A proposta

Estou chegando na casa da minha família e vejo uma moça muito bonita encostada num fusca, ela está descabelada e como rosto sujo de preto. Fico com pena e ofereço ajuda. Ela fica grata e sinto meu corpo reagir com seu olhar. Por instinto passo minha mão em seu rosto para limpar uma mancha preta que espalha na sua face. Dou lhe um sorriso e ela retribui, nessa hora sinto meu corpo em chamas, não sei o que está acontecendo comigo, nunca me senti desse jeito. Que mulher é essa?

Esqueci de perguntar seu nome, nunca mais devo vê-la novamente. Eu gostaria muito de encontrá-la de novo.

Minha família me espera eufórica, estavam preocupados com minha demora, eu havia avisado que já estava a poucos metros da casa da família e demorei mais de uma hora.

Minha avó não parece doente, está muito bem por sinal. Meus tios querem conversar comigo a respeito da safra, me sinto pressionado por estarem com medo de que eu perca a fazenda:

_ Vou pagar o juro e uma parte da dívida com o banco e vou conversar com Dr. Aurélio a respeito da dívida que tenho com ele. Se ele aceitar eu vou paga-lo com juros na hora que acabar de pagar o banco.

_ Vai demorar muito, ele já esperou demais e você vai empurrar mais essa dívida, talvez seja o caso de vender a fazenda.

_ Não tio Cléber, eu não posso fazer isso com a fazenda da minha mãe! Ela não me perdoaria e meu pai se soubesse que eu não cumpri meu compromisso e a promessa que fiz a ele que jamais perderia a fazenda, ele ficaria muito triste comigo.

_ Seu pai não está mais aqui!

_ Tio Celso, eu já disse que não vendo!

Eu vendo o caminhão, vendo a caminhonete e os gados do pasto. Ando à pé e se precisar trabalho dia e noite , mas nem um palmo daquele chão será vendido.

_ Sabemos que você tem palavra e é um homem de fibra, mas se em um ano você não conseguir pagar essa dívida vamos conversar com sua mãe para colocar uma parte da fazenda à venda.

Estou com sangue nos olhos, nunca imaginei que meus tios me pressionaria e me deixaria na berlinda. Minha mãe não pode nem sonhar que posso ter que vender um pedaço da fazenda por não conseguir arcar com os meus compromissos.

Levanto cedo e vou ao banco negociar a dívida, pago os juros e uma parte do capital. Ainda ficou uma parcela que será a safra quase toda do ano seguinte. Só poderei pagar Dr. Aurélio daqui a dois anos.

Pedi a meus tios que marcassem um horário com o Dr. Aurélio, e ele só vai poder conversar comigo daqui a cinco dias, parece que viajou para Brasília.

Vou ficar por aqui e aproveitar para resolver algumas coisas com minha mãe.

Fomos ao centro de BH para comprar algumas ferramentas e materiais para a fazenda, deu a hora do café e minha mãe já está cansada de ficarmos andando pela cidade.

Paramos em uma padaria e me surpreendo com a mulher a minha frente. Não sei se ela não me reconheceu ou fez de conta que não me viu direito. Continuou atendendo no balcão e fomos atendidos por outra pessoa. Sinto muito incomodado pois esperava que ela fosse mais simpática comigo, afinal eu a socorri.

Não demoramos dentro do estacionamento, quando estamos saindo ouvi alguém a chamando de dentro da padaria:

_ Marcela! O patrão está chamando no escritório.

Ela sai e não volta, minha mãe me chama para ir embora e não a vejo mais.

Todas às vezes que saio de casa eu passo pela rua onde consertei seu carro, tenho a esperança de revê-la novamente.

Estou frustrado comigo, impossível que estou agindo dessa forma. Não tiro essa mulher da cabeça, devo estar ficando louco.

No outro dia cedo volto a padaria e pergunto a respeito da moça atendente:

_ Por favor, eu gostaria de falar com a Marcela, ela trabalha aqui?

_ Não senhor, ela foi mandada embora ontem!

_ Você pode me dar o contato dela?

_ Não podemos! Infelizmente não podemos te ajudar.

Saio de lá mais frustrado ainda. A perdi por duas vezes, idiota! Deveria ter pego seu telefone e não o fiz.

_ Téo, o que está acontecendo? Você está inquieto?

_ Nada demais, vó! Eu já estou louco para ir embora, se não fosse essa reunião amanhã eu já teria ido.

_ Calma! Você passa tanto tempo sem vir aqui, porque você não aproveita e sai com seus primos?

Eu não gosto de sair, mas estou tão entediado que acabo aceitando ir a um bar na Savassi, Patrick conhece os melhores lugares. Aproveito para conversar um pouco também com Gustavo. Ficamos de bobeira, muita gente bonita regados a muita cerveja.

Patrick levanta e vai em direção a umas moças, estamos distraídos conversando e Patrick está quase engolindo a garota. Gustavo me chama para irmos embora, procuro o primo para dizer que estamos indo pra casa e o vejo aos beijos e abraços com a tal Marcela. Ela me olha assustada e finjo que nunca a vi.

Estou morrendo de ciúmes, agora mais do que nunca eu quero ir embora daqui. Morar na cidade grande não faz o meu tipo e com certeza eu estava enganado com a pobre moça frágil. Pelo visto deve só curtir riquinhos e play boy, não gosto de mulheres desse tipo.

Saio com raiva e não dou mais nenhuma conversa, decepção é o nome, pensei que por ter um carro humilde, trabalhar numa padaria ela seria uma moça bacana para ter alguma coisa séria. Fiquei encantado cedo demais, foi bom que não me iludo mais.

Deitado no quarto a sena dela beijando Patrick não sai do meu pensamento, ela estava diferente, com roupas caras, cabelo escovado e num lugar muito caro para uma balconista. Deve ser acompanhante de luxo, e para estar com o primo boa coisa não deve ser.

Levanto cedo e chamo minha mãe para irmos ao encontro do Dr. Aurélio, quero estar indo pra casa ainda hoje. Não suporto mais esse lugar e não quero ver Patrick por um bom tempo.



Essa reunião está marcada com Dr. Aurélio, minha mãe e meus tios. Somos praticamente uma família. Apesar de não sermos próximos pois a sobrinha da vovó já é falecida a muitos anos.

Sei que eles tem uma filha, mas nunca a vi. Eu não sou muito social por isso não faço questão nenhuma.

Chegamos no horário marcado, e ficamos esperando no escritório onde ele atende as pessoas para a parte política e ao lado tem uma sala onde é seu consultório. Ele também atende seus pacientes.

_ Prazer em revê-los! Parece uma reunião de família. Só faltou a tia Maria.

Ele fala com um ar político, como sou muito direto já vou tratando logo do assunto. Explico a situação prá ele que parece compreender e ele olha pra minha mãe e para os meus tios procurando alguma aprovação para se pronunciar:

_ Bom Téo, tenho visto que você é muito esforçado e muito honesto, sei que você quer pagar essa dívida e poder trabalhar tranquilo. Porém eu tenho uma proposta para te fazer!

Fico esperando o que ele tem a falar, espero que seja algo que nos ajude a acabar com essa preocupação.

_ Então, eu gostaria de propor a você que se case com minha filha.

Eu quase morri agora!

_ Como assim casar? Eu nem conheço sua filha?

_ Ela não é uma menina, já é uma mulher feita, tem trinta anos.

Fico incrédulo, ele está me oferecendo sua filha!!!

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