Começando a trabalhar

Jade narrando...

Eu fiquei dois dias aprendendo com a Silvia ( ela odeia ser chamada de dona ) e com a Leticia tudo que eu precisava saber sobre a pizzaria. Era muita informação mas eu estava super disposta a aprender, achei o ambiente muito aconchegante e gostoso, o ritmo de trabalho parecia bem intenso e o pessoal era muito legal. De cara já gostei de todo mundo, todos me receberam muito bem. Silvia me deu meu uniforme, eu estava muito feliz por não ter que fazer mais faxinas. Não desmerecendo o trabalho é claro, afinal foi assim que eu e minha irmã fomos criadas, com o dinheiro que mamãe ganhava nas faxinas. Mas era um trabalho muito árduo e infelizmente pouco remunerado, principalmente na nossa cidade que era bem pequena.

Enfim, eu estava muito feliz por começar uma nova etapa na minha vida e ter perspetiva de dar uma vida um pouco melhor pra minha mãezinha. Era quarta feira, eu e Leticia nos arrumamos e fomos trabalhar. Tudo deu super certo, graças a Deus, era bem cansativo pois o lugar ficava cheio, muitos pedidos, uma correria. Mas no fim da noite tudo correu bem e todos me deram os parabéns, pois mesmo sendo o primeiro dia eu dei conta do recado, até ganhei algumas gorjetas.

Assim que desse eu compraria um cofrinho onde pretendia juntar essas gorjetas. Meu maior desejo era poder trazer minha mãe para morar comigo. A Leticia já estava pensando em alugar um apartamento, ela me chamou para dividir um com ela e eu aceitei é claro. Ah meu Deus eu nem acredito que minha vida está mudando tanto assim, acontecendo tantas coisas boas.

Assim foi o restante da semana, muito trabalho e sonhos e planos para o futuro. No domingo a pizzaria abre o dia todo, trabalhamos muito e a noite eram outras meninas no plantão, eu e Leticia trabalhamos de meio dia até as seis da tarde. Estávamos muito cansadas, eu pretendia ficar em casa, ligar pra mamãe, assistir um pouco de televisão e dormir cedo. Mas quem disse que a espevitada da Leticia me deixou em paz. Ela disse que era um desperdício ficar em casa e que eu precisava conhecer a cidade. Com tanta insistência dela acabei aceitando sair um pouco. Enquanto a Lelê tomou seu banho super hiper demorado eu aproveitei para fazer uma chamada de vídeo com a minha mãe. Nós conversamos, rimos um pouco e a saudade era imensa, dei graças a Deus pela vida de quem inventou o celular, assim eu podia ver o rosto da minha mãezinha querida. Na hora da despedida era sempre a mesma coisa, abríamos a boca para chorar.

--- Bora Jade, para de chorar e vai se arrumar pra você conhecer a noite paulistana. - Letícia fala saindo do banheiro enrolada numa toalha.

--- Eu já vou Lelê, é que eu sinto tanta falta da minha mãe. - digo com a voz embargada quase chorando de novo.

--- Oh minha amiga não fica assim não. - ela vem até mim e senta segurando minha mão - Você está fazendo o melhor pra vocês. Até o início do ano que vem já estaremos no nosso apartamento e sua mãe pode vir morar conosco.

--- Você jura? - digo toda feliz.

--- Claro amiga, seremos uma família, eu, você e sua mãe. E vai ficar tudo bem.

--- Obrigado minha amiga. Te amo muito. - eu abraço ela.

--- Eu também te amo muito amiga. Agora vai tomar seu banho pra gente sair.

Eu limpo minhas lágrimas e vou pro banheiro, fico bem mais animada depois do que a Lelê falou. Nós conversamos sobre dividir um apartamento mas não havíamos falado nada sobre a minha mãe. Eu fiquei muito feliz de saber que dentro de poucos meses poderemos estar juntas de novo.

Ficamos prontas, Lelê estava um arraso, ela era totalmente o oposto de mim, tanto fisicamente como no jeito de ser. Leticia era loira, fazia mechas cor de rosa no cabelo, abusava da maquiagem e dos acessórios. Brincos grandes, pulseiras, piercing, ela adorava tudo isso. Usava roupas ousadas, croppeds decotados, shorts curtos, micro saias, vestidos que pareciam que iam rasgar a qualquer momento de tão justinhos que eram. Me senti uma pamonha quando acabamos de nos arrumar e olhei pra Lelê. Ela usava um cropped vermelho que deixava a mostra os ombros e uma mini saia estampada. Eu coloquei um vestido que mais parecia de ir à missa do que sair à noite.

--- Estou uma verdadeira jeca, todo mundo vai olhar e pensar "olha deve ser a prima da roça que veio conhecer a cidade".

--- Ai amiga pára com isso, ninguém vai pensar nada. São Paulo tem gente de tudo quanto é jeito. - ela me olha de um jeito travesso - Mas se você quiser pode usar uma roupa minha, temos o mesmo corpo, vai ficar linda de cropped e shortinho.

--- Deus me livre Lelê, suas roupas são lindas mas não tem nada a ver comigo. A Safira que ia adorar seu guarda-roupa.

--- Nem me fale naquela sebosa. Aliás amiga como pode duas pessoas idênticas serem ao mesmo tempo tão diferentes?

--- Não sei amiga, a Safira e eu sempre fomos diferentes desde pequenas, o tempo só foi intensificando cada vez mais essas diferenças.

Leticia não suportava Safira, muitas vezes minha irmã se passava por mim para irritar a Lelê. Uma vez a Leticia contou pra Safira sobre sua paixão secreta pelo garoto mais popular e lindo da nossa antiga escola. A Safira consegue se passar por mim perfeitamente, muitas vezes ela chegou a enganar até a nossa mãe. A pobre da Lelê nem desconfiou e falou tudo que sentia, a Safira maldosa como sempre foi, correu e contou pra todo mundo, inclusive pro garoto. Ele tinha namorada e a menina morria de ciúmes dele, daí vocês já imaginam no que deu né. Brigas, humilhações, a vida da Lelê virou um inferno e a Safira de longe só olhando o circo pegar fogo. Quase perdi a amizade da Leticia que a princípio achava que era eu a fofoqueira. Foi a própria Safira que falou pra ela que tinha se passado por mim e aprontado toda aquela confusão. Depois disso a Leticia não pode nem ouvir falar na Safira.

Eu decidi sair do jeitinho que eu estava mesmo, com meu vestidinho simples e comportado, sandálias de salto baixo e pouquíssima maquiagem, na verdade quase nada, só um batom nude mesmo e um pouco de rímel. Deixei o cabelo solto como sempre e lá fomos nós conhecer a tal "noite paulistana".

Look da Letícia

Look da Jade

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