egoísmo

Dinasty - Miia

O que as pessoas escondem em um olhar, em um sorriso, o que se passa na sua cabeça quando está sozinha ou cercada de pessoas, elas choram a noite? Ou conseguem dormir facilmente, o que sentem ao se olhar no espelho, elas vêm uma pessoa que esta aqui ainda ou não conseguem nem mesmo se reconhecer? A verdade é que não sabemos o que as outras pessoas a nossa volta passam, não sabemos o que elas pensam ou pelo que já passaram no passado, a questão é que mesmo assim ainda somos uns putas egoístas, a nossa dor é mais importante que a do nosso amigo? Do nosso vizinho? As vezes eu consigo entender cada passo que ele deu no passado, não era para viver uma vida sem arrependimentos, era para que as pessoas a sua volta se sentissem bem naquele momento, por que ele não sabia o que essas pessoas estavam a passar e ele entendia isso muito bem, ele deixava o dia de cada um que aparecia no seu dia a dia não importa se ele os conhecesse ou não, ele era gentil e dava aquele sorriso doce, todos o amavam, e eu entendia esse amor que as pessoas tinham por ele, por que sempre que eu estava com ele, a dor, a escuridão qualquer outra preocupação sumia, por que ele era assim, ele dava luz para quem precisava, mas ele era escuridão pura.

Desde aquele dia no banheiro ele não tem falado comigo, também evita ficar por muito tempo no quarto, sempre que eu chegava ele estava a dormir ou não estava, aquela expressão no seu rosto não sai da minha cabeça, aquele desespero nos seus olhos, aquilo fez-me querer chorar por ele, trouxe-me dor, mas é melhor assim ele afastado, não é como se nós fossemos virar amigos.

Ichiro: — O que você quer?

Sato: — Ichiro, podemos conversar?

Ichiro: — sobre o quê?

Sato: — eu sei que você está a sofrer

Ichiro: — é eu estou, e eu admito isso, eu não fico a fingir.

Sato: — eu sei

Ichiro: — sabe? Então que merda você ta fazendo a sorrir como ele sorria para nós?

Sato: — Pensa que ta sendo fácil?

Sato: — Não, não ta, mas fingir é a única coisa que me faz seguir em frente.

Ichiro: — Você esta agindo como ele

Sato: — não me compare com ele!!

Ichiro: — Sato

Sato: — tu pensa que não doí? é doí muito, toda a vez que eu pisco e respiro e percebo que eu nunca mais vou ver ele, eu entro em desespero.

Ichiro: — Sato...

Sato: — não, não, você pensa que eu não sinto, eu não to bem e você ta certo, eu finjo, mas não tão bem quanto o Naoto, por que nem mesmo você percebeu que ele mentia!

Ichiro: — Você ta certo, eu tenho culpa

Ichiro: — mas você também tem!

Eu nem mesmo pensei, eu só soquei o rosto dele, ele caiu, e ficou no chão, eu pude ver a sua raiva também, mas ele nem mesmo revidou.

Sato: - como você esta?

Ichiro: - como eu estou?

Ichiro: - eu to destruído, entendeu? eu estou morto, eu to em pedaços, e você ta numa boa e ainda cuida de nós, como se não tivesse passado por isso, por que você é assim?

Sato: - Ichiro, eu...

Ichiro: - Você também tava lá, gritando desesperado pra ele não atirar.

Ichiro: - dizendo que não poderia viver nessa merda de mundo sem ele, sem estar nem ai pra sua vida ou para nós.

Sato: - eu, eu

Ichiro: - Você apertou o gatilho diversas vezes, você

Sato: - Desculpa, Me desculpa

Ichiro: - por que você sorri como ele?

Ichiro: - Você vai fazer o que ele fez?

Sato: - EU SINTO TANTO FALTA DELE, TODA VEZ QUE ABRO MEUS OLHOS E PERCEBO QUE NÃO VOU MAIS PODER VER ELE ISSO ME FAZ QUERER GRITAR, DEIXAR ESSE MUNDO EM CHAMAS, QUEIMAR TUDO ATÉ NÃO SOBRAR NADA, MAS EU SEI QUE MESMO ASSIM ELE NÃO VAI VOLTAR!

Sato: - Mas eu não posso me trancar no quarto e ficar chorando, por uma decisão que ele mesmo tomou sem nem mesmo tentar, sem nem mesmo pensar em mim, em nós, eu, eu

Ichiro: - Sato

Sato: - eu te vejo mais tarde

Ichiro: - para de fugir.

Sato: - não to fugindo, só não quero que você me veja chorar, eu te vejo mais tarde.

você sempre será a parte mais triste de mim, você ainda é o oxigênio que eu respiro, eu vejo o seu rosto quando fecho meus olhos, é torturante.

Naoto: - está tudo bem, estarmos separados com o tanto que estejamos vivos, sempre nós encontraremos.

Sato: - COMO VOCÊ PODE FALAR ISSO?!

Sato: - EU NÃO VOU MAIS O ENCONTRAR NESSE MUNDO, NAOTO!!

Sato: - NAOTO, VOCÊ FOI UM PUTA EGOÍSTA!

Eu preciso seguir em frente é o que todos dizem, parar de fingir, continuar por que ainda estou aqui, mas a verdade é que não estou aqui, ja faz um tempo, ainda lembro daquela árvore atrás da escola onde gravamos nossos nomes, e prometemos amor eterno, a arvore que dava frutos todo ano, as pequenas flores daquela laranjeira caiam e deixam o chão todo branquinho, o perfume que delas o vento levava para longe, passamos muitas tardes embaixo daquela árvore, e sinto falta daquele lugar, eu tenho esperança de que você esteja lá, me esperando, junto com tudo que perdemos naquela noite, caminhei tanto perdido em pensamentos que quando noite estava aqui na ponte, a água era um tom de azul que com a falta de luz se tornava um preto sem fim, eu me segurei firme na cerca de aço que tinha em volta da ponte, não é tão assustador, não é tão alto.

Sato: - foi isso que você sentiu? não parece tão ruim

Sato: - Você ficou com medo em algum momento?

Sato: - Você pode me tirar desse desastre?

Sempre que eu olho para o céu eu choro, não pelo fato de que dizem que quando pessoas amadas morrem viram estrelas, mas por lembrar que você ficava a observar o céu por horas e horas, as várias fotos do céu nas suas diferentes cores em seu celular, eu solto aquela cerca de aço, eu consigo ouvir a sua voz me chamando, mas o tom dela mudou, no meu punho esquerdo uma pressão, um toque quente nesta noite fria.

Matsumo: — Que merda você ta fazendo?

Matsumo: — me da sua outra mão, rápido!

Sato: — me deixa cair, por favor

Matsumo: — Não, eu não vou deixar você morrer dessa forma miserável.

E outra vez eu pude ver aquela expressão de desespero em seu rosto, aquela expressão que me faz preferir estar morto, ele juntou toda a sua força e puxou-me para cima, caímos os dois no chão, ele levantou e virou de costas para mim.

Sato: — porquê?!

Sato: — eu não pedi para ser salvo!!

Matsumo: — Você poderia ser um pouco menos egoísta?

Quando ele olhou para mim outra vez em seus olhos haviam lágrimas, eu nunca tinha o visto chorar assim.

Sato: — Matsumo...

Matsumo: — Você é um idiota!

Matsumo: — Você achou mesmo que acabando com sua dor tudo iria ficar bem?

Sato: — eu só...

Matsumo: — Você fez como ele

Sato: — não me compare com ele!

Sato: — eu só queria parar com essa dor

Matsumo: — e ele não?

Matsumo: — todos os suicídios são assim, ok?

Matsumo: — cada um deles, um ato de terror, cometido contra todos que um dia chegaram a conhecer-te, todo mundo que já lhe amou!

Matsumo: — E SABE DE UMA COISA, AS PESSOAS MAIS PRÓXIMAS A VOCÊ SÃO AS QUE MAIS VÃO SOFRER OS DANOS!!

Sato: — Eu não tenho escolha!

Matsumo: — Não tem? Yamazaki, olha a sua volta, você ainda tem pessoas que lhe amam

Matsumo: — Você tem a Nara, o Ichiro, a sua "tia", você tem a escolha de ficar com eles.

Matsumo: — Você disse pra mim não lhe comparar com ele, mas deixa eu fazer-te uma pergunta.

Matsumo: — quando você estava ali, pronto para pular, você pensou em algum deles? Em como isso mudaria as suas vidas mais uma vez, mas sofrimento, mais culpa, mais traumas.

Matsumo: — não seria cruel fazer eles perderem mais alguém?

Sato: — Desculpa, Desculpa, é que ta doendo, doendo muito e isso só piora a cada segundo que passa.

Sato: — eu só queria encolher-me e sumir, eu não quero mais pensar, eu continuei em frente, mas como você segue em frente quando a pior coisa já aconteceu? E você tem que mudar algo por dentro para sobreviver.

Matsumo: — todos estão a tentar, mas deixa eu dizer-te essa dor ela não vai passar, a cicatriz vai ficar para sempre, e vai ter dias que vai doer tanto, mas tanto que você vai pensar que seria melhor estar morto, mas as vezes as lembranças serão as únicas coisas que lhe farão viver.

Sato: — Você fala como se soubesse como é se sentir assim.

Sato: — Mas, você não sabe como isso doí, o quanto doí!

Seu olhar mudou como se ele estivesse a esconder alguma coisa, o seu olhar a mim foi direcionado e eu pude sentir a dor das suas palavras.

Matsumo: — Você esta certo.

Ele ligou para o Ichiro, e ficou sentando ao meu lado no meio fio da calçada até a hora que o Ichiro chegou, ele não falou mais nada, ficou em silêncio o restante do tempo.

Quando o Ichiro chegou, ele levantou-se e andou na direção oposta, Ichiro insistiu em dar carona para ele, mas ele recusou disse que iria beber com alguns amigos essa noite, eu fiquei com tudo o que ele disse na minha cabeça, eu falo tanto para não me compararem com o Naoto, mas acabou que fiz a mesma coisa que ele, eu não pensei em ninguém, eu só queria que a dor parasse de vez.

Ichiro: — pensei que você disse que não faria o mesmo que ele.

Sato: — olha eu não tentei matar-me

Ichiro: — então o que tava fazendo lá?

Sato: — eu só estava a tentar acabar com a minha tristeza, mas eu sei bem como é querer morrer, como você tentar ficar bem, mas não consegue, como você se fere por fora para matar a coisa lá dentro.

Ichiro: — aqui é tão ruim assim?

Ichiro: — por que vocês querem tanto nós deixar?

Sato: — Desculpa, perdoe-me Ichiro

Ichiro: — Você sabe o quanto isso me assustou?

Sato: — eu não queria.

Ichiro: — então por que fez?

Sato: — Você não entende

Ichiro: — eu não entendo? Eu posso não ter perdido o meu primeiro amor, o meu namorado, mas eu perdi o meu melhor amigo, o meu irmão, e as nossas dores podem ser diferentes, mas dói da mesma forma.

A verdade é que ele estava certo, mas eu estava tão cego que nem mesmo percebi que ele estava pior que eu, que todos a minha volta tinham cicatrizes, eu fui um tolo, eu deixei que a dor que o levou a aquele ato horrendo me cegar completamente, Matsumo respondendo a sua pergunta com sinceridade eu cheguei a pensar em todos por um momento e realmente pensei que isso seria um alívio, todos estão sempre tão preocupados e com medo se eu tivesse pulado apenas a dor ficaria, a preocupação iria desaparecer por que eles saberiam que não tentaria mais nada.

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