05

Quatro meses se passaram desde minha chegada à Luária. Eu tinha grandes amigos. Ana, Pati e eu éramos o que podia se chamar de melhores amigas. Flávio também se tornou um forte “aliado”. E o peso que eu carregava? Bem, eu tentava esquecê-lo, mas era impossível. Eu havia melhorado, mas jamais me curaria. Todos evitavam falar sobre esse assunto, o que ajudava. Antes, só com a palavra pais ou irmão (ou até mesmo mãe e pai) eu desatava a chorar. Agora, eu podia ouvi-las, sem tanto desespero e dor. Eu guardava todas as minhas lágrimas para a noite. Não havia uma noite se quer que eu não chorasse, trancafiada em meu quarto. E também tinham os sonhos.

Toda noite era a mesma coisa, os mesmos cabelos negros, o mesmo vento, o mesmo crepúsculo, o mesmo lugar. Com o tempo eu parei de correr para ver o meu corpo, apenas ia, para que o sonho acabasse, nem gritava mais. Era entediante dormir. Eu estava com olheiras enormes sob os olhos, pois graças aos sonhos eu não me sentia descansada.

Pude ouvir diversas vezes minha tia falando com minha avó por telefone. Ela achava que eu estava melhor, mas não muito. Disse que eu não me emocionava mais tão facilmente, mas que eu ainda estava bem sensível. Ela disse que podia me ouvir chorar toda noite em meu quarto e que sabia que eu ainda sofria muito.

Estava me dando bem na escola, o meu único problema era Matemática. Mesmo sendo meio rebelde e desleixada, eu sempre fui uma boa aluna – menos em Matemática – então os professores gostavam de mim – menos a professora de Matemática. Aquela escola era fácil e em grande parte das matérias eu estava adiantada devido a minha outra escola.

Eu definitivamente amava meus amigos e não os trocaria por nada. Mas eu ainda sentia muita falta dos amigos que deixei para trás. Eu conversava com eles pela internet, mas não era a mesma coisa. Eu queria vê-los, mas sabia que não seria possível tão cedo. A saudade brincava dolorosamente em meio peito, mas não é só à saudade deles que eu estava me referindo.

O tempo passava e a dor aumentava, porque eu começava a perceber que jamais veria meus pais e meu irmão novamente. A dor martelava de uma forma estúpida e nunca parava. Com o tempo eu me acostumara com ela, mas ainda doía de forma intensa. Eu sentia, às vezes, como se o tempo não passasse, como se o dia jamais acabasse, como se eu ainda estivesse revivendo a mesma cena. A cena mais dramática, traumática e dolorosa de toda a minha vida. Aqueles olhos, aqueles perfeitos olhos...

Eu sentia como se minha vida estivesse totalmente de cabeça para baixo, e como se eu tivesse começando me acostumar com ela assim. Eu queria voltar para cima, aquilo me incomodava, mas eu sabia que jamais veria o outro lado novamente. A minha vida não era mais a mesma! Eu não era mais a mesma! Nada era o mesmo.

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Comments

Amanda

Amanda

😢😢😢😢😢😢😢😢

2023-08-10

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