Dias atuais...
Os anos foram se passando, eu me
dedicava mais e mais a minha empresa, se eu disser que a dor de saber que fui
enganado ainda não estava presente, estaria mentindo. Fiz de tudo por ela, mas
acho que não foi o suficiente, além de me roubar, ela destruiu o meu coração
com aquelas palavras num pedaço de papel, se ela nem sabia se a filha era
minha, então, eu tive a confirmação de que fui traído.
Depois daquele dia, fechei o meu
coração, nenhuma mulher merece entrar nele novamente, não pretendo ter mais
compromisso com ninguém.
Hoje é sábado e como em todos os
outros, pretendo ficar em casa, não estou a fim de sair, apesar de o meu amigo
insistir para irmos ao clube, não aceitei, quero descansar, pois essa semana
foi muito corrida.
Logo após o almoço, fui para o jardim dos fundos, me
sentar com um copo de Vodca, os meus pensamentos estavam longe, quando escuto a
campainha tocando, nem preciso me levantar, sei que Emma irá atender. Não
demora muito e ouço sua voz me chamando.
― Noah! Tem duas mulheres na
porta, querendo falar com você.
― Mulheres? Não disseram quem
são.
― Não!
Levanto-me, deixo o meu copo na
mesinha e sigo para dentro da casa e vou até a porta, lá encontro uma mulher a
princípio e só depois vejo a outra e uma criança.
― Gostaria de falar comigo?
― É o senhor Noah Gatti?
― Sim! Sou eu.
― Senhor, será que podemos entrar?
O que tenho para falar é muito importante, e não quero ficar aqui fora com a criança,
apesar de estar fazendo sol, o dia está gelado e ela pode ficar doente.
― Tudo bem, podem entrar.
Dou passagem para elas e a
garotinha; as levo para a sala, peço para que se sentem, falo para Emma trazer
algo para elas beberam.
― O que tem de tão importante
para me contar?
― Senhor, eu me chamo Agatha Smit,
essa é Rebeca Lewis, ela é assistente social do Conselho infantil da Inglaterra.
Eu fui babá dessa criança até ela completar quase quatro anos, fui contratada
por sua mãe, ela e o marido só viviam em festas, deixando sempre a criança em
minhas mãos.
― Ainda não entendo o que tem a
ver comigo.
― Logo saberá, posso continuar? ―
apenas assinto com um meneio de cabeça e ela continua. ― Quando a criança
começou a andar e a pronunciar as primeiras palavras, eu percebi que tanto sua
mãe, como seu pai, não tinham paciência com ela. E muitas das vezes, eles a
agrediam, tanto verbalmente, como fisicamente, a fazendo sempre chorar e quando
isso acontecia, mesmo sendo pequena, eles a trancavam dentro de um quarto, ela
ficava lá por horas, chego a pensar que nos dias de minha folga, essa criança
ficava trancada até eu chegar ― tudo o que ela conta é horrível, não consigo
imaginar algo assim. ― Certo dia, eles levaram a menina até uma clínica,
ficaram lá por horas e quando voltaram, a meninas estava toda vermelha, eu
perguntei o que tinha acontecido, mas o pai disse que não estava mais
aguentando ouvir o choro dela e que tinha dado uns tapas para ela se calar.
― Tudo o que disse até agora é
horrível, mas não estou entendendo onde está querendo chegar com essa história,
e onde eu me encaixo nisso tudo.
― Deixe-a terminar, senhor ― foi
a assistente quem falou dessa vez.
― Então se passaram alguns dias
que eles voltaram da clínica, eu estava dando banho nela, quando uma discussão
entre eles começou, o pai dela ficou furioso em saber que a menina não era
filha dele, e disse que não ficaria com uma bastada, que não iria cuidar da
filha de outro, a senhora chorava muito, dizia que tinha certeza que o filha
era dele, que por isso tinha deixado tudo para ficar com ele, mas que agora não
sabia o que fazer, que precisava pensar em um modo de entregar a criança para o
verdadeiro pai, sem que ele os achasse. Como eles nem imaginavam que eu estava
ouvindo e nem a menina, mesmo que ela não expressasse nenhum som, nem mesmo
chorava mais, ele disse que preferia colocar a menina para adoção, que não
queria correr o risco de ser encontrado e parar na cadeia ― ela faz uma pausa e
olha para a criança, depois volta a falar. ― Imagine como eu me senti sendo mãe
de três crianças que dependem de mim para tudo, sabendo que eles queriam se
livrar dela, que nunca tinha tido o carinho e amor deles. Nesse mesmo dia, eles
saíram e eu como sempre, levei a criança para minha casa, já que eu não podia
deixar os meus filhos durante a noite, sozinhos, no outro dia, quando voltei,
fui dispensada, me disseram que não poderiam pagar mais o meu salário, aquilo
me deixou triste, mas só pelo fato de saber que a menina ficaria com eles e pelo
que estavam pensando em fazer, fiquei arrasada. Mas não havia o que pudesse
fazer, fui embora daquela casa com o coração em pedaços, mas tinha que
continuar com minha vida, por coincidência, eu consegui outro emprego na mesma
rua, e sempre que podia, eu ia vê-la. Percebi que ela tinha perdido peso,
estava sempre suja, não sorria mais e nem conseguia brincar com as outras
crianças. Quando estava no jardim, ficava num canto olhado para o nada, percebi
vários machucados nela, e um dia, eu os vi a levarem correndo para o hospital,
tinha quebrado o braço, disseram que ela tinha caído da escada, mas eu sabia
que isso era mentira. Há três dias, eles foram viajar e deixaram a menina
trancada em casa, eu estava indo embora quando vi o carro da polícia batendo na
porta, e fui ver o que tinha acontecido e quando eles me disseram que os dois
sofreram um acidente e que não tinham sobrevivido, eu logo perguntei da criança,
mas me disseram que no carro não tinha nenhuma criança. Tiveram que arrombar a
porta e a encontraram dentro do quarto, no escuro com uma garrafa de água e
alguns pães.
Isso tudo é demais, estou muito
chocado com o relato. Pasmo, pergunto:
― O que aconteceu?
― O óbvio. Eles foram viajar e a largaram
sozinha, nem pediram para que alguém tomasse conta, isso para mim foi desumano
da parte deles, os policiais queriam levá-la embora, mas, eu disse que ele não
era o pai verdadeiro, então fomos procurar pela casa, e encontramos o registro
da menina e nele estava escrito o nome de Sophie Gatti, tinha também o
resultado da clínica e esses documentos com o endereço e o nome do senhor
escrito e uma foto com a senhora Sara, eu me lembrei de que quando eles
brigaram, ela disse que o pai da criança morava no Canadá. Então, juntas, fomos
pesquisar pelo sobrenome, que até hoje eu não entendo o porquê de ele não ter
colocado o dele, mesmo sem saber que a menina não sua filha, mas isso não vem
ao caso agora, encontramos sua empresa, e também o endereço de onde morava e decidimos
vir até aqui, trazer sua filha.
Depois que ouvi tudo que essa
mulher me falou, eu ainda não acreditava que a criança em minha frente era
mesmo a minha filha, e como a sua mãe foi capaz de maltratá-la tanto, só porque
ela não era filha do maldito com o qual ela fugiu.
― Eu, sinceramente não sei o que
dizer, ela foi embora com a minha filha na barriga, estava com cinco meses de
gestação, levou todo o meu dinheiro. Contatei até um detetive para achá-los,
mas foi em vão, parecia que eles tinham sumido da face da terra. Onde ela
morava com a minha filha?
― Eles moravam em Brighton, fica
distante da Inglaterra, talvez o detetive não imaginasse que ela iria para um
lugar desses, e por isso não procurou em certos lugares. O senhor vai ter que
ir até lá, liberar os corpos, pois senão, eles serão enterrados em qualquer
lugar e ainda tem a casa que ficou.
― Deixe que eles sejam enterrados
como indigentes, para mim pouco importa, assim como a casa, não quero nada
deles, não preciso. Vou ver com os meus advogados em qual nome está essas
casas, se estiver no nome da minha esposa, quero doá-la para a senhora Agatha,
que cuidou da minha filha e ainda está tendo o trabalho de vir até aqui trazê-la
para mim.
― Eu trouxe a documentação da
criança e outros que o senhor deve assinar, assumindo a custódia dela, já que a
sua mãe morreu. Quando voltarmos, informarei ao delegado que o senhor não irá
reclamar o corpo de sua ex-mulher, que pode enterrar, mas faremos uma lápide
com o nome dos dois, e mandarei tudo pelo correio, quem sabe quando a criança
crescer, se desejar saber onde a sua mãe foi enterrada, poderá ir até lá.
― Se depender de mim, jamais a
minha filha irá até esse lugar, ver um ser que nem pode ser chamada de mãe ―
estou revoltado, mas tento me acalmar e mudo de assunto. ― Quando as duas
pretende voltar?
― Ficaremos em um hotel hoje e
pretendemos comprar as passagens para amanhã mesmo, são quase dose horas de
voo, e pretendemos estar com nossa família na segunda-feira.
― Não será necessário que se
hospedem em um hotel, podem ficar aqui, que eu mesmo vou ver as passagens para
vocês, não se preocupem com nada. E Agatha, por favor, me deixe seu endereço e
um telefone para que eu possa entrar em contato junto com os advogados, para
falar sobre a casa.
― Obrigada senhor.
― Emma, por favor, as coloque no
quarto de hospede, elas irão ficar essa noite aqui. E Emma, essa e Sophie,
minha filha.
― Graças a Deus, acharam sua
filha, senhor.
― Sim!
Olho para a menina que não tirava
os olhos de mim, eu só não sabia como proceder agora que a encontrei, tinha me
preparado para ser pai há seis anos e depois disso, tinha até desistido, eu só
sabia de uma coisa, pelo que foi me contado, a minha filha precisaria de ajuda.
Vou até ela, me sento ao seu lado, pego sua mão e seguro firme na minha, ela me
olha e se vira, olha para as duas mulheres em sua frente.
― Sophie, eu sou o seu pai, e a
partir de hoje, ninguém nunca mais irá lhe fazer mal algum, você terá todo amor
que precisa, um quarto lindo, que juntos vamos decorar, e muitos brinquedos e
novos amiguinhos. Você quer?
Ela não responde, mas sinto que
ela aperta a minha mão com mais força, espero que isso seja um sinal de que ela
tenha intendido tudo o que fale, sei que vai demorar, mas irei mover o mundo se
for preciso, para que a minha filha seja normal novamente.
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Atualizado até capítulo 57
Comments
Eliane Ricci
nossa tantos maus tratos de quem teria que proteger ela coitada até chorei 😿
2023-05-27
5
Noeme Gadelha
Que história mais 😢😢😢😢
2023-05-04
0
ʎqǝᗡ 🐝
💔😭💔😭💔😭💔😭💔😭
2023-01-10
0