Capítulo 9. Represália

Na nave dos sugadores

Como aqueles magos idiotas conseguiram fugir? Essa dúvida não me sai da cabeça. Usaram magia, é claro, mas qual? O local é todo preparado para bloquear a magia e alguém conseguiu se soltar e derrubou os guardas com tal velocidade, que ninguém viu quem foi. Só conheço uma pessoa com esses poderes e velocidades, mas ele não estava ali.

Estou ferrada!

O material estocado não vai durar muito tempo e as minas restantes estão produzindo muito pouco. O idiota do Július não faz ideia de tudo que fiz e dos contratos que assinei para construir esse porto espacial. Há muita coisa envolvida nessa construção, incluindo os mercenários. Nem quero imaginar o que farão comigo se eu falhar nos prazos.

Estou aqui na sala de comando, sentada em frente a tela, revendo o vídeo do desembarque dos prisioneiros, pela milésima vez. Comecei a passar quadro a quadro, ampliando, até a queda dos guardas. Em todas as imagens, aparecia uma sombra, como uma névoa, indo de um guarda para outro, quando passava a imagem devagar.

— Miserável!

— O que foi, Tárcila. Quem você está xingando? — Perguntou Feillen, se aproximando de mim.

— Acho que foi o meu irmão, que ajudou eles, esse tempo todo.

— Você diz, desde a névoa negra?

— Não, antes. Ele deve ter chegado lá antes de nós e avisado a ratinha.

— Porquê você chama ela de ratinha? Ela se parece mais com uma gafanhota, sabe, aqueles insetos de pernas longas. — Falou o paspalho.

— Idiota! Claro que sei o que é um gafanhoto. Mas agora tenho mais em que pensar, do que naquela maga dos infernos.

— Inferno? Não é Magis?

Com essa eu não aguentei, levantei bufando e fui até o comando e chamei todos.

— Todos aos seus postos, vamos partir.

— Partir pra onde? — Perguntou Feillen.

Não me dei ao trabalho de responder, tracei a rota para o planeta Glabro. Se meu irmãozinho pensa que vai atrapalhar meus planos, está redondamente enganado. Assim que todos chegaram em seus postos, com a rota traçada, partimos. Liguei para o depósito e pedi para separarem as redes e correntes de prata.

Vamos caçar uns glabros.

Não demoramos muito para chegar, não fomos impedidos, pois todos conhecem minha nave. Mandei irem para a vila de Mane e todos, ouvindo o som da nave, saíram para acenar e aproveitei para ordenar o ataque. Vamos ver o que meu irmãozinho fará quanto a isso.

A Aldeia Mane é o xodó do Alfa por serem os mais pobres. Ele leva mantimentos para eles, sempre que o inverno está muito rigoroso e o cultivo não é possível. Fornece a lã para fiarem seus cobertores e casacos e nunca lhes cobra nada. Agora eu vou cobrar e eles trabalharão de graça para mim. Assim resolvo dois problemas:  a falta de escavadores e a retaliação às ações de Július.

Entro em contato com o escritório do Alfa e quem responde é o Beta:

— Qual o problema, Tárcila? — Perguntou ele, me identificando sem nem eu falar nada.

— Cadê o Július? — Fui logo perguntando.

— O que posso fazer por você, Tárcila?

— Você é um paspalho, Gil. Se não quer me falar, é porque ele não está no planeta, era só isso que eu queria saber.

Desliguei, não dando tempo dele responder. As celas no depósito já estavam cheias de glabres e já estamos partindo. Vou aproveitar para examinar novamente a lua de Kompac, próxima do novo porto espacial. Os materiais da última coleta revelaram algo interessante e talvez nos dê muitos lucros. Só tenho que fazer mais estudos, pois é apenas uma lua e não tem condições nenhuma de ficarmos lá sem uma boa infraestrutura.

Não dá para ficar só nesse planetinha vermelho, logo se esgotarão os recursos dele e precisaremos encontrar outro planeta para explorar.

— Feillen!!!

Tenho uma hora para consumir aquele idiota e é isso que vou fazer. Ele chega e me põe no ombro, correndo pelo corredor da nave até nossa cabine e depois de trancar a porta, me pega de jeito, como eu gosto. Sei que quando sair daqui, estarei leve e com a cor normal de volta. Detesto ficar roxa.

*

Assim que descarregamos a carga de escravos, os colocamos para trabalhar e embora alguns tivessem gritado e reclamado, logo todos estavam trabalhando e eles são muito melhores que os maginos, pois são fortes e podem passar mais tempo sem comer, gerando menos gastos. Haviam filhotes no meio e ordenei que separassem eles para um trabalho especial.

Foram separadas seis e trazidos para mim. Examinei todos e já eram grandinhos, nenhum bebê, então chamei um dos serventes e mandei que colocassem eles para fazer a limpeza da nave, já que todos ali estavam ocupados. Ordenei que ninguém tocasse neles, pois eram meus. Pelo menos, tratando bem os filhotes, Julius não ficará tão revoltado. Aquele Alfa é um tolo, todo preocupadinho com os fracos e oprimidos. Oprimidos por mim é claro.

Olho os vídeos de segurança e vejo que os escravos estão fazendo corpo mole, aperto um botão e uma corrente elétrica chega até eles pelas correntes, lhes dando um choque rápido. Falei no microfone e minha voz foi ouvida por eles pelo alto falante:

— Trabalhem, ou além de choques, vou dar um filhote de cada vez para o nosso chefe cozinheiro. COMECEM AGORA! — Gritei e eles se mexeram como formigas correndo de um lado para o outro.

Rapidamente, a cratera se fez novamente e chegamos ao veio principal do minério, o que era onde eu queria que chegassen. Parece que realmente, Julius não está no planeta Glabro, se não, já teria chegado aqui. Vou esperar até enchermos alguns barris e vou até Magis novamente, só que pelo outro lado e aí veremos o que Julius fará.

Vamos ver por quanto tempo ele aguenta essa guerra pacificamente.Vou passar por cima dele com a amassadeira de lixo espacoal e não sobrará pedacinho de glabro pra contar a história. 

Adeus Julius.

Serei a nova Alfa, lider dos glabros e dominaremos o comércio e o trânsito intergaláctico de nossa galáxia. 

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