Dias atuais...
Santiago...
Como eu consigo detestar tanto um lugar? Meus pais me
castigaram da maneira mais inclemente [A1] possível.
Me mandando para uma cidade no meio do nada, será que nesse fim de mundo tem
sinal de telefone? Imediatamente retiro meu aparelho celular do bolso e noto
que tem sinal “Ao menos isso” penso comigo mesmo! Dou pequenos passos e paro em
frente a um grande portão cor cinza, fico um tempo encarado o lugar, tudo era
muito organizado, parecia que o dono ou dona era daquelas pessoas que tinham
TOC. A constar por tudo alinhado, enfim toco o interfone e uma voz suave
feminina surgi
-Bom Dia, em que posso ajudar? A voz do outro lado perguntou
calmamente eu me aproximei e respondi em um tom ríspido
-Lopez, tenho uma reserva! Com alguns segundos ouço o enorme portão começar a
se abrir
Entro novamente no carro e arranco para dentro do local,
observo cada detalhe, tudo muito alinhado, cores vivas e um ambiente bem
juvenil, não sei que tipo de hospedes eles costumavam ter mais observando as
quadras a área de laser com jogos de mesa era uma espécie de internado, meu pai
mostrou realmente que me odeia eu ia ficar preso em um internato?
Uma moça e cabelos escuros e longos se aproximou sorridente,
ela parecia ser da minha idade, e com certeza precisava de um banho de loja, ou
uma ‘personal Stilys’ como diz minha irmã
-Bom Dia, sou a Lívia, você deve ser o Santiago Lopez,
correto? Ela falava tudo muito no automático, era como se passasse horas em
frente ao espelho ensaiando as frases prontas
-Sim! Respondo seco e de cara fechada, não estava afim de papo
- Qual minha sela? Abro um meio sorriso para ironizar e ela ergue uma
sobrancelha em desaprovação
-Vou te levar ao seu quarto! -Ela se vira e então a sigo, ao passar pela enorme
sala fico admirando o enorme quadro, era um tipo de playgame, tinha troféus,
quase nem notei a presença de uma outra garota, loira de olhos grandes, seu
semblante foi de seriedade para um tipo de nojo, já vi que eu teria uma
companheira de prisão insuportável
-Hellen, seu pedido já
está na cozinha! Lívia diz sorrindo e ela retribui, e se levanta para ir até o
outro cômodo, subimos uma escadaria e enfim o primeiro andar assim como o
restante da casa, era tudo perfeitamente e milimetricamente calculado para nada
sair do lugar
-Esse é o andar dos homens! Aqui na pousada dividimos as alas para não ter
nenhuma dor de cabeça! - Ela me mostrou todo o andar, tinha uma sala de leitura
com uma biblioteca, outra sala com um telão enorme para jogos, passei
rapidamente as vistas pelo local, ela mostrou também o jardim que pela grande
janela da sala
-Ali tem uma quadra de basquete e tênis caso goste de
esportes...
-Parkuour[A2]
... - A
interrompi
- Temos um parque no fundo da mansão\, e lá muitos praticam\, se quiser te levo
lá! -Ela sorri e acena com a cabeça para que eu a siga, paramos em frente a uma
porta, 81, ela pegou uma chave e a abriu, e me entregou a mesma logo em seguida
-Tem um telefone ao lado da cama, pode ligar para recepção
caso precise de algo! - Eu a agradeço e a vejo sair fechando a porta
Olho em volta, minha mãe sabia meu gosto, ela deve ter
decorado de acordo a ele, me sentir no meu quarto, as paredes de tons claros, uma
enorme cama no canto ao lado de uma janela, os livros enfileirados de acordo
aos autores, até mesmo o lençol da cama remetia aos que Monica a governanta da
minha casa colocava semanalmente, joguei minhas malas em cima da cama e comecei
a desarrumar, entrei no banheiro para colocar meus produtos de higiene pessoal,
não conseguir segurar um riso que se formou em meu rosto
Lavanda, as flores no lavabo tinham um recado por trás, abro o
pequeno armário e coloco minhas coisas, assim que termino e volto para meu
quarto escuto bater na porta e vou até ela e abro, um garoto alto de ombros
largos, ele parecia aqueles atletas idiotas de romance americano, cabelos
escuros como seus olhos um ar arrogante, ele me encara por um longo tempo até
estender a mão direita em um cumprimento amigável
-Olá, sou o Fernando! Eu estendo a mão de volta
-Santiago! Respondo e me viro voltando a minha mala, ele entra
me acompanhando
-Qual a merda que você fez para vim parar aqui? Ele se senta na poltrona se
ajeitando para ficar confortável
- Coloquei fogo no escritório do meu pai\, e agredir minha irmã com um espeto de
carne, e você? Eu ganho um olhar surpreso e ele abre um sorriso bem largo
-Problemas com bebidas, isso aqui é um centro para jovens com problemas. Ele se
aproxima de mim e me chama para ir até um lugar com ele
Na sala e jogos tinha um enorme tapete ele trancou a porta e
puxou o tapete mostrando assim uma porta, aquilo deve ser uma espécie de
calabouço, eu o segui e lá em baixo tinha arsenal de bebidas, entre outras
coisas ilícitas
-O dono daqui tira dinheiro dos nossos pais tentando nos curar
mais no fundo ele nos alimenta para nos tornar piores
Eu olho mais uma vez o local, pelo visto não seria um castigo
tão grande assim
-Qual o problema da Lívia e da loirinha? Elas parecem ser normais. -Faço aspas
ao citar os normais
-Lívia é minha namorada, ela apenas trabalha aqui, já a loirinha é a Hellen ela
tem uma espécie de Boderline mais é a queridinha do dono então não mexe com ela
ou vai se ferrar! - Voltamos ao solo ele me alertou sobre os horários e como
funcionava as refeições, mas não tinha intenção de dormir ali hoje
Assim que terminei de arrumar minhas roupas tomei um banho
rápido e peguei minha mochila, desci rapidamente as escadas, e me deparo com o
olhar de repreensão da loirinha de mais cedo
-Tem permissão para sair? Ela diz me vendo ir em direção a
porta
-E da sua conta? -Repondo na lata e ela me fuzila
-Álvaro não gosta que saímos a noite sem permissão! -Revirei os olhos e ignorei
totalmente a existência dela
Liguei o carro e apertei o pequeno controle que tinha na chave
do quarto e estava certo, ele abria o portão principal, ao passar pelas enormes
grades vi Fernando e Lívia conversando do lado de fora, ela estava escorada de
frente pra ele e as mãos dele seguravam sua cintura como se estivesse mostrando
controle de seu quadril, e que quadril, ela se vestia mal não dava pra negar
mais vendo a enorme camisa pressionada em seu corpo debaixo de todo aquele pano
escondia um baita corpo, mais não era da minha conta, até porque eu iria fugir
logo desse lugar e nunca mais veria ninguém daqui, passei por eles em alta
velocidade, o pneu do carro cantou na curva mais a frente, adrenalina, era algo
que eu buscava para me manter acordado e firme nessa porcaria de mundo.
A noite estava fria e calma, era muito raro sentir isso, onde
eu morava costumava ser tão quente quanto um caldeirão, eu estacionei em uma
praça abandonada, tirei um maço de cigarro da mochila e o trouxe comigo, me
sentei em um banco um pouco deteriorado e peguei o isqueiro, em uma única
batida a chama surgiu acendi meu baseado e dei a primeira tragada, se meu pai
visse isso ele já diria que estava me drogando, eu não tenho ficado muito
lucido nesse último ano, quase todos os dias me drogo, odeio a sensação de
lucidez, não gosto de pensar como estou fazendo agora, minha família é a clichê
tenho dois irmãos por parte de mãe, um mais velho, Henrique que é o orgulho da
família e minha irmã caçula Raycilla, que é do atual casamento dela, por parte
de pai tenho dois
também, Imael e Michael, meu contato com Imael é zero, ele mora fora do país
com a mãe dele, e Mika, também do atual casamento do meu pai, eu me dou bem com
minha madrasta assim como me dou com meu padrasto mais meu relacionamento com
meu pai e minha mãe é a ferro e fogo
Meu pai descobriu esse lugar e me mandou para cá para que eu
pudesse me controlar, coitado! Se o que o Fernando me mostrou for real eu estou
no paraíso, bebidas liberadas, nesse fim de mundo com certeza tem festas, eu
dou mais uma tragada e olho ao redor, mais a frente tinha um casal se pegando
no escuro e do outro lado um pessoal treinando dança, é não é tão vazia como pensei...
-Oi, posso me sentar aqui? A voz era conhecida mais me virei
para ter certeza, Lívia...
- A praça é publica então... se seu namorado não se importar! Digo friamente
cortando qualquer chance de ser simpático
-Por que é tão grosso? Ela é direta eu então a encaro dou uma
última tragada e sopro a fumaça na direção dela que enruga o nariz ao sentir o
cheiro
-Eu não queria estar aqui, e não gosto de pessoas que forcem
simpatia para o meu lado, como está sendo seu caso, eu não preciso de
gentileza! Jogo a bituca no chão e piso
e começo a andar em direção dela que dá passos para trás
-Achei seu namorado gente boa, então não estraga isso me fazendo ser grosso com
você e o deixando chateado, eu esbarro no ombro dela e a deixei sozinha, olho
sobre os ombros e a vejo começar a caminhar, a rua que ela estava entrando era
escura demais, e eu ainda era consciente
-Lívia! Eu grito seu nome e ela para e me encara, eu corro me
aproximando dela novamente
-Quer uma carona? Acho perigoso você ir sozinha! Ela abre um sorriso disfarçado
e aceita eu a guio até meu carro e ela entra, ela me mostra a rua que era para
entrar mais fica em silencio no decorrer do caminho, assim que paramos em uma
casa de muro alto ela agradece e sai do carro entrando portão a dentro,
estranho o Fernando não acompanhar ela assim, eu dou de ombros e volto para
minha prisão, não queria dormir ali mais não teria jeito, o cansaço estava
apertando e não trouxe minha carteira para pagar um hotel.
Assim que passo pela porta principal, sou parado por um homem
alto, ele trajava um terno preto sem uma amassado sequer, sua expressão fria
ficou bem harmoniosa com o maxilar quadrado, seu olhar era frio e assustador
mais mantive minha postura fechada
-Santiago, aguardava você para conversarmos, me acompanhe... ele diz
direcionando a uma porta, assim que entramos ele a fecha eu analiso o lugar,
ele era bem ‘ modesto’ que tipo de pessoa faria uma pintura gigante de si
mesmo?
-Foi um presente de um ex aluno! Ele responde após perceber que eu encarava a
pintura, ele apontou a cadeira em sua frente então me sentei, fiquei um pouco
incomodado com o fato dele me encarar continuamente, era como se tentasse ler
meus pensamentos
Ele praticamente leu o manual de boa conduta do local, Álvaro
não era um bom anfitrião a paciência dele era limitada, ele me entregou uma
caixa em MDF, aparentemente meu pai havia me mandado, eu evitei qualquer
contato com ele antes de vir para cá então o infeliz procurou um jeito de me
atormentar
-Precisa abrir, caso tenha algo que não pode ser aceito aqui
dentro terei de confiscar! Ele falou rudemente então acabei pegando a chave que
veio junto e abrindo a caixa, tinha um monte de baboseiras, fotos, um lenço,
meu anel e um terço, Álvaro ficou curioso com o tal terço e me pediu para ver,
eu o entreguei e o mesmo ficou inquieto com o objeto, eu depois de alguns
minutos tomei de sua mão e joguei na caixa novamente, e me retirei do local,
antes que eu pudesse subir de volta para meu quarto sou parado no Hall
- Ele te deu alguma bronca? Fernando estava escorado no que
parecia ser uma lareira antiga, seus olhos invadiram a caixa em minhas mãos e
eu soltou um suspiro arfado
-Não, ele só queria entregar isso! Levanto a caixa mostrando a
ele e dou um meio sorriso subindo de volta para meu quarto
Fecho a porta e me jogo na cama, olhando para o teto, ele
parecia interessante contando com o fato de que tudo ali me causava tédio,
ainda não compreendia o porquê de estar nesse lugar, mais de algo tinha certeza
não seria muito tempo. O que? No máximo 2 meses? Ou até menos, me levanto para
tomar um banho precisava relaxar, saiu do banho ainda com a toalha na cintura e
olho novamente a caixa, reviro os olhos e a guardo na gaveta de baixo do criado
mudo, eu olhei para o maço de cigarro quase cheio, que evolução, hoje fumei
menos do que o costume.
Dia
seguinte...
A claridade me força abrir os olhos, queria tá sonhando mais
não! Escuto passos e conversas no corredor, me forço a levantar e lavar meu
rosto a agua estava muito fria o que me fez despertar, peguei um moletom
qualquer e me vestir, o barulho pareceu sumir quando abrir a porta, o local
estava vazio eu me arrastei até as escadas e vi umas pessoas sentadas em uma
enorme mesa.
Álvaro estava em pé parado próximo a um rapaz alto de olhos
amarelados, sua postura era mais confortável e ele tinha uma maneira mais
aberta de expressão, ele me encarou por um longo segundo e sorriu em seguida,
seus cabelos claros o fazia parecer com aqueles atores de filmes juvenis dos
anos 2000 onde as garotas brigariam pela atenção
-Deve ser o Santiago, Bem-vindo a família! Ele abre um sorriso
de orelha a orelha e ganho a atenção de todos da mesa, eu aceno com a cabeça me
sentando no lugar vazio ao lado de uma loira com cara de atriz pornô
-Muito que bem! Esse é nosso novo interno! Álvaro começou um discurso chato
–Espero que possamos fazer ele se enturmar, e mostrar a grande família que
somos! A loira ao meu lado passou o braço em volta da minha cadeira me fazendo
retrair ela era muito fria
-Bem-vindo, sou a Josy! Ela sorriu e eu para não parecer mal-educado sorri de
volta
-Fernando, você fica responsável por mostrar o colégio a ele
hoje! As palavras de Álvaro atravessaram meu ouvido como um raio, eu o encarei
e fiz uma carranca com a informação
-Como assim colégio? A pergunta saiu automática
-Seus pais me mandaram sua transferência antes da sua vinda, você tem que
estudar, o bom que estamos no início do ano você só está a 2 meses de atraso,
mais como suas notas sãos ótimas não será muito difícil você se adaptar
Transferência... adaptação... aos poucos conseguir ligar uma
coisa na outra, os meses que achei que seriam foram totalmente exumados
-Você passara todo o ensino médio aqui!
Aquela última frase me nocauteou, meu silencio foi
ensurdecedor, meu corpo entrou em uma paralisia que nem mesmo um tornado me
tirava do lugar
-Vamos? Fernando se levanta me chamando
Eu fico um tempo raciocinando até me levanta robotizado,
Álvaro ergue uma mochila e me entrega
-O que é? Pergunto pegando ela
-Tem cadernos, canetas e seus livros... Boa sorte!
Eu fecho a cara e começo a andar, Fernando me guiou até o
carro dele, eu não estava mesmo em condição de dirigir, eu entrei e olhei pela
janela, o cara que estava ao lado de Álvaro entrava em uma picape preta
acompanhado da Hellen
-Endrigo é quem a leva, estudamos em colégios diferentes! Fernando fala ao
notar que eu encarava, andamos algumas ruas até chegar no prédio, o lugar
parecia bicentenário, minha primeira visão foi Lívia sentada próxima ao portão
com umas meninas, ela usava uma calça larga com um moletom, tudo bem que estava
frio mais custava ela usar algo mais feminino? Assim que o carro foi
estacionado descemos e fomos em direção a elas, uma das meninas me encarou de
cima a baixo, Fernando passou a mão pela cintura de Lívia e deu um beijo rápido
em sua testa e ela respondeu com um sorriso
-Temos carne fresca, prazer Ágata! A menina que me encarou tomou a frente em
sua apresentação, mais apenas revirei os olhos e dei meia volta, segui uma
linha reta até um ponto afastado dali e me sentei, peguei o maço de cigarro no
bolso da minha calça e acendi um, a primeira tragada é sempre a melhor, é como
se o fato daquela fumaça invadir meus pulmões e depois sair limpasse um pouco
da sujeira interna, fui encarado por um grupo de jogadores mais nenhum se atreveu
a falar nada, Fernando voltou e se sentou ao meu lado
-Não pode fumar aqui! Ele rir
-Será que consigo uma suspensão? O
encaro cogitando não ter que entrar nesse lugar
-Álvaro é influente está vendo o cara grandão e cabelo preto ali? Ele aponta o
dedo na direção da quadra –Aquele é o Fred, é o cara mais encrenca que tem, ele
apronta todas e sempre sai ileso, Otavio é outro mais você ainda vai demorar e
conhecer!
-Porque?
-Ele está viajando e sempre demora de voltar, com o tempo
ganhamos uma certa liberdade mais tem que conquistar ela!
-Se puxar o saco daquele cretino for isso, vou morrer sem
liberdade, respondo e jogo o que sobrou do cigarro no chão e piso –Vamos logo,
quero acabar com isso.
Para minha sorte ou pro meu azar fiquei na mesma sala que a Lívia,
ao mesmo a conhecia e as chances de trocar mais do que duas miseras palavras
com ela eram nulas, me encostei na cadeira e esperei aquela sessão de tortura
acabar, e o pior de tudo é que parecia que o tempo não estava passando, olhava
pro relógio no meu pulso e o ponteiro parecia estar colado, não se mexia, eu
queria acender um cigarro e extravasar minha raiva, eu ainda não tinha
explodido o suficiente.
[A1]Extrema
severidade, intransigente, intolerante, severo [A2]Esporte
que consiste em usar o corpo como equipamento e o maior objetivo é transpor
obstáculos
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Atualizado até capítulo 118
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