Mesmo após 27 anos, ainda me pego pensando em como teria sido se papai não tivesse morrido. A vida seria diferente? Eu estaria onde estou? São perguntas para as quais não tenho resposta e sei que nunca terei.
Papai morreu quando eu tinha apenas oito meses de vidas, vítima de um latrocínio, deixando a mim e mamãe, que tinha apenas 19 anos. Nós morávamos em um dos bairros nobres do Distrito Federal, embora papai tivesse uma empresa de caminhões, não herdamos nada além de seu seguro de vida e uma terra em Minas Gerais que não tinha nada, apenas mato e que fora usada como troca pela casa em que moramos. O nome de papai nunca constou nos atos constitutivos da empresa e acabamos sendo enganadas por seu sócio, bom, mamãe fora enganada e eu a entendo, ela tinha apenas 19 anos, uma bebê de oito meses e o peso do mundo sobre seus ombros, sem um tostão no bolso e sem saber que poderia procurar a justiça.
Após a morte de papai, fomos morar com meu avô em uma cidade satélite, ou região administrativa, chame como quiser, mas o fato é que esses são nomes bonitos para regiões consideradas pobres e violentas e, que se encontram bem afastadas do famoso Plano Piloto. Vovô sempre foi um homem difícil e com a idade, foi se tornando cada vez pior. Ele nunca nos distratou, mas ele é o que as crianças e adolescentes do bairro chamavam de “velho xarope”.
Quando completei 15 anos mamãe se casou novamente, fomos morar na casa que ela havia trocado pela terra em Minas e que vinha alugando desde então para conseguir juntar dinheiro. Após nos mudarmos, perdi total contato com meu vizinho, melhor amigo e primeiro amor, Levi.
Levi e eu nunca havíamos trocado mais do que uma ou duas palavras até nossos 7 anos, quando ele viu seu irmão gêmeo, João, morrer após ser atropelado na faixa de pedestres por um homem bêbado que fugiu sem prestar socorro. João sim era meu melhor amigo, éramos inseparáveis, brincávamos todos os dias após a escola e vivíamos na casa um do outro, mas quando ele morreu, parecia que ninguém entendia a dor que eu sentia, todos diziam que eu era criança e que logo esqueceria. Diziam o mesmo sobre Levi, que se fechou para o mundo, enquanto seus pais se fechavam em seu próprio sofrimento após perder um filho.
Por coincidência, ou destino, Levi fora estudar na mesma escola que eu, a partir desse momento comecei a puxar assunto com ele, afinal ele me lembrava meu melhor amigo que estava morto e eu buscava nele conforto. A dor nos aproximou, com apenas 7 anos parecíamos ser os únicos que entendiam o quão avassalador aquilo era. Nos tornamos inseparáveis, crescemos juntos. Aos 14 anos me vi apaixonada pelo meu melhor amigo. Trocamos declarações e ele me deu meu primeiro beijo, porém nunca namoramos ou levamos adiante, afinal, éramos crianças, não éramos?
Mas chegaram meus 15 anos e com eles o fatídico dia da mudança, eu achava que nos encontraríamos todas as vezes em que fosse visitar meu avô, mas nunca mais o vi. Somente aos 17 eu soube o porquê, em uma de minhas visitas a casa de vovô encontrei o primo de Levi, Jonas, ele me disse que alguns meses após me mudar, os pais de Levi também se mudaram para a quadra ao lado da minha, porém decidiram mandar Levi para a casa da tia, em São Paulo, porque acreditavam que as oportunidades de ensino lá seriam melhores do que aqui. Jonas me contou também que Levi estava namorando uma garota, Maísa. Foi nesse momento que tive meu coração partido pela primeira vez.
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Atualizado até capítulo 86
Comments
Adryelle de jesus😍
Seria legal se tivesse fotos dos personagens
2025-02-20
1
Quel Mascaro
comecei agora e já estou gostando
2024-04-05
1
edera
já gostando da leitura vamos ver como vai ficar
2023-06-16
3