Fui para o trabalho e não sei o que está acontecendo, mas o fusquinha está me dando uma canseira. Já não basta chegar no serviço cheirando a gasolina, agora o bendito deu pra não pegar na chave. Tem que me fazer passar vergonha todos os dias. Por várias vezes essa semana eu cheguei atrasada no serviço, uma ele acabou o combustível no meio da rua. Precisou ser empurrado até o posto, no outro ele fez pirraça pra sair da garagem. Eu não tenho dinheiro para o levar na oficina e estou usando minhas economias para abastecer o cachaceiro.
Chego no trabalho e meu patrão está de cara fechada, sinto que hoje o dia está contra mim. Clientes entram na loja e até agora só recebi reclamações. As outras vendedoras estão vendendo que é uma beleza, eu não fiz nem pro cafezinho.
_ Marcela, por favor venha até a minha sala.
Já posso imaginar o que vai acontecer.
_ Pois não? O senhor quer falar comigo!
_ Sim, é que você está no período de experiência e fiz algumas observações no seu trabalho, você sempre chega atrasada, está sempre com aparência cansada, distraída. E pra completar tem fechado pouquíssimas vendas, sendo assim não poderei continuar com o seu trabalho. Pode passar no RH e assinar os papéis.
Saio do escritório trocando as pernas, sei que não sou uma boa funcionária mas eu tenho me esforçado muito.
Saio do shopping e faltando um quarteirão da minha casa o bendito fusca resolve morrer no meio da rua. Abro a tampa traseira e não entendo nada desse emaranhado de coisas. Mexo em alguns cabos e acabo me sujando toda e tenho vontade de chorar, esse castigo já está me matando. Faria qualquer coisa para meu pai me dar uma nova chance.
Já está ficando tarde e meu celular acabou a bateria. Tento mais algumas vezes e o carro já está praticamente morto.
De repente vejo uma caminhonete branca parando a minha frente. Um deus grego desce e se aproxima de mim.
_ Boa noite! Não é perigoso uma senhora parada na rua com o carro aberto a essas horas?
_ Boa noite! É que meu carro estragou e meu celular acabou a bateria e não tive como pedir ajuda.
Falo um pouco com medo, mas ele é tão lindo e cheiroso que o medo some.
_ Deixa me ver?
Saio da sua frente lhe dando passagem , ele é muito atraente.
Retira um cabo de vela e manda que eu ligue o motor. Me manda parar e me chama dizendo que o carro está com o platinado colado.
_ E agora? Como vou fazer?
_ Você tem uma lixa de unha?
Fico sem saber o que tem haver uma lixa de unha com o carro, mas reviro minha bolsa e ele fica me olhando com uma cara estranha, lhe entrego a lixa. Ele passa a lixa na peça e volta com ela para o lugar, manda que eu dê a partida e o carro funciona.
_ Nossa! Foi muito bom isso que você fez. Obrigada! Eu não sei o que seria de mim se você não aparecesse ?
_ Não é pra tanto, aqui é um bairro nobre, com certeza alguém ia aparecer por aqui e te ajudar.
Ele fala e passa a mão no meu rosto retirando uma fuligem preta que está no meu rosto, era esse o motivo dele me olhar estranho. Sinto um calafrio percorrer meu corpo, um simples toque e já estou nessa situação.
Tiro um lenço da bolsa e limpo meu rosto e minhas mãos, entrego a ele que se limpa.
_ Você mora por aqui?
_ Não, eu moro no interior. Estou indo pra casa da minha avó. E a senhora mora por aqui?
_ Não sou senhora e nem pretendo ser.
Falo sorrindo de lado e ele me observa.
_ Eu moro a dois quarteirões e meu pássaro azul gosta de me fazer passar vergonha.
_ É um carro bom! Só precisa de cuidados.
_ Você é mecânico?
Pergunto desconfiada, suas mãos são grossas e seu físico é bem trabalhado.
_ Não sou! Sou cafeicultor... Então!...Eu tenho que ir!
_ Obrigada mais uma vez!
Entro no Fusca e ele funciona igual a um relógio. Quando estou chegando em casa é que me dou conta de que não perguntei o nome do cafeicultor e ele não teve a curiosidade de saber o meu nome.
Chego em casa e ainda tenho que dar a notícia para o meu pai de ser mais uma desempregada .
_ O que aconteceu? Porque essa carinha suja desse jeito?
_ O senhor ainda pergunta? Esse carro me fez perder o emprego que já não era bom. É uma vergonha que tenho que passar a cada volta na rua. O senhor poderia liberar pelo menos meu carro!
_ Você está desempregada de novo?
Você tem uma semana para estar empregada novamente, caso contrário vou tomar outra medida.
E quem daria emprego para uma mulher que tem um carro mais caro que seu estabelecimento? Se você não estuda, não se prepara para o mercado de trabalho não justifica ter um carro esportivo do ano, muito menos vai conseguir pagar as despesas de um carro desses com um salário comercial.
_ O senhor está de brincadeira! Eu não posso adquirir estabilidade com uma semana.
Levanto cedo, imprimo alguns currículos e saio para o centro da cidade. Estou cansada e faminta, já é hora do almoço e não volto pra casa enquanto eu não tiver um trabalho.
Vejo um papel fixado na porta de uma padaria e me disponibilizo a vaga. Ninguém me conhece aqui e logo me dá uma chance de trabalho. De seis da manhã as três da tarde. Beleza! Pelo menos vou estar trabalhando.
Levanto cedo, cinco e meia da manhã já estou pronta e saindo para o trabalho.
Esse primeiro dia foi puxado, atendi balcão e limpei chão, só quero chegar em casa e dormir o resto do dia.
Tenho que me acostumar com o serviço e com o horário, fico pensando como é difícil para uma pessoa que tem casa, marido e filhos e trabalhar o dia todo para ganhar esse valor que não sustenta nem o fusquinha, quem dirá um possante.
Durmo exausta, só de pensar em madrugar amanhã já estou com preguiça.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Elise Farias
Tem gente que faz milagre com um salário.
2024-12-19
4
Grace 🌻🌷
Pois é, é difícil meu bem. Mas não é impossível 😎
2024-09-21
1
Michelly De Jesus
é a vida de quem precisa disso para poder sustentar uma família!!!!😘😘🥰😍🥺🥺😭😭😤😡😱😱
2024-07-30
4