CAPÍTULO 02 - JOELMA

Saio do meu quarto e mais uma vez

tinha passado da hora de me levantar, o silêncio me diz que minha filha ainda

não acordou, mas não encontro Pedro na cama. Vou ao banheiro fazer minha

higiene e assim que termino, me arrumo e, saio do quarto, mas quando eu chego

ao corredor, vejo Pedro sair do quarto de minha filha, o que me deixa

desconfiada e como ele está se arrumando, ou melhor, arrumando sua calça,

espero ele descer e entro no quarto de Bia, não a vejo na cama, que está uma

bagunça só, escuto o chuveiro, vou até o banheiro e quando chego, posso ver que

ela está chorando, sigo em passos lentos e abro o box, o que vejo me deixa

horrorizada, minha filha tem marcas por todo o corpo, seu olhar para no meu e

suas lágrimas continuam caindo.

―O que aconteceu Bia?

― Não foi

nada, mãe!

Como assim

não foi nada, Beatriz? Que marcas são essas pelo seu corpo?

― Não, por favor, esquece isso

mãe!

― Quero que me conte o que está

acontecendo, eu vi o Pedro sair do seu quarto, se arrumando.

― Eu não posso contar mãe! Se eu

falar, ele vai matar nós duas como ele matou o papai.

― Do que você está falando?

― Ele disse que foi ele que matou

o meu pai, porque ele tinha descoberto o que ele fazia, e como ele iria à

polícia contar e por isso que ele mexeu nos freios do carro e meu pai não

conseguiu parar.

― Filha, eu quero que me conte

tudo o que ele vem fazendo com você e desde quando isso acontece.

Minha filha me olha e começa a

dizer que desde antes de Pedro vir morar com a gente que ele passava a mão

nela, que depois do casamento, ele foi ao seu quarto na nossa primeira noite, e

isso não parou mais, e que vem acontecendo há dois anos, quando ela tinha

apenas 13 anos.

A dor que estou sentindo nesse

momento não tem como ser descrita, o meu peito aperta tanto. Como isso pode ter

acontecido dentro da minha própria casa e eu não ter percebido?

Depois que o João morreu, o Pedro

se tornou alguém muito importante em nossas vidas, sempre estava presente e

quando ele me pediu em casamento, eu só pensei que a nossa vida poderia mudar,

eu conseguiria manter a nossa casa e manter os estudos de minha filha, sem ser

preciso tirá-la da escola particular, fiz isso pensando em seu bem-estar, mas

agora vejo que errei. Nunca imaginei que o Pedro poderia ser esse monstro.

― Filha, termine seu banho e se

arrume para escola, que eu já venho arrumar suas coisas ― passei a mão em seu

rosto. ―Não se preocupe, isso vai terminar hoje, e me

desculpe, eu nunca imaginei que você estava passando por isso e me sinto

culpada.

Saí do seu quarto e fui até o

meu, eu não conseguia chorar, o bolo que se formou em minha garganta deixava

até mesmo as minhas lágrimas presas. Vou até onde ficam as nossas

documentações, pego tudo, o cartão do banco com os dados da conta corrente onde

era depositado o valor todo mês da pensão do meu marido, o cartão da poupança

que ele fez para a faculdade de nossa filha, tudo que pudesse dar a ela uma

vida digna. Com isso ela teria algo para começar a viver novamente. Sigo de

volta para seu quarto, quando chego, vejo que ela já está arrumada, vou até a

sua mochila e coloco tudo bem escondido, por cima deixo seu material escolar.

― Filha, depois de pronta, desça

para tomar seu café, vou pegar algo dentro do meu quarto e já desço, deixe que

eu leve sua mochila quando descer.

― Está bem, mãe!

Vou para o meu quarto, pego uma

folha e a caneta. Fico um tempo pensando como começar o que preciso dizer. Não

posso demorar muito, por isso me apresso.

Filha, quando você nasceu foi o melhor

presente que Deus nos deu, ficamos tão felizes com a sua chegada, a felicidade

de seu pai ao te pegar pela primeira vez, foi inesquecível.

Ver você crescendo e se tornando o nosso motivo de

viver, era a nossa alegria. Quando seu pai nos deixou, imaginei que me casando

com outro, eu a continuaria dando o mesmo conforto, mas hoje vi que me enganei,

vejo que errei ao colocar um monstro dentro de nossa casa, mas, eu juro que ele

nunca mais irá tocar em você novamente.

Perdoe-me filha, e nunca se esqueça de que

tanto eu, como seu pai, sempre te amei muito, estou deixando junto com essa

carta uma foto nossa para que toda vez que você sentir saudades, a olhe e nunca

se esqueça da gente.

Eu a amo muito, e espero que você encontre uma

família que possa te dar todo o amor que você precisa para continuar sua vida,

espero que esses dois anos que sofreu calada possa ser apagado de sua memória,

e que seja forte para enfrentar qualquer obstáculo que a vida colocar em sua

frente novamente, seja uma mulher forte e determinada.

Eu sempre estarei com você por toda sua vida.

Beijo meu anjinho e perdoe essa mãe que a ama

mais que tudo.

Com todo o meu amor, sua mãe.

Dobro a carta e saio novamente do

meu quarto, entro no dela e pego sua mochila, deixo a carta com os documentos,

fecho e começo a descer as escadas, vou até a cozinha, onde a encontro e Pedro

tomando café. Olhar para aquele monstro me dá nojo, mas eu não posso demonstrar

que sei o que ele fez, senão o meu plano não dará certo.

― Bom dia amor! ― saúda quando me

vê.

― Bom dia ― respondo o mais

natural que consigo.

― Hoje eu vou trabalhar só à

noite, passarei o dia em casa, é bom ficar com a minha mulher.

― Fico muito feliz por ter você

em casa o dia todo.

― Sabia que ia gostar, pena que a

Bia tem que ir para a escola ― ele olha para ela e minha raiva aumenta.

― Ela não pode faltar, hoje tem

aula importante, não é Bia?

― Sim mãe!

― Como você ficará em casa hoje,

pode escolher o almoço que quiser, eu faço.

― Gostei, quero comer carne de

panela, amo muito quando você faz.

― irei fazer e farei também um

puré de mandioquinha que sei que gosta também.

― Então, hoje eu terei o melhor

almoço de todos ― diz ele.

Você nem imagina, penso dando um

sorriso sem mostrar os dentes.

― Com certeza meu amor, esse

almoço será o melhor de todos.

Vejo minha filha se levantar da

mesa, ainda triste, ela vai para o seu quarto escovar os dentes, volta e pega

sua mochila, se despede de Pedro que a abraça forte, passa a mão pelo seu

rosto, se levanta e sai da cozinha, essa cena me dá nojo. Ela vem até a mim, eu

a abraço, me seguro para que as lágrimas não caiam, pois esse será o último

abraço que darei a minha filha.

Vou com ela até a porta, segurando sua mão e quando

vejo o carro da escola parado na porta, me viro para ela e digo.

― Nunca se esqueça de que eu a

amo, independentemente de qualquer coisa, não me julgue, você é o melhor

presente que Deus nos deu.

― Por que está falando assim,

mamãe?

― Por nada meu amor. Agora vá...

Ela se afasta e entra no carro

escolar. Vejo-o sair e agora eu deixo as lágrimas caírem, e respiro fundo,

volto para dentro de casa, limpo meu rosto, vou arrumar os quartos, depois

desço e vou preparar o almoço.

Depois de pronto, vou até o

armário de limpeza e pego um frasquinho que tem lá, despejo todo o seu conteúdo

na carne, espero um tempo para que o conteúdo do frasco incorpore à comida,

hoje até pimenta eu coloquei para que nada fosse percebido. Arrumo a mesa, e

vou até a sala onde ele está assistindo televisão.

― Amor, o almoço já está pronto e

servido na mesa ― ele abre um sorriso para mim. Não correspondo, em vez disso,

digo. ― Como estou com muita dor de cabeça, irei me deitar e só vou almoçar

quando a Bia chegar, você se importa de comer sozinho?

― Não me importo! Pode se deitar,

depois que comer, eu arrumo a cozinha, e quando a Bia chegar, eu mesmo vou te

chamar.

Vou para o quarto, me sento na

cama e espero por uma hora, estou muito nervosa, mas não vejo alternativa. Saio

do quarto, vou descendo as escadas devagar e quando chego à cozinha, o vejo

ainda se debatendo no chão, olho para ele, não consigo sentir pena.

O que ele fez com minha filha não

tem perdão, antes de fechar seus olhos definitivamente, ele me olha, mas a

minha dor é muito maior em saber que ele matou meu marido e abusou de minha

filha por dois anos, isso acabou comigo. Ando até a pia, pego um copo com água,

ligo todas as bocas do fogão, pego uma vela na gaveta, saio da cozinha e subo

as escadas em direção ao meu quarto. Quando chego, abro a gaveta da cômoda, e,

pego três comprimidos e tomo todos de uma vez só, vou até um canto e acendo a

vela em cima da mesinha, me deito. Só espero que o remédio faça efeito antes

que as chamas cheguem até a mim.

Agora eu realmente vou encontrar

quem realmente amei e que nos amou, sinto os meus olhos se fechando e ao mesmo

tempo posso sentir o calor se apoderar do quarto, agora não tem mais volta, só

peço a Deus que cuide de minha filha. A escuridão toma minha vida, estou em

paz.

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Comments

Ana Maria Rodrigues

Ana Maria Rodrigues

eu teria pego minha filha e sumido morrendo ela ficaria sozinha e até conhecer pessoas piores que ele

2024-04-07

1

Maria Aparecida Monteiro Firmino Cida

Maria Aparecida Monteiro Firmino Cida

forte demais

2024-02-14

2

Genilda Batista

Genilda Batista

Minha nossa, que capítulo é esse minha gente

2024-02-12

0

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