Cris chama Pietra pra ajudar a empacotar suas coisas. A tristeza toma conta das amigas e da família. Mais é preciso, não há condições de permanecer onde moram. O pai de Cristina arrumou uma casa pra ficarem e está trabalhando para uma instituição da igreja, a viagem será longa, não tem muito o que levar, não tem móveis, apenas alguns bancos, cadeiras, uma mesa e as roupas de cada um em caixas e sacos. Cristina como a mais velha precisa cuidar de seus irmãos menores enquanto a mãe verifica se não estão esquecendo de nada.
Cristina: - O que farei lá amiga? Não conheço ninguém, nem onde fica nada? Como vou viver sem nossa amizade?
Lágrimas correm dos olhos das amigas.
Pietra: - Você é uma garota muito especial. Linda e boa, fará amigos rapidinho não se preocupe.
Cristina: - Não quero outros amigos, Pietra pega pra você esse cachecol que fiz, pra se lembrar de mim. Você tem alguma foto sua pra me dar? Assim quando eu sentir saudades eu olho as fotos.
Pietra: - Tenho sim, aquela onde estamos no batizado, Silvana, você e eu. Vou te dar e depois faço cópia pra mim.
Cristina: - Eu não tenho nenhuma. É tão difícil tirar foto e mandar revelar, ainda bem que você tem uma câmera. Guardarei com todo cuidado.
Pietra vai até sua casa buscar a foto, procura alguma coisa pra dar a amiga de despedida, mais não encontra nada. Vida difícil, onde não se tem nem o que dar a uma amiga. Pietra escreve uma dedicatória atrás da foto e leva a amiga.
As amigas são separadas pelas diversidades da vida, pela necessidade de procurar melhorar a situação financeira da família. Por um pai se esforçando pra não deixar os filhos passarem fome.
Pietra fica a olhar o caminhão que vai estrada a fora, a amiga de toda vida, a confidente a companheira que está indo pra longe. A incerteza de se encontrarem novamente pairando sobre elas. Os avós de Pietra levaram anos pra os visitar. E se acontecer o mesmo com elas? Se a amizade for esquecida?
Cristina logo esquece as lágrimas tamanho é o vislumbre pela beleza da capital de São Paulo. O movimento, o trânsito, os aranha céus, o vai e vem das pessoas, tudo é novo, e lindo pra uma garota que mal conhecia a pequena cidade onde o pai fazia feira.
Mais a beleza e o encantamento não duram muito quando saem da cidade em direção a periferia.
Casas mal feitas, se é que podem ser chamadas de casas, ruas de terra com rede de esgoto a céu aberto. Cristina não entende como as pessoas podem viver assim, barracos pendurados nos morros parecendo que vão cair a cada segundo. E o mal cheiro então, impregnando tudo. Mais não vai reclamar, sabe da dor que seus pais estão sentindo em ter que deixar o lugar onde nasceram.
O caminhão continua, vai mais além, o lugar já não tem o mesmo odor horrível, as casas continuam não parecendo lares agora mais distante uma das outras, quando o caminhão para em frente a casa de seu tio é um alívio, o corpo já está cansado da viagem e o coração apertado pelo que os espera.
Seus primos os recebem com alegria, os irmãos mais novos estão eufóricos com tudo, pra eles tudo é festa, apenas ela e Lucas estão apreensivos pelo que deixaram prá trás.
Os primos da mesma idade que eles são bem receptivos, fazem de tudo pra se sentirem em casa, Valdir e Valmir estão felizes por terem pessoas da mesma idade pra conversar, sair, se divertir. O que facilita pra Cristina a adaptação a nova vida.
Pietra fica, triste, sozinha, senta em uma pedra onde estavam acostumadas a ficarem conversando por horas, jogando truco com os mais novos, comendo limão com sal, ameixa e néspera , Pietra está
agora só. Em seu pensamento está a amiga e o que pode estar fazendo a essa hora. O pior é a noite nos encontros na igreja, as garotas da mesma idade já estão namorando firme, pra casar, ou estão em casa ou do lado dos pais.
O consolo é estudar, tentar fazer amizades na escola. Tem uma garota nova, Leila, também da roça com quem Pietra simpatizou. Mais ninguém jamais ocupará o lugar da amiga de infância.
Assim que conseguem organizar tudo Cristina procura um lugar tranquilo, pega um caderno e uma caneta e se senta pra escrever pra amiga:
'' Querida amiga, já estou morrendo de saudades. como você está sem mim?? Por favor não me troque pelas suas primas que conhecemos bem.
Pietra até que aqui não é tão ruim, estamos morando juntos com o tio até meu pai conseguir um lugar pra nós. É apertado, mais estamos bem. Vou ver se consigo arrumar um trabalho pra ajudar, nem que seja pra cuidar de meus primos.
Vou te mandar o endereço certinho daqui, meu primo passou pra mim. Por favor me escreve logo, sei que vai demorar pra receber minha carta, mais não esquece você mora em meu coração.
Um beijo amiga. Me escreve. Cris ''
Uns quinze dias depois Pietra recebe a carta, responde imediatamente, mais vai levar alguns dias pra conseguir alguém pra levar ao correio pra ela.
No início as cartas eram frequentes, mais o tempo as vezes é ingrato, nos faz deixar para trás sentimentos, atos, amizades a um segundo plano e tudo vai se distanciando, perdendo a força, e o que parecia insubstituível e eterno já não é mais.
Assim são os amores, as amizades, a vida.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 40
Comments
Sandra Maria de Oliveira Costa
concordo plenamente com tudo isso
2024-10-27
1
odia Costa
Coitadas delas😔😔😔😔😔😔😔
2024-04-10
1
Francisca Das Chagas Sobrinho
estou me vendo nessa história, aconteceu comigo em 81.As cartas só duraram um ano, perdemos o contato.Nos reencontramos em 36 anos depois
2023-08-24
4