Quando a dona Eliete fala que a vaga de emprego é em São Paulo eu já sinto um frio na barriga, só de imaginar ficar longe da minha mãe. Rejeito a idéia na mesma hora, agradeço a dona Eliete mas digo que não posso de jeito nenhum abandonar minha mãe. Mas para minha surpresa é ela mesma que tenta me convencer do contrário.
--- Filha, pense bem, você não vai me abandonar. São Paulo fica há algumas horas daqui e você pode vir me visitar nas suas folgas.- disse mamãe tentando parecer convincente.
--- Mas mamãe eu nunca saí de perto da senhora.
--- Minha linda senta que eu vou te explicar direitinho. - sento e ouço dona Eliete falar. - Essa vaga de emprego Jade, é na pizzaria da minha prima, a madrinha da Letícia.
--- Então é pra trabalhar junto com a Lelê?
--- Sim, a Lelê me liga todos os dias. Ontem ela disse que lá em São Paulo está muito difícil arrumar uma funcionária de confiança. As duas últimas que passaram por lá estavam roubando dinheiro do caixa e da bolsa de outras funcionárias. Teve uma que se oferecia para os clientes casados, outra que só chegava atrasada e ficava no celular o tempo todo.
--- Meu Deus que horror! - minha mãe disse colocando a mão na boca assustada.
--- Pois é Lidiane, a maioria dos jovens hoje em dia só quer saber de gastar e curtir. Quando falei pra Lelê que a Jade precisava de um emprego ela se animou toda, já correu e chamou a Sílvia pra perguntar o que ela achava.
--- E ela disse o que? - perguntei já sabendo a resposta.
--- Que você pode ir, a vaga é sua. Ela vai te hospedar na casa dela, a Letícia já está arrumando um apartamento pra morar sozinha, de repente você cairia do céu na vida dela.
--- Esse emprego que caiu do céu. Filha você é jovem e linda, sei que você tem sonhos e não quero ver você enterrá-los.
--- Mas e a senhora mãe?
--- Não se preocupe com sua mãe querida, farei o possível para ajudá-la no que for necessário. Nós estamos em setembro, no Natal eu irei pra São Paulo e posso levar a Lidiane comigo. Meu marido vai tomar conta da pizzaria e eu vou matar a saudade da minha filhota.
--- Três meses é muito tempo mãe. - falo meio chorosa - Como vou ficar esse tempo todo longe da senhora?
--- Pra isso existem os celulares. Podemos fazer como a Letícia e a Eliete, faremos chamadas de vídeo e conversaremos todos os dias se você quiser.
Fico com meu coração apertadinho de pensar em sair de casa assim, mas é uma oportunidade e tanto. Com certeza a madrinha da Lelê está ganhando muito dinheiro lá. Foi ela que mandou dinheiro pra dona Eliete abrir tipo uma filial da pizzaria dela aqui. Apesar da cidade ser pequena deu super certo, a pizzaria virou ponto de encontro de quase todo mundo por aqui. Nos finais de semana ela fica lotada, precisa até fazer reserva. Os preços são ótimos e a dona Eliete é super simpática com os clientes.
A proposta que me fizeram era realmente irrecusável e com a insistência das duas acabei aceitando. A dona Silvia realmente é muito legal, ela mandou pela dona Eliete o dinheiro da passagem para eu ir já na segunda feira.
Ajudei minha mãe a dar uma boa limpeza na casa, fiz as malas com minhas coisas que não eram muitas. Fui dormir cedo porque o meu ônibus sairia às sete da manhã. Fiquei rolando na cama um tempão, meu coração estava apertado de tristeza por deixar minha mãe, mas eu precisava fazer alguma coisa pra mudar nossa vida.
Mamãe já estava com a saúde comprometida por causa dos problemas no coração e as faxinas eram muito pesadas pra ela. Acho que com esse emprego e o salário que a dona Silvia ofereceu vou conseguir dar uma vida melhor pra minha mãezinha e quem sabe consigo levar ela pra morar comigo. São Paulo é uma cidade grande e com recursos melhores até para ela tratar da saúde.
Depois de muito pensar acabei pegando no sono, acordei com o celular despertando e dei um pulo da cama. Tomei um banho e fiz minha higiene matinal, me arrumei de forma simples como sempre e fui tomar café com minha mãe. Ela já tinha feito o café e buscado pãozinho fresquinho. Sentamos e comemos, mamãe tentava parecer alegre mas eu sabia que ela estava tão arrasada quanto eu, mas como ela mesma disse, sem sacrifícios não se consegue vitórias e eu ia trabalhar duro para levá -la logo para junto de mim.
Mamãe achou melhor não ir na rodoviária, também preferi assim, seria muito doloroso entrar no ônibus e deixá -la ali. Pelo menos assim a despedida foi menos difícil, dona Eliete foi com o esposo dela de carro me levar até a rodoviária. Depois de me acomodar e a viagem começar coloquei meus fones de ouvido e tentei relaxar ouvindo uma música.
De repente comecei a pensar na Safira, há uns meses atrás ela havia mandado um cartão postal pra mamãe, era uma paisagem da Suíça, ela disse que estava feliz. Mamãe rasgou e colocou fogo no cartão, eu fiquei pensando se realmente ela conseguia ser feliz agindo assim sem se importar com a própria família. Eu não conseguiria, disso tenho certeza.
Com a noite mal dormida que eu tive e o balanço do ônibus rapidinho eu peguei no sono. Quando acordei já estávamos quase chegando, ajeitei meu cabelo e fiquei esperando ansiosa, olhava pela janela maravilhada com o tamanho das lojas e a altura dos prédios. Fiquei pensando como as pessoas conseguiam atravessar aquelas ruas enormes super movimentadas. Eu estava com medo é claro, mas também muito ansiosa pela nova vida que me aguardava.
Quando desci do ônibus peguei o celular e liguei pro número que a dona Silvia me deu. Logo surgiu na minha frente uma mulher ruiva, linda, aparentando a mesma idade da minha mãe, muito bem vestida e com um sorriso lindo. Atrás dela gritando e pulando, a espevitada da Lelê, seu cabelo loiro com mechas cor de rosa, um short curtissimo e uma blusinha decotada.
--- Oi Jadeeeee minha amiga que saudade. - ela pula no meu pescoço e quase me derruba - Eu tô tão feliz por você estar aqui.
--- Oi Jade tudo bem? - Sílvia me cumprimenta e me dá dois beijinhos no rosto - A Letícia me falou muito de você. Vamos pra casa, você deve estar cansada e com fome.
--- Realmente estou sim. - falo sem graça.
Fomos para o carro dela e partimos pra sua casa. O trânsito era uma loucura, não sei como as pessoas conseguem dirigir aqui, mas de cara já estou amando essa cidade.
Eliete
Letícia
Sílvia
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Atualizado até capítulo 69
Comments
Dulce Gama
tá muito boa a história parabéns
2024-11-27
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Maria Lucilia De Souza Pereira
tou amando!
2024-03-16
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