o bebê.
Estava cheia de planos e perguntas para fazer a mamãe.
Minha surpresa foi enorme quando eu vi que mamãe estava ao meu lado na cama.
Ela estava me observando, e no chão estavam duas malas.
— Bom dia querida.
Ela disse com uma voz suave.
— Bom dia mamãe.
Eu queria perguntar sobre o bebê, mas, estava muito curiosa sobre as malas.
— Mamãe, pra que são essas malas, nós vamos viajar?
Mamãe baixou o olhar antes de me responder.
— Sim querida, digamos que sim.
Fiquei eufórica.
Finalmente papai havia ouvido o meu conselho, nós íamos tirar férias.
— Mamãe mais que maravilha! Nós vamos para a casa do campo? Nossa eu tô muito feliz, até que enfim vamos ter um tempinho com o papai!
Eu disse empolgada.
Mas, mamãe não parecia tão animada.
—Que foi mamãe? você não queria viajar?
— Não minha querida não é isso.. É só que.... O papai não irá nos acompanhar nessa viajem.
Minha alegria se apagou rapidamente.
— Mas, como nós vamos fazer uma viagem de família sem o papai? Não vai ter graça se estiver faltando um membro da família... É melhor nós esperarmos o papai tirar folga pra viajarmos.
— Não minha querida, nós não vamos poder esperar... vamos precisar viajar hoje, nossos vôo sai em uma hora..
—Mas, mamãe, nós vamos deixar o papai aqui sozinho? Ele vai ficar triste.
Uma lágrima que mamãe insistia em segurar, rolou.
Os adultos acham que as crianças não percebi nada.
— Nós temos que ir na frente querida, logo o papai nos encontrará..
— Hum.. tem certeza mamãe? Você está chorando, ninguém chora assim quando está animada, ou feliz... Seus olhinhos estão tristes.
— Está tudo bem anjinho, vamos lá, você precisa se vestir e tomar café para nós irmos.
Ela disse enxugando a lágrima e se levantando.
— Estela por favor ajude-a e depois a leva para a cozinha.
—Sim senhora, ela respondeu.
Estela estava na porta do quarto, ela também estava chorando.
Eu queria gritar, espernear, mas, eu só consegui ficar sem ação.
Estática ali, parada na cama, sem entender que rumo a minha vida estava levando.
Porque estávamos praticamente fugindo e deixando o papai pra trás.
Quando cheguei a cozinha mamãe já não estava, tomei café sozinha, papai já tinha ido trabalhar, ele nem se despediu.
Assim que terminei, Mamãe me levou pata fora, o motorista estava nos aguardando para nos levar ao aeroporto.
Nós embarcamos num avião para a casa de campo que ficava em Detroit.
Papai não nos acompanhou, não ligou, não disse sequer um tchau ou eu te amo.
Mamãe parecia triste, na verdade era muito Maur que tristeza, ela estava desolada.
Essa era a primeira vez que eu a via assim, ela não dizia nada, não falava sobre o papai, eu não sabia o que havia acontecido, só sabia que tinha algo a ver com aquele telefonema misterioso.
***
Mamãe e eu já estávamos a dois meses na casa de campo, quando recebemos a visita de um homem, era um homem muito estranho, era alto, moreno, e tinha uma barba nojenta, mamãe atendeu da porta mesmo, mas o homem implorou que ela lhe emprestasse o telefone, mamãe sentiu pena do homem, na certa seria um mendigo, pensou ela.
O homem disse que se chamava Jeremias, ele precisava ligar para sua esposa que estava grávida.
Mamãe emprestou-lhe o telefone, o homem telefonou e depois mamãe lhe ofereceu um lanche.
Eu não sabia o porquê, mas, ele me causava arrepios.
A partir daquele dia, Jeremias nos visitava toda semana, eu já havia me acostumado, ele já não ia mal trapilho, agora fazia a barba, passava perfume, e sempre que vinha me trazia um presente, ele e mamãe riam muito, e eu não me importava, mas, sentia falta do papai, ele nunca havia ligado, sequer mandou uma carta, já haviam se passado seis meses, e eu não tinha notícias dele.
Jeremias sempre brincava comigo, mas não era o mesmo, não era meu pai.
Os meses foram se arrastando lentamente, até o natal, e eu estava muito animada, afinal papai iria nos visitar, Jeremias e mamãe haviam preparado uma ceia, e eu estava enfeitando a árvore, para que papai visse.
Meu coração parecia querer saltar do peito só de pensar que meu pai iria me visitar, ah como eu sentia falta, era como se meu coração estivesse pela metade sem papai.
Eu esperei a noite inteira, jurei que não me sentaria a mesa enquanto papai não chegasse.
Mamãe insistiu para que eu comesse, e por mais que eu sentisse fome, minha decepção era maior, eu nunca havia sentido tal coisa, papai havia prometido.
Eu não me importava com os presentes, ou com Jeremias, eu não queria saber de nada, eu só queria o meu pai, eu só queria que ele estivesse ali.
Já passava da meia-noite e papai não chegava, permaneci forte eu não comeria sem papai.
Por um instante adormeci, e quando acordei eu estava em minha cama, papai não havia chegado, e mamãe estava dormindo, eu entrei no quarto para chamá-la, como ela poderia dormir sem esperar por papai?
Imagine a minha surpresa ao saber que Jeremias dormira ao lado de mamãe, ele estava exageradamente a vontade e mamãe também parecia bem confortável.
Foi a segunda maior decepção que tive em menos de vinte e quatro horas.
E para piorar, fui surpreendida por papai que chegou e os flagrou naquela situação.
Eu não pude suportar a expressão no rosto dele, ele parec, eu nunca havia visto tal expressão tal olhar, papai estava sentindo dor, muita dor, talvez estivesse sofrendo muito mais do que sofreu com a morte da vovó.
Ele não disse nada, apenas me pegou no colo, e me levou para fora, dessa vez papai não havia trazido um daqueles brinquedos caros e luxuosos, ele colocou a mão no bolso e tirou um lindo pingente de ouro, não parecia algo muito valioso, não era uma coisa rara, era só um pingente, um lindo pingente em forma de um pássaro, era um pássaro bem pequenino, papai tirou a correntinha que havia em meu pescoço, e colocou o pingente, depois pôs o cordão em mim novamente.
Eu nunca amei tanto um presente como aquele, era o melhor de toda a minha vida.
Papai me disse que sempre que eu olhasse para aquele pássaro ele estaria por perto, era um presente para que eu nunca esquecesse do quanto ele me amava.
Enquanto papai falava senti um grande aperto no peito, era como se ele estivesse se despedindo, eu senti que jamais veria o meu pai novamente, meus olhos se encheram de lágrimas e eu chorava inconsolável, papai fazia o mesmo ,era como se nos comunicássemos através das lágrimas, ele me abraçou forte ,tão forte que parecia não querer soltar, eu não queria sair daquele abraço, queria permanecer ali para sempre, no abraço do meu pai.
Depois de alguns minutos papai me soltou, e disse que teria de ir, eu me neguei a deixá-lo partir, eu sabia que ele não voltaria, mas ele disse que precisava ir, e pediu para que eu me lembrasse que ele sempre estaria comigo.
Eu o abracei pela última vez, eu não podia conter minhas lágrimas, papai me soltou e entrou no carro.
Eu o segui pela estrada até que seu carro desapareceu em meio a poeira.
Eu corri para casa aos berros.
-Mamãe! Mamãe Eu o perdi! Eu o perdi!
Mamãe e Jeremias se levantaram assustados.
- O que houve Angie, o que você perdeu?
Mamãe me perguntou atordoada.
Ela tocou em seu corpo, olhou ao redor e encarou Jeremias confusa.
Ela parecia não entender o motivo dele estar ao seu lado.
Eu a respondi com grande raiva.
-Foi sua culpa! Foi tudo sua culpa! Você nos separou você fez o papai sofrer! Eu te odeio! Eu te odeio, eu odeio vocês!
Tudo o que eu sentia naquele momento era ódio!
Eu estava furiosa! Eu sentia que não veria mais o meu pai, e mesmo que minha mãe não tivesse culpa, ódio era tudo o que eu conseguia oferecer naquele momento.
Mamãe chorou sem entender o que havia acontecido, eu corri sem rumo para fora eu só queria me afastar deles.
Mamãe tentou me seguir, mas Jeremias a impediu, ele encontrou uma carta de papai endereçada a ela, não sei o que havia escrito mas depois da carta, mamãe correu horrorizada, Jeremias a seguia e ela corria em minha direção como se fugisse de algo, eu a rejeitava sem querer ouvi-la, Jeremias nos alcançou, e puxou mamãe pelos braços, ela tentava se soltar e ele a segurava com ainda mais força, mesmo com raiva eu tentei defendê-la, mas Jeremias era mais forte, ele nos obrigou a voltarmos com ele para casa.
Depois daquele dia eu senti que algo havia mudado, mamãe estava diferente, não falava mais, não sorria, e Jeremias passou a morar conosco.
Papai nunca mais voltou.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Maria Jose de Oliveira Freitas da Silva
vai ter babado forte
2023-02-21
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