Completa que deu à imprensa sobre sua vida de chefe de volantes contra o
cangaço, concedida ao jornalista Antônio Sapucaia e publicada no jornal
Gazeta de Alagoas, edições de 12 a 14 de dezembro de 1965, além de
reproduzida, a 12 de maio de 1966, pelo Correio Braziliense, tivesse
mencionado elogiosamente e por extenso apenas o nome de um de seus
auxiliares. Suas palavras: “Sebastião Vieira Sandes, conhecido por Santo,
meu compadre e um dos mais corajosos milicianos que conheci”.
Palavras ditas sobre um rapaz de apenas 22 anos de idade, em 1938. De
fato, o aspirante viria a apadrinhar a menina Socorro, no ano de 1943,
convertendo-se em compadre do já então cabo Santo, a quem tanto
admirava, segundo nos revelou sua esposa, Lourdes Ramalho de Figueiredo
Sandes.
Informação generalizada entre os soldados volantes que combateram no
Angico diz respeito a ter sido Santo quem decepou a cabeça de Lampião
com o próprio facão deste, retirando-lhe o lenço-jabiraca do pescoço e
recolhendo as mais de trinta alianças de ouro da presilha que prendia o
tecido, o chamado “cartucho”.
A exemplo do que se passa no futebol, em que cabe ao autor do gol
apanhar a bola no fundo da rede e não a outro qualquer, no cangaço a
autoria definida da morte credenciava o responsável ao “privilégio” de
cortar a cabeça da vítima. Uma precedência natural. Quando mais não
fosse, para fundar a certeza de que sobreviria a promoção de patente por ato
de bravura. Os exemplos são inúmeros. Para não falar do tiro com que foi
abatido o cachorro Guarani, único de Lampião naquela quadra, sabidamente
dado por Santo. Ou a apropriação da pistola Luger Parabellum do
cangaceiro, além de valores em ouro e dinheiro. Tradição militar
antiquíssima, essa da apropriação do espólio de guerra pelo combatente que
o conquistasse em risco de vida, conservada no tempo e no lugar deste
estudo, que não se aplicava ali tão somente quanto às armas longas
militares, fuzis ou mosquetões, que cumpria fossem entregues ao superiorem comando para que as encaminhasse à corporação.
A considerar ainda, em favor de Santo, a remoção para Maceió, em fins
desse ano mesmo de 1938, para integrar a guarda pessoal do governador do
estado, federalizado à época em interventor, Osman Loureiro de Farias, com
base em indicação única feita pelo aspirante Ferreira. Ou ainda as palavras
de Melchiades da Rocha, primeiro repórter da grande imprensa do Sudeste
a chegar a Alagoas – e mesmo à Grota do Angico – para a cobertura do
episódio de 1938, representando o jornal diário A Noite, do Rio de Janeiro,
um dos maiores do país na ocasião: “Após ter entrevistado o tenente
Bezerra, fui ter com alguns dos soldados que tomaram parte na sangueira da
Grota do Angico. Entre os mesmos, quero destacar aqui o de nome Antônio
Honorato da Silva, o Noratinho, como é ele conhecido no seio da tropa, e os
seus companheiros Sebastião Vieira Sandes e Antônio Bertholdo da Silva.
O primeiro, segundo suas próprias palavras, ratificadas por vários de seus
companheiros, fora o herói da sangrenta façanha, pois Lampião tombara em
consequência de um tiro certeiro de seu fuzil. Quanto a Sandes e a Bertoldo,
coubera-lhes, respectivamente, a ‘honra’ da degola do Rei do Cangaço e a
de Maria Bonita”.
Nas fotografias da revista semanal A Noite Ilustrada, Noratinho e Santo
ocupam o centro de uma das imagens ladeados, em alguns casos, pelos
companheiros Agostinho Teixeira de Souza e Abdon Cosmo de Andrade.
Este último, permitindo-se o farsesco de servir de manequim para a
exibição à imprensa dos atavios tomados ao chefe cangaceiro, ao longo do
ritual de exibição das cabeças, de cidade em cidade, nas comemorações do
1938.
Quanto ao silêncio de mais de sessenta anos sobre a autoria da façanha,
o qual viria a quebrar somente às vésperas da morte – de que tinha perfeita
consciência, desenganado que fora por médicos paulistas quanto a um
aneurisma inoperável em vias de estrangular – a explicação de Santo nos
põe diante da singeleza do menino sertanejo: “O aspirante me disse que eu
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Atualizado até capítulo 42
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