CAPÍTULO I: ESTIGE - PT.5

O conflito de ideias entre Gigas a Khalan havia se tornado mais acalorado, contudo o gângster discursava pretensiosamente convicto do poder do seu argumento, esboçando um sorriso doentio, quando olhou para Yu, jogando a bituca de cigarro no chão:

— Sabe o que eu queria fazer, menininho? Eu queria fazê-los passar por todas as humilhações que passamos, matar cada um de seus exemplares lentamente num vagaroso extermínio, para que eles agonizassem até o último minuto de suas vidinhas de vidro.

Khalan fechava os olhos, soltando um ar de riso, enquanto Gigas continuava seu discurso:

— Começando por cada integrante de sua família, deixando só os menores e tocando fogo em todos da sua espécie. Vocês são uns animais imundos que sujam o planeta com sangue ao longo da história e ainda continuam por causa de um processo cultural radioativo, por isso eu exterminaria essa sua maldita legião de nazistas manipuladores sociais desse país…

— Pra você ser tipo um ditador? Você iria fazer o mesmo que todos os outros da ‘‘elite clara’’ fazem. O poder muda as pessoas, Gigas, e eu não vou mais perder tempo com esse seu discurso doentio…

— Você era para ser o primeiro a me dar ouvidos…

— Caiam fora daqui e vão estudar que vocês ganham mais… todos vocês!

Khalan saia rapidamente, sendo seguido por Yu, que dava as costas para Gigas, que dava um sinal circular com a mão de retirada para os membros da gangue, mas deixa um aviso no ar:

— Não me compare a esse tipo de gente que você costuma defender e conviver, você ainda vai se arrepender profundamente disso tudo…

Observando cuidadosamente os dois, Gigas subia em sua moto, recebendo ironicamente um sinal positivo do polegar de Khalan, que o deixa falando sozinho. Após a curta conversa com Gigas, sem conseguir olhar para o resto da presença protetora, Yu segura sua bolsa que é dada bruscamente, praticamente empurrada contra seu peito, então sem poder agradecer apropriadamente, começa a seguir seu bruto pacificador, que assim que volta para trás do balcão, o deixa paralisado:

— Por que você não vai embora daqui? Aliás, por que você parou por aqui mesmo? Perdeu o mapa do tesouro, ou algo desse tipo? — ironizou.

Percebendo que o jovem Saengdao tinha ficado completamente perplexo, pois seus olhos verdes estavam fixos nos seus, seu rosto aos poucos ia corando, Khalan saiu do balcão de madeira por uma porta antiga, se aproximando um pouco do espadachim, virando a cabeça de lado, em sinal de compreensão, mexendo a mão pra cima e pra baixo, tentando fazê-lo voltar a órbita, que tinha sido perdido muito brevemente, até que o garoto consegue despertar, muito corado observando que todos estavam em seus mundos, ficando aliviado por não ter passado vergonha, percebendo a presença do pacificador:

— Espera! Eu… não tive a chance de me explicar…

— O que aconteceu, finalmente? O senhor vai precisar de algo? Porque estamos bem ocupados aqui, se é que não percebeu…

Retornando a bancada, começa a conferir algumas notas, despachando alguns clientes, enquanto Yu entrava em uma síntese dos momentos da noite passada, batendo toda a fisionomia do famoso streeper da bota que terá saído com os amigos, sentando discretamente em uma mesa próxima ao então atendente, observando cuidadosamente suas vestes, sua camiseta de elastano, agarrava em nos músculos de seu tronco, mostrando as definições enriquecidas de detalhes, de relance percebeu também um cordão dourado, que destacava alguns cabelos lisos do seu peitoral, assim que observa a saída de alguns pedidos para as mesas laterais, sua calça jeans de lavagem já desgastada parecia não do real tamanho para seu corpo, pois aparentava está bem mais apertada que o comum, ironicamente não marcava seu penis ou exibia exageradamente nenhum volume, mexendo com a mente fértil do espadachim, que tentava disfarçar suas análises, sendo abordado rapidamente por Khalan:

— Se vai ficar por aqui, pelo menos esconda o único meio que tem de sair do bairro, se não se importar com ele…

O streeper, deixava uma lata de guaraná zero na mesa, como uma espécie de cortesia, despertando Yu de seu transe:

— Desculpa, eu... só vim... atrás de uma informação…

Sem perceber que ficara totalmente excitado psicologicamente pelos mínimos detalhes do corpo de Khalan, aproveitou o ensejo para observar os cabelos em seus braços, o suor que escorria pelo corpo quente dele, sua cor que aparentava ser parda, misturado ao seu jeito imponente e sério, além de sua expressão impaciente, fazendo o garoto respirar bem fundo psicologicamente e voltar ao mundo real.

— Informação? Sabia que em alguns termos Gigas está certo? Pessoas feito você não deveriam estar neste mundo, sua gente só tem criado cada vez mais desigualdade para muitas pessoas deste país…

— Eu entendo…

— Vocês escravizam pessoas como eu pelo fato de termos tons de pele diferente e por saberem que passaremos fome se não conseguirmos seguir a onda. Sabia que somos julgados como inferiores e somos usados muitas vezes como animais de carga ou zoológicos humanos para seus semelhantes…?