Capitulo 2

Dias atuais...

Santiago...     

Como eu consigo detestar tanto um lugar? Meus pais me

castigaram da maneira mais inclemente [A1] possível.

Me mandando para uma cidade no meio do nada, será que nesse fim de mundo tem

sinal de telefone? Imediatamente retiro meu aparelho celular do bolso e noto

que tem sinal “Ao menos isso” penso comigo mesmo! Dou pequenos passos e paro em

frente a um grande portão cor cinza, fico um tempo encarado o lugar, tudo era

muito organizado, parecia que o dono ou dona era daquelas pessoas que tinham

TOC. A constar por tudo alinhado, enfim toco o interfone e uma voz suave

feminina surgi

-Bom Dia, em que posso ajudar? A voz do outro lado perguntou

calmamente eu me aproximei e respondi em um tom ríspido

-Lopez, tenho uma reserva! Com alguns segundos ouço o enorme portão começar a

se abrir

Entro novamente no carro e arranco para dentro do local,

observo cada detalhe, tudo muito alinhado, cores vivas e um ambiente bem

juvenil, não sei que tipo de hospedes eles costumavam ter mais observando as

quadras a área de laser com jogos de mesa era uma espécie de internado, meu pai

mostrou realmente que me odeia eu ia ficar preso em um internato?

Uma moça e cabelos escuros e longos se aproximou sorridente,

ela parecia ser da minha idade, e com certeza precisava de um banho de loja, ou

uma ‘personal Stilys’ como diz minha irmã

-Bom Dia, sou a Lívia, você deve ser o Santiago Lopez,

correto? Ela falava tudo muito no automático, era como se passasse horas em

frente ao espelho ensaiando as frases prontas

-Sim! Respondo seco e de cara fechada, não estava afim de papo

- Qual minha sela? Abro um meio sorriso para ironizar e ela ergue uma

sobrancelha em desaprovação

-Vou te levar ao seu quarto! -Ela se vira e então a sigo, ao passar pela enorme

sala fico admirando o enorme quadro, era um tipo de playgame, tinha troféus,

quase nem notei a presença de uma outra garota, loira de olhos grandes, seu

semblante foi de seriedade para um tipo de nojo, já vi que eu teria uma

companheira de prisão insuportável

 -Hellen, seu pedido já

está na cozinha! Lívia diz sorrindo e ela retribui, e se levanta para ir até o

outro cômodo, subimos uma escadaria e enfim o primeiro andar assim como o

restante da casa, era tudo perfeitamente e milimetricamente calculado para nada

sair do lugar

-Esse é o andar dos homens! Aqui na pousada dividimos as alas para não ter

nenhuma dor de cabeça! - Ela me mostrou todo o andar, tinha uma sala de leitura

com uma biblioteca, outra sala com um telão enorme para jogos, passei

rapidamente as vistas pelo local, ela mostrou também o jardim que pela grande

janela da sala

-Ali tem uma quadra de basquete e tênis caso goste de

esportes...

-Parkuour[A2]

... - A

interrompi

- Temos um parque no fundo da mansão\, e lá muitos praticam\, se quiser te levo

lá! -Ela sorri e acena com a cabeça para que eu a siga, paramos em frente a uma

porta, 81, ela pegou uma chave e a abriu, e me entregou a mesma logo em seguida

-Tem um telefone ao lado da cama, pode ligar para recepção

caso precise de algo! - Eu a agradeço e a vejo sair fechando a porta

Olho em volta, minha mãe sabia meu gosto, ela deve ter

decorado de acordo a ele, me sentir no meu quarto, as paredes de tons claros, uma

enorme cama no canto ao lado de uma janela, os livros enfileirados de acordo

aos autores, até mesmo o lençol da cama remetia aos que Monica a governanta da

minha casa colocava semanalmente, joguei minhas malas em cima da cama e comecei

a desarrumar, entrei no banheiro para colocar meus produtos de higiene pessoal,

não conseguir segurar um riso que se formou em meu rosto

Lavanda, as flores no lavabo tinham um recado por trás, abro o

pequeno armário e coloco minhas coisas, assim que termino e volto para meu

quarto escuto bater na porta e vou até ela e abro, um garoto alto de ombros

largos, ele parecia aqueles atletas idiotas de romance americano, cabelos

escuros como seus olhos um ar arrogante, ele me encara por um longo tempo até

estender a mão direita em um cumprimento amigável

-Olá, sou o Fernando! Eu estendo a mão de volta

-Santiago! Respondo e me viro voltando a minha mala, ele entra

me acompanhando

-Qual a merda que você fez para vim parar aqui? Ele se senta na poltrona se

ajeitando para ficar confortável

- Coloquei fogo no escritório do meu pai\, e agredir minha irmã com um espeto de

carne, e você? Eu ganho um olhar surpreso e ele abre um sorriso bem largo

-Problemas com bebidas, isso aqui é um centro para jovens com problemas. Ele se

aproxima de mim e me chama para ir até um lugar com ele

Na sala e jogos tinha um enorme tapete ele trancou a porta e

puxou o tapete mostrando assim uma porta, aquilo deve ser uma espécie de

calabouço, eu o segui e lá em baixo tinha arsenal de bebidas, entre outras

coisas ilícitas

-O dono daqui tira dinheiro dos nossos pais tentando nos curar

mais no fundo ele nos alimenta para nos tornar piores

Eu olho mais uma vez o local, pelo visto não seria um castigo

tão grande assim

-Qual o problema da Lívia e da loirinha? Elas parecem ser normais. -Faço aspas

ao citar os normais

-Lívia é minha namorada, ela apenas trabalha aqui, já a loirinha é a Hellen ela

tem uma espécie de Boderline mais é a queridinha do dono então não mexe com ela

ou vai se ferrar! - Voltamos ao solo ele me alertou sobre os horários e como

funcionava as refeições, mas não tinha intenção de dormir ali hoje

Assim que terminei de arrumar minhas roupas tomei um banho

rápido e peguei minha mochila, desci rapidamente as escadas, e me deparo com o

olhar de repreensão da loirinha de mais cedo

-Tem permissão para sair? Ela diz me vendo ir em direção a

porta

-E da sua conta? -Repondo na lata e ela me fuzila

-Álvaro não gosta que saímos a noite sem permissão! -Revirei os olhos e ignorei

totalmente a existência dela

Liguei o carro e apertei o pequeno controle que tinha na chave

do quarto e estava certo, ele abria o portão principal, ao passar pelas enormes

grades vi Fernando e Lívia conversando do lado de fora, ela estava escorada de

frente pra ele e as mãos dele seguravam sua cintura como se estivesse mostrando

controle de seu quadril, e que quadril, ela se vestia mal não dava pra negar

mais vendo a enorme camisa pressionada em seu corpo debaixo de todo aquele pano

escondia um baita corpo, mais não era da minha conta, até porque eu iria fugir

logo desse lugar e nunca mais veria ninguém daqui, passei por eles em alta

velocidade, o pneu do carro cantou na curva mais a frente, adrenalina, era algo

que eu buscava para me manter acordado e firme nessa porcaria de mundo.

A noite estava fria e calma, era muito raro sentir isso, onde

eu morava costumava ser tão quente quanto um caldeirão, eu estacionei em uma

praça abandonada, tirei um maço de cigarro da mochila e o trouxe comigo, me

sentei em um banco um pouco deteriorado e peguei o isqueiro, em uma única

batida a chama surgiu acendi meu baseado e dei a primeira tragada, se meu pai

visse isso ele já diria que estava me drogando, eu não tenho ficado muito

lucido nesse último ano, quase todos os dias me drogo, odeio a sensação de

lucidez, não gosto de pensar como estou fazendo agora, minha família é a clichê

tenho dois irmãos por parte de mãe, um mais velho, Henrique que é o orgulho da

família e minha irmã caçula Raycilla, que é do atual casamento dela, por parte

de pai tenho dois

também, Imael e Michael, meu contato com Imael é zero, ele mora fora do país

com a mãe dele, e Mika, também do atual casamento do meu pai, eu me dou bem com

minha madrasta assim como me dou com meu padrasto mais meu relacionamento com

meu pai e minha mãe é a ferro e fogo

Meu pai descobriu esse lugar e me mandou para cá para que eu

pudesse me controlar, coitado! Se o que o Fernando me mostrou for real eu estou

no paraíso, bebidas liberadas, nesse fim de mundo com certeza tem festas, eu

dou mais uma tragada e olho ao redor, mais a frente tinha um casal se pegando

no escuro e do outro lado um pessoal treinando dança, é não é tão vazia como pensei...

-Oi, posso me sentar aqui? A voz era conhecida mais me virei

para ter certeza, Lívia...

- A praça é publica então... se seu namorado não se importar! Digo friamente

cortando qualquer chance de ser simpático

-Por que é tão grosso? Ela é direta eu então a encaro dou uma

última tragada e sopro a fumaça na direção dela que enruga o nariz ao sentir o

cheiro

-Eu não queria estar aqui, e não gosto de pessoas que forcem

simpatia para o meu lado, como está sendo seu caso, eu não preciso de

gentileza!  Jogo a bituca no chão e piso

e começo a andar em direção dela que dá passos para trás

-Achei seu namorado gente boa, então não estraga isso me fazendo ser grosso com

você e o deixando chateado, eu esbarro no ombro dela e a deixei sozinha, olho

sobre os ombros e a vejo começar a caminhar, a rua que ela estava entrando era

escura demais, e eu ainda era consciente

-Lívia! Eu grito seu nome e ela para e me encara, eu corro me

aproximando dela novamente

-Quer uma carona? Acho perigoso você ir sozinha! Ela abre um sorriso disfarçado

e aceita eu a guio até meu carro e ela entra, ela me mostra a rua que era para

entrar mais fica em silencio no decorrer do caminho, assim que paramos em uma

casa de muro alto ela agradece e sai do carro entrando portão a dentro,

estranho o Fernando não acompanhar ela assim, eu dou de ombros e volto para

minha prisão, não queria dormir ali mais não teria jeito, o cansaço estava

apertando e não trouxe minha carteira para pagar um hotel.

Assim que passo pela porta principal, sou parado por um homem

alto, ele trajava um terno preto sem uma amassado sequer, sua expressão fria

ficou bem harmoniosa com o maxilar quadrado, seu olhar era frio e assustador

mais mantive minha postura fechada

-Santiago, aguardava você para conversarmos, me acompanhe... ele diz

direcionando a uma porta, assim que entramos ele a fecha eu analiso o lugar,

ele era bem ‘ modesto’ que tipo de pessoa faria uma pintura gigante de si

mesmo?

-Foi um presente de um ex aluno! Ele responde após perceber que eu encarava a

pintura, ele apontou a cadeira em sua frente então me sentei, fiquei um pouco

incomodado com o fato dele me encarar continuamente, era como se tentasse ler

meus pensamentos

Ele praticamente leu o manual de boa conduta do local, Álvaro

não era um bom anfitrião a paciência dele era limitada, ele me entregou uma

caixa em MDF, aparentemente meu pai havia me mandado, eu evitei qualquer

contato com ele antes de vir para cá então o infeliz procurou um jeito de me

atormentar

-Precisa abrir, caso tenha algo que não pode ser aceito aqui

dentro terei de confiscar! Ele falou rudemente então acabei pegando a chave que

veio junto e abrindo a caixa, tinha um monte de baboseiras, fotos, um lenço,

meu anel e um terço, Álvaro ficou curioso com o tal terço e me pediu para ver,

eu o entreguei e o mesmo ficou inquieto com o objeto, eu depois de alguns

minutos tomei de sua mão e joguei na caixa novamente, e me retirei do local,

antes que eu pudesse subir de volta para meu quarto sou parado no Hall

- Ele te deu alguma bronca? Fernando estava escorado no que

parecia ser uma lareira antiga, seus olhos invadiram a caixa em minhas mãos e

eu soltou um suspiro arfado

-Não, ele só queria entregar isso! Levanto a caixa mostrando a

ele e dou um meio sorriso subindo de volta para meu quarto

Fecho a porta e me jogo na cama, olhando para o teto, ele

parecia interessante contando com o fato de que tudo ali me causava tédio,

ainda não compreendia o porquê de estar nesse lugar, mais de algo tinha certeza

não seria muito tempo. O que? No máximo 2 meses? Ou até menos, me levanto para

tomar um banho precisava relaxar, saiu do banho ainda com a toalha na cintura e

olho novamente a caixa, reviro os olhos e a guardo na gaveta de baixo do criado

mudo, eu olhei para o maço de cigarro quase cheio, que evolução, hoje fumei

menos do que o costume.

Dia

seguinte...

A claridade me força abrir os olhos, queria tá sonhando mais

não! Escuto passos e conversas no corredor, me forço a levantar e lavar meu

rosto a agua estava muito fria o que me fez despertar, peguei um moletom

qualquer e me vestir, o barulho pareceu sumir quando abrir a porta, o local

estava vazio eu me arrastei até as escadas e vi umas pessoas sentadas em uma

enorme mesa.

Álvaro estava em pé parado próximo a um rapaz alto de olhos

amarelados, sua postura era mais confortável e ele tinha uma maneira mais

aberta de expressão, ele me encarou por um longo segundo e sorriu em seguida,

seus cabelos claros o fazia parecer com aqueles atores de filmes juvenis dos

anos 2000 onde as garotas brigariam pela atenção

-Deve ser o Santiago, Bem-vindo a família! Ele abre um sorriso

de orelha a orelha e ganho a atenção de todos da mesa, eu aceno com a cabeça me

sentando no lugar vazio ao lado de uma loira com cara de atriz pornô

-Muito que bem! Esse é nosso novo interno! Álvaro começou um discurso chato

–Espero que possamos fazer ele se enturmar, e mostrar a grande família que

somos! A loira ao meu lado passou o braço em volta da minha cadeira me fazendo

retrair ela era muito fria

-Bem-vindo, sou a Josy! Ela sorriu e eu para não parecer mal-educado sorri de

volta

-Fernando, você fica responsável por mostrar o colégio a ele

hoje! As palavras de Álvaro atravessaram meu ouvido como um raio, eu o encarei

e fiz uma carranca com a informação

-Como assim colégio? A pergunta saiu automática

-Seus pais me mandaram sua transferência antes da sua vinda, você tem que

estudar, o bom que estamos no início do ano você só está a 2 meses de atraso,

mais como suas notas sãos ótimas não será muito difícil você se adaptar

Transferência... adaptação... aos poucos conseguir ligar uma

coisa na outra, os meses que achei que seriam foram totalmente exumados

-Você passara todo o ensino médio aqui!

Aquela última frase me nocauteou, meu silencio foi

ensurdecedor, meu corpo entrou em uma paralisia que nem mesmo um tornado me

tirava do lugar

-Vamos? Fernando se levanta me chamando

Eu fico um tempo raciocinando até me levanta robotizado,

Álvaro ergue uma mochila e me entrega

-O que é? Pergunto pegando ela

-Tem cadernos, canetas e seus livros... Boa sorte!

Eu fecho a cara e começo a andar, Fernando me guiou até o

carro dele, eu não estava mesmo em condição de dirigir, eu entrei e olhei pela

janela, o cara que estava ao lado de Álvaro entrava em uma picape preta

acompanhado da Hellen

-Endrigo é quem a leva, estudamos em colégios diferentes! Fernando fala ao

notar que eu encarava, andamos algumas ruas até chegar no prédio, o lugar

parecia bicentenário, minha primeira visão foi Lívia sentada próxima ao portão

com umas meninas, ela usava uma calça larga com um moletom, tudo bem que estava

frio mais custava ela usar algo mais feminino? Assim que o carro foi

estacionado descemos e fomos em direção a elas, uma das meninas me encarou de

cima a baixo, Fernando passou a mão pela cintura de Lívia e deu um beijo rápido

em sua testa e ela respondeu com um sorriso

-Temos carne fresca, prazer Ágata! A menina que me encarou tomou a frente em

sua apresentação, mais apenas revirei os olhos e dei meia volta, segui uma

linha reta até um ponto afastado dali e me sentei, peguei o maço de cigarro no

bolso da minha calça e acendi um, a primeira tragada é sempre a melhor, é como

se o fato daquela fumaça invadir meus pulmões e depois sair limpasse um pouco

da sujeira interna, fui encarado por um grupo de jogadores mais nenhum se atreveu

a falar nada, Fernando voltou e se sentou ao meu lado

-Não pode fumar aqui! Ele rir

-Será que consigo uma suspensão?  O

encaro cogitando não ter que entrar nesse lugar

-Álvaro é influente está vendo o cara grandão e cabelo preto ali? Ele aponta o

dedo na direção da quadra –Aquele é o Fred, é o cara mais encrenca que tem, ele

apronta todas e sempre sai ileso, Otavio é outro mais você ainda vai demorar e

conhecer!

-Porque?

-Ele está viajando e sempre demora de voltar, com o tempo

ganhamos uma certa liberdade mais tem que conquistar ela!

-Se puxar o saco daquele cretino for isso, vou morrer sem

liberdade, respondo e jogo o que sobrou do cigarro no chão e piso –Vamos logo,

quero acabar com isso.

Para minha sorte ou pro meu azar fiquei na mesma sala que a Lívia,

ao mesmo a conhecia e as chances de trocar mais do que duas miseras palavras

com ela eram nulas, me encostei na cadeira e esperei aquela sessão de tortura

acabar, e o pior de tudo é que parecia que o tempo não estava passando, olhava

pro relógio no meu pulso e o ponteiro parecia estar colado, não se mexia, eu

queria acender um cigarro e extravasar minha raiva, eu ainda não tinha

explodido o suficiente.

 [A1]Extrema

severidade, intransigente, intolerante, severo [A2]Esporte

que consiste em usar o corpo como equipamento e o maior objetivo é transpor

obstáculos

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