Capítulo 2

Eu passei a noite em claro, pensando no que a minha mãe me contou. Eu não conseguia acreditar que eu tinha um avô na Turquia, que ele era dono de uma marca de roupas famosa, que ele queria me ver antes de morrer. Eu não conseguia imaginar como seria a minha vida se eu aceitasse o seu convite e fosse para a Turquia. Eu não conseguia nem mesmo pronunciar o seu nome: Mehmet Monkut.

Eu olhei para o meu celular e vi que ele tinha me mandado uma mensagem. Ele disse que tinha comprado uma passagem de avião para mim, que eu deveria embarcar no dia seguinte, que ele estava ansioso para me ver. Ele disse que tinha reservado um quarto em um hotel de luxo para mim, que ele tinha enviado um carro para me buscar no aeroporto, que ele tinha preparado uma festa de boas-vindas para mim.

Eu li e reli a mensagem várias vezes, sem saber o que responder. Eu senti uma mistura de medo e curiosidade, de raiva e gratidão, de desconfiança e expectativa. Eu me perguntei se ele estava sendo sincero ou se ele tinha algum interesse oculto. Eu me perguntei se ele era um homem bom ou se ele era um tirano. Eu me perguntei se ele me aceitaria como eu era ou se ele tentaria me mudar.

Eu olhei para o meu quarto e vi as minhas coisas simples e velhas. Eu vi as minhas roupas gastas e rasgadas, os meus livros usados e empoeirados, os meus brinquedos quebrados e esquecidos. Eu vi as fotos da minha família na parede, os sorrisos forçados e tristes, os olhares cansados e resignados. Eu vi a minha vida sem graça e sem cor.

Eu pensei na minha mãe e nos meus irmãos. Eu pensei em como eles dependiam de mim, em como eles precisavam de mim, em como eles me amavam. Eu pensei em como seria difícil deixá-los, em como seria doloroso dizer adeus, em como seria arriscado partir. Eu pensei em como eles ficariam sem mim, em como eles se virariam sem mim, em como eles sofreriam sem mim.

Eu pensei em tudo isso e tomei uma decisão.

Eu peguei o meu celular e respondi a mensagem do meu avô.

Olá, Mehmet. Eu sou Ayla, sua neta.

Olá, Ayla. Que bom que você respondeu.

Eu li a sua mensagem e fiquei surpresa.

Eu imagino. Deve ter sido um choque para você.

Sim, foi.

Você entendeu tudo o que eu te disse?

Sim, eu entendi.

E então? Você aceita o meu convite?

Sim, eu aceito.

Você aceita? Você tem certeza?

Sim, eu tenho certeza.

Que ótimo! Que ótimo! Você não sabe como isso me deixa feliz!

Eu fico feliz por você também.

Você é muito gentil, Ayla. Muito gentil.

Obrigada.

Então está combinado. Você vai embarcar amanhã?

Sim, eu vou.

Perfeito. Perfeito. Eu vou te esperar no aeroporto.

Está bem.

Você tem alguma dúvida? Alguma pergunta?

Não… não agora.

Tudo bem. Se precisar de alguma coisa, é só me ligar.

Está bem.

Ayla… eu estou muito emocionado. Muito emocionado.

Eu também estou.

Ayla… eu te amo. Eu te amo muito.

Eu fiquei sem saber o que dizer. Ele disse que me amava, mas eu nem o conhecia. Ele disse que me amava, mas ele nunca se importou comigo. Ele disse que me amava, mas ele me abandonou durante todos esses anos.

Eu respirei fundo e digitei:

Até logo, Mehmet.

E desliguei o celular.

Eu levantei da cama e fui até o quarto da minha mãe. Ela estava dormindo, abraçada com os meus irmãos. Eu a acordei com cuidado e disse:

Mãe… eu preciso falar com você.  Eu vou para a Turquia!

Ela abriu os olhos e me olhou com carinho.

Não sei se você deve ir, esse homem nunca terá meu perdão!

Perdão? Por quê?

Por ter ignorado você.

E você… você aceita esse perdão?

Eu não sei, mãe. Eu não sei.

E você… você quer ir vê-lo?

Eu não sei, mãe. Eu não sei.

Ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas e me abraçou.

Ayla… eu só quero o seu bem. Eu só quero que você seja feliz.

Eu também a abracei e senti um turbilhão de emoções dentro de mim.

Você vai mesmo para a Turquia?

Sim, mãe. Eu vou.

Mas… por quê?

Porque o meu avô me convidou.

O seu avô? O pai do seu pai?

Sim, ele mesmo.

E como ele te encontrou?

Ele me mandou uma mensagem. Ele disse que viu a minha foto em uma revista.

E o que ele quer de você?

Ele quer me conhecer. Ele parece ter mudado!

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, tentando assimilar a notícia. Depois, ela suspirou e disse:

Ayla… isso é muito sério. Você tem certeza de que quer ir?

Eu olhei nos seus olhos e vi a preocupação e o medo. Eu sabia que ela não queria que eu fosse, mas eu também sabia que ela não podia me impedir. Eu sabia que era a minha chance de mudar a minha vida, de conhecer as minhas origens, de realizar os meus sonhos. Eu sabia que era o meu destino.

Eu segurei as suas mãos e disse:

Sim, mãe. Eu tenho certeza. Eu quero ir, quero ficar livre dessa vida! Se essa é a minha oportunidade, então deixe-me ser livre!

Ela apertou as minhas mãos e disse:

Então vá, filha. Vá e seja feliz.

Ela me abraçou forte e beijou a minha testa. Ela disse:

Eu te amo, Ayla. Eu te amo muito.

Eu também a abracei e disse:

Eu também te amo, mãe. Eu também te amo muito.

Nós nos soltamos e nos olhamos com amor e tristeza. Nós sabíamos que aquele era um momento de despedida, de mudança, de incerteza. Nós sabíamos que nada seria como antes.

Nós sabíamos que a nossa vida tinha mudado para sempre.

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