Lívia...
Quando fui informada que chegaria
um novo interno eu não imaginaria que seria um garoto, quando ouvir Álvaro
falar sobre a descrição que criei na minha cabeça era um homem bem mais velho,
fiquei surpresa quando ele desceu do carro, a minha primeira visão foram os
tênis e quando meus olhos encontraram o rosto dele fiquei paralisada, ele no
mínimo deveria ter uns 16 anos, sobrancelhas bem escuras e delimitadas, um
cabelo bagunçado mais notório o quanto macio eram, seu rosto era fechado mais
não representavam o olhar perdido, ele parecia uma pintura feita por um artista
que estava em dia chuvoso a mistura de frustração e vontade de viver brigavam
de uma maneira intensa
Eu fui puxada para a realidade
quando ele disse as primeiras palavras, ele era muito ríspido e grosseiro, sua
voz tinha um timbre tão autoritário que chegava a doer no ouvido
Eu ganhava para atender os
telefones e anotar alguns pedidos dos moradores, então minha convivência com
ele seria mínima, algo nele me chamou a atenção mais não posso me esquecer que
tenho um namorado, e isso causaria um transtorno e Álvaro poderia me expulsar,
eu perdi meus pais a pouco menos de 1 ano, só Fernando sabe e Hellen sabem, eu
sou menor de idade se alguém descobrisse eu seria levada por um conselho
tutelar só Deus sabe para onde
A ideia de sair dali até me
arrepia, isso era minha motivação diária para aguentar algumas grosserias sem
perder a capacidade de sorrir, não fazia ideia do que me aguardava mais meu
choque foi grande, quando vi o carro do meu namorado estacionando e as portas
se abrirem revelando aqueles olhos intensos, eu tremi.
Não era algo de semanas ele
estudaria aqui, até quando? Tentei manter uma postura e me voltei para minhas
amigas mais a presença dele não passou desapercebida, Ágata era uma garota
volátil demais, e ela adorava o fato de se envolver com os novatos
-Gostei dele, vou pegar! Ela abriu um sorriso malicioso quando eles se
aproximaram
Enquanto Ágata se atirava para o
rapaz, Fernando se aproximou e deu um beijo em minha testa e disse como que em
um sussurro ‘Tenho uma coisa para você na mochila’
Ele sempre dava um jeito de me
ajudar com dinheiro, alimentos, o que ganhava quase não pagava as contas, ele
era muito protetor comigo, ele nem me deu tempo de rejeitar a ajuda e já se
afastou, ele teria um dia complicado com o Santiago, a revolta dele iria causar
muita dor de cabeça.
Entrei na sala de aula, e me sentei
no lugar de sempre, fiquei observando ela começar encher de alunos, o silencio
havia dado lugar para um barulho, eu abaixei a cabeça para pensar um pouco
quando enfim o sinal tocou, quando me ergui meu coração acelerou mais que um
carro que lutava pra vencer uma corrida, ele estava na mesma sala que eu, minha
presença ali foi ignorada ele se sentou próximo a uma das janelas e ficou
quieto, o professor que entrou o apresentou a turma mais ele parecia
indiferente, silenciado no seu próprio mundo, que legal! Agora ficaria mais
difícil evitar ele, em um relance eu olhei em sua direção e nossos olhos se
encontraram, tentei abrir um sorriso amigável mais ele simplesmente revirou os
olhos e voltou sua atenção para a caneta que ele girava entre os dedos
Primeiro sinal tocou, todos
saíram desenfreados porta a fora eu me mantive em meu lugar, queria anotar
algumas coisas, e sabia que Fernando apareceria isso se ele não tivesse duas
aulas seguidas. Olhei de canto e Santiago ainda estava sentado em uma postura
relaxada, com fones em um tom tão alto que u conseguia ainda escutar a música The way, não sou fã dessas batidas
eletrônicas acho que elas desorientam nossos neurônios
Não demora muito para Fernando
aparecer na porta, ele abriu um largo sorriso cheio de animação, ele estava
suado e pegajoso mais isso não foi empecilho para ele me dá um abraço.
-Fiz um gol para você! Ele diz em
um tom orgulhoso, por um momento ele pareceu não notar que não estávamos
sozinhos e me entregou a sua mochila –Isso vai ser suficiente para uns três
dias...
Eu dou um sinal para ele olhar
para o lado e ele então segue minha orientação seu corpo enrijece ao ver
Santiago ali, mais ele parecia nem ter notado que Fernando chegou a música alta
e a cabeça inclinada para o chão, ele estava fora de orbita naquele momento.
O sinal tocou novamente e uma
professora entrou e já olhou feio para Fernando que deu de ombros e a rodou em
um passinho de dança desajeitado, ela sorriu com o besteirol e logo se colocou
em frente ao quadro para escrever, os demais alunos começaram a entrar na sala
minha atenção ficou voltada para a explicação dela, eu gostava de química, era
uma das minhas matérias favoritas, foram 40 min de aula, mais para mim pareciam
ter se passado somente 2 min. Quando todos começaram a sair eu comecei guardar
minhas coisas, na bolsa, uma silhueta parou em minha frente, o perfume que
exalou era forte e mais tinha um aroma agradável, eu segui com os olhos aquele
corpo até chegar no rosto, engoli a seco ao ver quem estava parado em minha frente
-O lugar que você falou, pode me levar lá hoje? Santiago estava com as mãos no bolso e uma expressão neutra me encarado
a espera de uma resposta
-Do Parkours? Pergunto
-Sim! Ele responde rápido quase cortando meu raciocínio –Queria praticar, se
não puder me levar ao menos explique!
-Posso sim! Sorri para ele mais não tive um retorno –
Fernando também conhece o local caso não consiga te levar ele pode! Ele mal me
deixou terminar a frase – Te vejo mais tarde... ele saiu sem nem esperar uma
resposta minha
Ele era enigmático mais a
grosseria dele o tornava uma pessoa de difícil acesso, Já estávamos
liberados... hoje seria uma palestra entre os professores, peguei minha
bicicleta e coloquei a mochila do Fernando na garupa mais antes que eu pudesse
sair ele me para
-Liv, espera! Eu gostava quando
ele me chamava assim, era carinhoso e eu sinto falta disso nele as vezes!
-O que foi?
-Vem com a gente, eu te deixo em casa. Ele me abraçou me guiando para o carro
–A bicicleta colocamos na porta mala de algum jeito...
-Eu posso ir nela! Santiago disse
a encarando, eu e o Fernando nos entre olhamos sem acreditar nisso, mais ele
logo tomou ela da minha mão e me entregou a mochila dele, eu sem questionar
entrei no carro, e fiquei observando ele mexer nas marchas
-Ele sabe andar? Perguntei e vi Fernando dá de ombros tão confuso como eu
Eu fiquei analisando a maneira na
qual ele desviava dos carros, meu namorado o acompanhou com uma velocidade
parecida para não perder ele de vista, Santiago era realmente um mistério, um
play boyzinho de cidade grande que praticava esportes de ruas? Eu podia estar
bancando a ignorante nesse assunto mais nunca que alguém do padrão dele teria
esse tipo de comportamento, ele era veloz, irresponsável, o vi quase acertar um
carro duas vezes, eu estava preocupada mais não conseguia parar de admirar, os
cabelos dele estavam soltos ao vento, fico imaginando o quão macio seria
enroscar as mãos neles, mordi o lábio quando sentir o corpo eletrizar com esse
pensamento
-Esse cara é louco, gostei dele!
Fernando falou entusiasmado
Assim que estacionamos em frente
à minha casa ele me entregou a bicicleta, o sorriso de satisfação dele era
enorme, eu me despedir dele e o meu namorado rapidamente e entrei em casa, meu
coração estava a mil, que estava ainda com os pensamentos que estavam me
atormentando, eu entro no meu quarto e pego uma roupa limpa e minha toalha e
vou direto para o banho, meu chuveiro havia queimado a alguns dias e não tive
coragem de pedir Fernando para ver isso para mim, ele aqui em casa sozinhos não
era uma boa ideia. Sair rapidamente daquela agua fria e vesti uma roupa
quentinha, abri a mochila que ganhei e tinha algumas coisas como frutas,
biscoito e sorvetes, ele me enchia de guloseimas será que ele achava que eu
precisava engordar? Mordi os lábios e me voltei para minha geladeira, precisava
comprar algumas coisas mais amanhã faria isso
Peguei um pote onde tinha frango
desfiado do almoço de ontem dou uma cheirada e ainda estava bom então esquento
e faço uma salada com umas folhas de alface e algumas frutas que havia ganhado.
Me sento na enorme mesa e fico me lembrando quando tinha meus pais,
costumávamos comer aqui todos os dias, conversávamos coisas aleatórias entre
risos. Solto um suspiro e fecho os olhos tentando segurar a lagrima que queria
cair
O gosto do meu almoço tinha um
sabor de saudade e dor, desceu entalando, tomei uma agua para ajudar empurrar
mais não conseguir terminar, eu me sentia sozinha, queria gritar para o mundo
que estava sozinha, eu queria um abraço forte me dizendo que tudo agora não era
só minha responsabilidade que eu teria ajuda.
Eu sentia falta de Otavio por
isso, ele me fazia esquecer um pouco tudo aquilo, mais não sabia quando ele
iria voltar, solto um último suspiro e me troco mais uma vez, Álvaro não gostava
que usasse roupas muito justas ali, eu era funcionaria dele então tinha que
obedecer. Opto por vestir minha calça de sempre e um moletom, quando estava
trancando o portão me assusto com o carro de Santiago parado em minha porta, eu
olho em direção a BMW X4 M40i Era um senhor carro, eu não tinha notado quando ele havia chegado eu me
aproximei um pouco receosa mais ele logo abre um sorriso
-Vim, te buscar para irmos a
pista que você falou. Ele abriu a porta e me encarou – Fica de boa, Fernando e
Álvaro saiu com a loirinha rabugenta e só voltam as 17horas, temos tempo!
Soltei um suspiro e me
agarrei a bolsa e entrei, ele fechou a porta e rodou entrando pelo outro lado,
o cheiro era muito gostoso, misturou o aroma de lavanda com o do perfume dele,
o ar condicionado deixou o carro bem frio, ele ligou a chave e deu ré eu
expliquei a ele o caminho e ele foi ia seguindo as instruções, assim que
chegamos lá, pensei em ir embora e deixar ele sozinho, mais ele se sentou na
pista de skate e fez um gesto para que me senta se ao seu lado, eu relaxei um
pouco e me sentei um pouco distante
-Eu não mordo, sabia? Ele
diz encarando o céu
-Eu sei, mais você não aparenta gostar de muita proximidade, Ele se volta para
mim com um olhar sombrio –Quero dizer...
-Não Diga nada! Ele me corta – Eu não queria estar aqui, por isso sou tão
fechado. Ele faz aspas com os dedos
E nesse primeiro momento
vejo que ele usa vários anéis, Santiago tinha um estilo único, era diferente
dos que eu conhecia, todos muito engomadinhos ou os internos, que gostavam de
preto e viviam sempre como mafiosos eu não evito de rir do meu próprio
pensamento
-Que foi? Ele perguntou
notando minha crise de risos
-Lembranças engraçadas. Me encolho e fico encarando a pintura na quadra
-Qual o lance.... o toque do
meu celular interrompe ele de continuar rapidamente pego o aparelho e vejo uma
mensagem de Álvaro
“Se uma pessoa com o nome
Beltron ligar, não deixe de me avisar”
Conhecendo ele como conheço
ele não gosta de ser interrompido, ou seja, era importante eu me levanto
rapidamente e o encaro que fica confuso
-Eu preciso ir... ou uma
pausa – Álvaro me mata se perco alguma coisa dele! Ele me olha um soslaio e se
levanta mostrando o quão mais alto que eu ele era, aquele cheiro de lavanda
invadiu minhas narinas quase que me embriagando
-Vamos! Ele me puxa pela mão
sem espera qualquer resposta, entramos no carro e com menos de 2 minutos
chegamos, eu pulei rapidamente para a recepção, e graças a Deus não tinha
nenhuma chamada no identificador, eu soltei o ar que estava preso em um alivio
avassalador um sorriso de paz apareceu e então me lembrei que não estava
sozinha, olhei para a frente e ele encarava a o tapete, ouvi o barulho o seu
corpo se chocar com o sofá e ele relaxar.
-Lívia... Escuto meu nome! –
Cadê os documentos que Álvaro deixou para mim?
Raul, um dos irmãos do meu
chefe, um homem charmoso que uma vez ou outra aparecia para dá o ar da sua
graça, gostava da postura ereta e um ar de nômade que ele tinha, se eu não
fosse cética diria que ele saiu de outra época, cabelos grosseiramente escuros
envolvia aquela pele pálida, eu quando o conheci costumava achar que era um
vampiro, mais notei que estava imaginando coisas
-Estão no escritório dele,
ele disse que quando viesse pegar podia te deixar entrar! Ele abriu um meio
sorriso e foi para o escritório ignorando a presença de Santiago que se
mantinha encolhido, eu fiquei o encarando por um longo tempo.
Ele tinha um rosto tão
angelical, não combinava nada com a arrogância que ele transmitia, sua boca era
tão desenhada, fico imaginando como seria beijar ela, tentei desviar o olhar
mais estava ficando impossível até que o vejo me encarar, meu corpo gelou, ele
abriu um sorrisinho descarado e ficou um longo tempo me encarando
- O que tanto você olha? Ele
quebra o silêncio
- Só estava procurando algo
mais já encontrei. Mentir
Ele se levanta e se aproxima
ficando a poucos centímetros de mim, seus olhos capturaram os meus de uma
maneira tão intensa que não conseguir desviar
- O que você precisava\,
estava na minha boca? Ele diz abaixando a cabeça olhando para meus lábios e
voltando para os meus olhos, um sorriso malicioso surgiu quando achei que ele
me beijaria ele se afastou
- Seu namorado pode não
gostar Liv... Um misto de medo e
frustração me atingiu, o que estava acontecendo comigo? Eu podia jurar que
estava corada, com pouco mais de 20 minutos Hellen apareceu com um sorriso de
orelha a orelha na porta vindo em minha direção, assim que Álvaro cruzou a
porta ficando no meu campo de visão o alertei sobre seu irmão está em seu
escritório, ele sorriu gentilmente e foi para lá, estranhei não ver meu
namorado mais já imaginava que ele teria outras coisas para resolver com o time
de futebol ele sempre sumia nas segundas e nas quartas para jogar, e naquele
momento eu precisava disso
-E aí como foi aguentar o
garoto chato? Ela me fitou com uma expressão curiosa
-Ele foi legal! Respondi evasivamente – Conversamos bem pouco!
-Espera! Ela deu um baque
para frente –Sua pupila dilatou na hora que falou dele! Droga... Hellen era a
pessoa mais observadora que eu conhecia
-Está enganada, eu gosto do
Feh! Menti descaradamente, ela sabia que meu namoro com ele era mais gratidão
que amor...
-Lívia cuidado, aquele
idiota tem cara de que gosta de brincar com as meninas! Ela me alertou – Ele
parece ser uma cópia piorada do Fred
Uma cópia piorada do Fred...
aquela frase me fez lembrar de quantas garotas ele partira o coração em menos
de um ano e em como aquilo não lhe causava um remorso sequer
Estava ficando tarde eu
tinha acabado de fechar o portão quando avistei o carro do meu namorado, ele
estava estacionado a pouco mais de 100m da mansão, eu encarei com um pouco de
dificuldade, mais o que vi me fez estremecer, ele estava com uma garota, ela tinha
cabelos longos e escuros assim como os meus, mais seu rosto era um mistério a
luz do farol aceso não estava ajudando muito a minha visão, mais eles pareciam
apenas conversar, Fernando era popular ele tinha amigas, e eu não seria a
namorada ciumenta que faria uma cena por isso, não queria não podia, não devia,
eu desviei meu trajeto normal e voltei para casa, queria tomar um banho e
pensar em tudo que tinha acontecido, eu estava começando a sentir algo por
alguém que eu acabei de conhecer? Isso não era bom, eu tinha que deletar isso
da minha cabeça.
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Atualizado até capítulo 118
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