Casais Improváveis

Bernardo

Como o planejado eu terminei a campanha, e sem modéstia, ficou top! Rogério também aprovou e então começamos a divulgação.

Enquanto eu fechava as parcerias, Rogério começou a reforma do barracão cedido por Lipe pra ser a sede do projeto.

Além de divulgar para as famílias do morro o novo projeto.

Conseguimos muitos parceiros, eu estou me dedicando a esse projeto de todo o coração, é meio que a minha redenção.

Não vejo a hora de estar lá no projeto pra conhecer as crianças, sei que posso ter destruído os sonhos do meu Fael, e isso me atormenta todas as noites, mas sei que posso fazer por outras pessoas o que não fiz por ele. Quero ajudar de todo o coração, eu quero voltar a ter orgulho do homem que vejo refletido no espelho.

Já decidi que vou dedicar dois dias da semana pro projeto, vou ser monitor de uma das oficinas, a de Desenho.

Consegui outros 4 oficineiros,um de Dança, um de teatro, um de canto e  um de Violão.

Pro começo deve servir, espero que as crianças gostem.

Quanto mais perto fica do dia da inauguração do projeto, mais ansioso e empolgado eu fico.

Renan

Que ótimo, meu apartamento tá em reforma por causa de uma rachadura na parede, o andar todo do meu prédio foi desocupado.  Rafael me convidou pra ficar na casa dele e eu aceitei, assim continuo perto do trabalho, ajudo a cuidar do André enquanto o Rafa trabalha e o Lipe tá na Penha.

Os primeiros dias foi tranquilo, apesar de ser meio chato quando a Catarina tá lá, a mulher parece uma múmia, credo.

Mas e ótimo ficar com o meu pequeno mais tempo, não posso reclamar.

Em um noite, estávamos só nos três, e André teve uma brilhante ideia;

- Dindinho, quero blinca de pincipe e princesa!

- Ah é baixinho, e quem vai ser o príncipe?

- Você dindinho.

- Então você que vai ser a princesa?

- Não dindo, a pincesa vai ser a Cata

Imediatamente a mulher ficou vermelha e começou a reclamar.

- Porque você não brinca só com o seu dindo pedacinho do céu? A Cara vai fazer pipoca o que você acha?

- Naum Cata, eu vou ser o dagrão malvado , haaargh- Meu baixinho fez a careta mais fofa do mundo não teve como rir.

- Vamos lá Catarina , entra na onde , vai ter coragem de resistir a essa carinha?

André nós olhava com as bochechas vermelhas de tanto brincar e um sorriso cheio de espectativas.

- Tá bem

Ela disse num tom de  tão infeliz que eu me senti ofendido, poxa eu não sou um príncipe de se joga fora vai, da pro gasto.

Fizemos toda a encenação narrada pelo André.

- Pimeiro o  pincipe dindinho , chama a pincesa Cata pá dança

Fiz uma reverência exagerada como manda o figurino, e pela primeira vez um sorriso, mesmo que pequeno,se abriu naquele rosto fechado.

- Mademoiselle, me consede o prazer dessa dança?

- Será um prazer Majestade!

Enlacei sua cintura e começamos a valsar, e pela primeira vez reparei de verdade em Catarina, ele era linda, olhos grandes e escuros, pele branca, algumas sardas na buchecha e nariz,  cílios longos e lábios bem desenhados que pediam silenciosamente por um beijo.

Rodopiei com ela no ar, e ouvi a gargalhada contagiante do André que estava encantado olhando pra nós batendo palmas e balançando os pezinhos.

Percebi que ela tremia um pouco ao meu toque, e me olhava fixamente, estávamos presos em um clima cheio de espectativas e desejo, quando um  dagrão malvado e feroz nos separou rugindo alto.

- Ahhh, eu sou o dagrão malvado e vou rouba essa princesa pá mim, arghh

André pisava alto fazendo careta e cara de mau, tentei disfarçar o riso e entrei na brincadeira.

- Não tema minha donzela eu vou te salvar!Vou te derrotar oh ferros dragão! Se prepare para morrer pelas minhas mãos!

Olhei pra Catarina que logo entendeu o plano, nós jogamos André no tapete e enchemos ele de cosquinhas.

Continuamos a brincar, e Catarina parecia mais a vontade Comigo, o que deixou o clima mais leve. Fizemos um lanche assistimos desenhos com André e logo ele dormiu. Catarina e eu ficamos conversando mais um pouco até que ela resolveu dormir também.

No dia seguinte estávamos a mesa tomando café, eu André e Rafael, quando Catarina veio se despedir pra ir pra casa, assim que ela saiu petceya cara que o Rafael fez.

- Fala gay!

- Oxxi, não disse nada

-  Mas pensou, agora desembucha!

- Tu sabe que a Cata tá a fim de você né? Daí já rolou?

- Rolou o que doida a falta de dar tá afetando teu cérebro?

-  Dá o que papai?

- Dar uma festa filho, uma festa.

- Então você tem que dá papai, tem que dá muito,da bastante! Assim você não fica dodói do cebero.

- É cérebro filho, eu não vou dar nada sussega.

- Então eu dou, posso dá papai?

Rafael me fuzilava com os olhos, mas até que foi engraçado.

- Chega dessa conversa, você trabalho, e viloce mocinho escola já, e chega desse negócio de dá.

Fui trabalhar ainda pensando no que o Rafa disse, será mesmo que ela gosta de mim. Na hora do almoço o assunto ainda martelava na minha cabeça, então decidi perguntar mais sobre isso pro Rafa.

- Ela gosta mesmo de mim?

- Não acredito que você passou a manhã toda pensando nisso!

- Fala logo !

- Sim ela gosta, e já faz é tempo. Percebi na festa de aniversário do André, ela não tirava os olhos de você, e depois disso reparei em como ela muda quando você tá perto, ela fica nervosa e agitada, com um olhar perdido e sonhador, chega ser engraçado.

- Como que eu não percebi isso?

- Porque você é homem, e homem é tudo burro, nunca vê essas coisas.

- Não sei se agradeço ou me sinto ofendido.

- Rê, só pensa bem tá, não sei o que aquela mulher passou, mas não foi fácil, se você não quer nada sério, nem começa.

- Começa o que ? Eu só perguntei da garota e você já tá pensando em casamento, bicha emocionada!

Esse comentário me custou uma fatia de pão com manteiga grudado na minha testa.

Depois disso meu dia seguiu normalmente, mas aqueles olhos escuros estavam vez ou outra passando pelos meus pensamentos.

Lipe

As coisas aqui na Penha são bem organizada, Santo é muito gente boa, e eu tô aprendendo muito, acho que consigo adaptar muitas coisas lá na Boa Vista.

Hoje o dia foi tenso ,muitas coisas pra ver e tomar nota, fora os peteleco que eu levo da Ariel de meia em meia hora por falar errado, aquela mulher é doida.

Decidi da uma pausa e fazer um lanche porque se tem alguma coisa que eu não sou é obrigado a fica com fome.

Entrei numa lanchonete e tava vazia por conta do horário, tinha um rapaz muito bonito sentado em uma mesa de escritório atrás do balcão, ele era moreno alto, rosto magro nariz fino, na verdade ele era uma delícia.

Já tava ali de pé a um tempo e o mané nem fazia questão de me atender, eu detesto que as pessoas me ignorem.

- Aí mané, tá me vendo aqui não? É cego por acaso?

O Rapaz se levantou lentamente, caminhou de vagar até o balcão e falou com uma calma que me deixou constrangido.

- Na verdade eu sou cego sim, se talves você tivesse chegado e dado bom dia como qualquer pessoa minimamente educada, eu tivesse ouvido a sua voz e pervebido a sua presença.

Minha cara foi lá no chão, se eu não passo uma vergonha dessa não sou eu. Puta que Pariu! Que merda!

- Desculpa eu não sabia, sinto muito.

- Não sinta, tem coisa muito pior do que ser cego, ser ignorante por exemplo. Suzana pode vir atender esse senhor por favor!

Eu com uma cara de sorvete derretido, totalmente sem graça parado lá feito idiota. Uma moça muito simpática apareceu com um sorriso.

- Claro Jonas, bom dia senhor  posso ajudar?

Fiz o  meu pedido e sai de lá feito um raio.

Droga, não posso deixar ele pensando que eu sou um babaca, tá certo que eu não sou nenhum santo e tal, mas não sou isso que ele tá pensando. Vou procurar saber quem é esse Jonas e mudar a ideia errada que ele tem de mim.

Ainda tenho um tempo pra ficar por aqui, vou dedicar parte desse tempo a essa minha nova missão, agora é questão de honra pra mim.

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