Sara não tem um minuto de paz.

Depois das devidas apresentações volto para a cozinha, ajudo as meninas a fazer um pouco de cada coisa, lavo louças, pico temperos e assim o dia vai passando.

Miha tem sido muito bondosa comigo, tenta conversar e me animar um pouco, mas a tristeza e a saudade de casa só me faz ficar cada vez mais calada, não consigo disfarçar e as vezes acabo chorando.

Finalmente chega a tarde, posso ir para meu quarto descansar. Mal consegui comer nada o dia todo, não sinto fome, estou um pouco tonta.

Abro a porta já pensando em me jogar na cama e esquecer do mundo, quando entro tomo um belo susto.

— Olá Sara, como foi o seu dia?

Jordan está sentado na minha cama, sinto uma alegria por vê-lo novamente e um pouco de raiva por ele não ter falado comigo o dia todo. Estranho eu me sentir assim, ele prometeu me ajudar, e não ficar grudado comigo o tempo todo.

— Olá senhor Jordan, será que tenho permissão para falar com os patrões?

Ele da uma gargalhada e cai de costas na minha cama.

— Para de besteira Sara, claro que pode falar comigo. Aliás, você está uma graça com essas roupas.

Faço um bico e sento na cama ao lado dele.

— Está me achando bonita assim? Que tal eu arrumar umas roupas dessas para você e te levar para lavar uns pratos?

— Acho melhor não, é melhor eu ficar dando uma de investigador por ai, acho que eu te ajudaria mais.

Fala fazendo graça.

— E o que o senhor conseguiu nesse papel de investigador?

— Pare de me chamar de senhor, pelo menos quando estivermos sozinhos. E sim, eu tenho algumas novidades.

Respiro aliviada, esperei o dia inteiro por notícias.

— Sara, andei a sondar algumas pessoas e realmente tem polícia metida nessa encrenca toda. Tanto daqui quanto do seu país. Caso a gente resolver denunciar o esquema agora, há uma grande chance de sermos silenciados antes.

— Meu Deus, Jordan o que eu faço agora? a sua família é poderosa aqui não é? porque não pede ajuda a eles?

— Porque meu Pai jamais aceitaria eu me envolver em uma situação dessas, ele mandaria eu me livrar de você na mesma hora. Ele também não é uma pessoa muito fácil de lidar, é muito difícil argumentar com ele.

— Eu percebi mesmo, ele parece um general. Mas e agora, o que vamos fazer?

— Tive uma ideia, vou fazer uns contatos e tentar tirar documentos falsos para você. Assim eu consigo passagens e você volta para seu país em segurança.

— Nem sei como agradecer Jordan, se você conseguir me tirar daqui eu serei eternamente grata.

É impossível controlar a emoção, as lágrimas escorrem livremente no meu rosto.

Num pulo Jordan se senta ao meu lado, vai secando as lágrimas bem devagar, uma a uma, um toque suave e quente. Ele tira uma mecha do meu cabelo que insiste em cair no meu rosto, coloca atrás da minha orelha enquanto sorri para mim.

Fecho os olhos, a quanto tempo não sinto um toque gostoso assim. Quando abro os olhos novamente ele está muito perto do meu rosto, posso sentir o calor da sua respiração, está ofegante. Ele passa o dedo em meus lábios, olhando profundamente em meus olhos.

Derrepente uma batida na porta muda totalmente o ambiente, fico aflita, olho para ele assustada. Ele se levanta e vai até a porta.

— Fica calma, é só a Miha trazendo algo para você comer. Fiquei sabendo que a senhorita não está comendo nada, então mandei preparar algo.

Fico um pouco sem graça, não sei como retribuir tanto cuidado que ele tem comigo.

— Oi para vocês dois, trouxe algumas coisas gostosas.

— Obrigada Miha, não queria te dar trabalho.

Olho para a bandeja, está repleta de frutas, pães, bolos e sucos.

— Você precisa se alimentar Sara, se ficar doente vai ser mais difícil sair daqui. Jordan fala em tom firme.

— Eu vou tentar comer um pouco, mas vou tomar um banho primeiro.

Miha deixa a bandeja na mesinha, mas antes de sair adverte.

— Meninos, não é bom vocês ficarem sozinhos assim no quarto, se alguém pegar vocês aqui nem quero imaginar o que pode acontecer. Jordan, seu pai estava perguntando de você, é melhor ir ver o que ele quer.

Fico um tanto sem graça com a situação, mas estou curiosa.

— Jordan, porque é tão grave assim ficarmos sozinhos?

— Sara, aqui um homem jamais pode estar sozinho com uma mulher, a não ser que estejam casados. Nem mesmo os noivos ficam assim, sempre que se encontram estão vigiados pelos familiares.

— Nossa, você está correndo riscos então por mim. Espero que eu não te prejudique.

— Fique tranquila minha querida, eu estou tomando cuidado.

Ele fala e da uma piscadinha para mim, nossa como esse homem é charmoso. Bem que eu queria tê-lo conhecido em uma situação diferente, mas ele morando em outro país seria impossível algum tipo de relação.

— Sara, vou ter que ver o que meu pai quer, coma e descanse. Amanhã eu falo com você.

Ele da um beijo no meu rosto e sai do quarto, por um segundo achei que beijaria minha boca. Cheguei a sentir um calafrio passando pelo meu corpo, arrepiando cada pelinho. Balanço a cabeça tentando tirar esses pensamentos de mim, preciso de um banho gelado.

Depois do banho me sento e tento comer algo, tomo um pouco de suco e como algumas uvas, é o que consigo engolir por hoje.

Deito na cama tentando digerir tudo o que vivi hoje, esse medo, essa tensão estão acabando comigo. A saudade da minha pequena queima em meu peito, penso na minha mãe, no Eduardo... me esperem que estou chegando meus amores.

Estou tão cansada que apago, a cama é confortável e me abraça quando me deito, em poucos minutos já estou dormindo.

Acordo assustada, ainda não amanheceu e tem alguém mexendo na porta. Será que Jordan resolveu voltar? um sorrisinho aparece em meu rosto, mesmo sem querer me sinto atraída por ele, preciso dar um jeito de parar esse sentimento, não preciso de mais um problema.

Me levanto para abrir a porta, mas antes de chegar na porta ela é forçada e alguém entra. Tomo o maior susto, o quarto ainda está escuro, mas percebo que não é Jordan.

— Quem é você? o que quer no meu quarto?

— Relaxa, eu vim te fazer companhia, acho que está muito sozinha aqui. Você é bem bonitinha hein, hoje quando te vi no café da manhã fiquei louco por você.

Um pavor me toma, as lembranças daquele local que estive vem a tona, conheço essa voz, é o Hassan, irmão de Jordan.

— Não chegue perto de mim seu nojento, vou gritar pelo Jordan.

— Ah então você é protegida do meu irmão, fique tranquila que ele nunca se importou em dividir seus brinquedos comigo.

Antes que eu pudesse gritar ele vem até mim, coloca a mão sobre minha boca e segura no meu cabelo.

— Você está muito tensa, pode deixar que serei carinhoso com você.

Por sorte consigo me livrar dele, dou uma joelhada bem no meio de sua perna, ele geme de dor. Consigo acender a luz e vejo ele me olhando com ódio.

— Ah sua malandra, eu estava sendo legal com você, mas você não colaborou.

Ele vem novamente em minha direção, mas antes de chegar perto de mim Jordan entra no quarto, da um soco com força no irmão que cai na mesma hora no chão.

— Sara, você está bem? esse desgraçado fez algo com você?

— Ele tentou, mas não conseguiu Jordan, ainda bem que você chegou. Não quero mais ficar aqui, quero ir embora agora.

Hassan se senta no chão, com a mão na boca, está sangrando.

— Então vocês dois são amantes não é? bem que eu percebi algo diferente em vocês dois de manhã. Jordan Jordan, você trouxe uma amante para dentro de casa, nosso pai vai adorar saber disso.

— Cale a boca seu moleque, você não sabe de nada. Jordan fala realmente irritado.

— Sara, vou ter uma conversa com meu irmão e já volto. Fique tranquila aqui, prometo que isso não vai se repitir.

Começo a chorar, não esperava por essa, quero ir embora daqui. Jordan se aproxima, me da um beijo de leve nos lábios e um abraço tentando me acalmar.

— Me perdoe, eu prometi proteger você e deixei isso acontecer, prometo que ninguém mais vai te importunar aqui. Não vá embora, eu vou cuidar disso.

Ele agarra o irmão pelo braço e sai puxando do quarto, bate a porta e desaparece. Desabo na cama, parece que passou um furacão sobre mim.

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