Capítulo 5 - Detalhe Por Detalhe

Maya Torres

Já se passava das três da manhã quando retornei.

Tomei o sedativo receitado pelo médico, puxei o sofá-cama e entrei debaixo das cobertas.

Horas depois...

Os analgésicos me ajudaram a aguentar as aulas do dia seguinte.

Usei uma jaqueta, e ninguém percebeu que levei dezesseis pontos no antebraço, e que estava morrendo de dor.

Horas depois..

O escritório do advogado do Rafael ficava em um dos prédios envidraçados do centro.

Estacionei nos arredores e peguei um ônibus. Eram três e quarenta, quando adentrei ao prédio.

Mal sentei para esperar, e uma mulher elegante surgiu na recepção e me acompanhou até a luxuosa sala, na qual um homem de quase quarenta anos me recebeu.

Xx: Sente-se por favor, senhorita Torres.

Indicou uma das quatro confortaveis cadeiras e voltou para o seu ligar atrás da escrivaninha.

Xx: Rafael se atrasou. Podemos começar sem ele.

Me entregou três cópias.

Xx: Examinaremos o contrato.

Ele era direto, resolvi esclarecer cláusula por cláusula.

Todas as possibilidades foram consideradas. Fiquei boquiaberta ao descobrir que teria de morar na casa do Rafael.

Uma amante em geral ficava em um apartamento próprio, atendendo quando solicitada.

Reparei que Rafael aumentou o período de doze para quinze meses.

Por que imaginei que poderia impôr condições?

Fora que ele também podia terminar o relacionamento a qualquer momento, durante aquele período, mas eu não.

Se Rafael o fizesse, eu teria de pagar o correspondente aos meses restantes.

Não tinha como escapar, como negociar. Rafael me tinha na palma da sua mão, legalmente.

Enquanto examinava o segundo documento, Rafael entrou e me dirigiu um olhar breve e frio.

O acordo pessoal abrangia questões íntimas e envolvia exames de saúde e de sangue.

Senti-me ofendida, quase insultada. Fiquei corada, e só me acalmei quando vi que Rafael já tinha feito os mesmos exames.

Xx: Uma precaução necessária.

O advogado explicou com delicadeza, diante de sua perplexidade com a lista de exigências.

Li tudo com muita atenção, e esclareci todas as dúvidas.

Xx: É claro que você é livre para rejeitar essas exigências. Livre para ir embora daquelr edifício e não ter nada com Rafael. Mas se o fizer, herdaria uma dívida de meio milhão de dólares, o que a deixaria falida. As chances de continuar a lecionar seriam mínimas.

Quinze meses não eram uma vida. Depois de tudo, estaria livre, pronta para retomar o próprio rumo.

Pelo meu silêncio, o advogado supôs que eu estava de acordo.

Xx: Algum pormenor que queira esclarecer?

Maya: Não.

Mas por dentro eu estava arrasada.

Xx: Foi marcada uma consulta com um médico para depois desta reunião. Também marquei uma hora com um outro advogado, para que a aconselhe. Os resultados dos testes devem ficar prontos em quarenta e oito horas, e uma cópia lhe será enviada.

Não podia haver maior eficiência. Então por que eu me sentia como se estivesse em uma montanha russa?

Era isso o que planejara, que perseguira. Todas as queixas contra o meu pai serão retiradas.

Não teria de servir mesas todas as noites e poderia sair do apartamentinho alugado.

Maya: Obrigada.

Me levantei e peguei o cartão do advogado .

Xx: O consultório médico fica no terceiro andar.

O homem informou.

Xx: E o meu colega está no décimo.

Rafael Toscano

Assim que Maya se retirou da sala acompanhada da secretária. O advogado fechou a porta e foi ao meu encontro.

Xx: Espero que saiba o que está fazendo.

Rafael: Você tomou mesmo todas as providências para que tudo dê certo!

Respondi com tranquilidade, enquanto meu velho amigo lhe servia um drink.

Gelo, uísque, soda em seguida ele me encarou.

Xx: Dessa vez você está lidando com um ser humano, Rafael. Não com ações, títulos, tijolos e argamassa.

Suspirei.

Xx: O acordo me intriga.

Rafael: A mulher também.

Xx: Há muito dinheiro envolvido. Espero que a recompensa seja adequada.

O advogado tomou um longo gole.

Rafael: Espero que sim.

Maya Torres

Às seis horas, me dirigi ao restaurante. Calcei meus sapatos de salto alto, vesti o avental e comecei a trabalhar.

Não tive tempo para pensar nos últimos acontecimentos e a falta de sonoe fez trocar dois pedidos, o que fez o meu chefe ficar furioso.

Após três horas carregando bandejas e pratos, meu braço começou a doer, juro que se eu recebesse mais um tapinha no traseiro, iria embora.

Consegui uma vaga na rua principal, após dar muitas voltas com o carro.

Às onze em ponto peguei minha bolsa, o pagamento e sai.

Xx: Maya?

A voz me assustou, e seu dono ainda mais.

Rafael tinha uma aparência formidável, o rosto sombreado pelas luzes na cor neon.

Maya: O que faz aqui?

Ele me lançou um olhar duro.

Rafael: Vim pôr um fim ao seu tormento. Chega desse trabalho miserável.

Maya: Você não pode..

Protestei, com a boca entreaberta.

Rafael: Veja.

Minutos depois, Rafael estava de volta, e seu jeito me deixou perplexa.

Rafael: Entre no carro. Eu a sigo até sua caa.

Maya: Daqui a dois ou três dias você poderá mandar em mim. Agora, esqueça!

O encarei, altiva.

Rafael: Que coragem, pequena!

A tranquilidade dele era insultante.

Rafael: Teve a mesma coragem ontemquando foi atacada?

Lembrei-me de quando o médico perguntou sobre o meu antebraço machucado.

Maya: As notícias voam..

Rafael: Você entrou no hospital à meia noite e saiu às três.

Céus, ele era rápido!

Maya: Suas fontes são admiráveis, senhor Toscano.

Rafael: Da próxima vez, não doga que sabe se cuidar.

Maya: Faço isso há algum tempo.

Não queria ser tão cínica mas Rafael estava sendo um carrasco.

Rafael: Entre no carro, Maya.

O obecedi, e dirigi até o meu prédio. Assim que estacionei, sai do veículo e Rafael apareceu à minha frente.

Maya: Estou cansada demais para censuras.

Se não entrasse e me sentasse rápido, iria desmaiar.

Rafael: Tome um sedativo e falte amanhã.

Maya: Sim e não.

Comecei a andar e lhe disse um breve boa noite.

Rafael Toscano

Maya era de uma coragem admirável, responder-me daquela maneira não era para qualquer um.

Fiquei parado, ciente de que não podia impedi-la.

Esperei que a luz do quarto se acendesse, entrei no meu Mercedes e liguei o carro.

O final de semana se aproximava. Na segunda feira os resultados dos exames estariam prontos, e eles assinariam os papeis.

Enquanto guiava, perguntei-me por que estava tão preocupado com aquela coisinha loira tão pequena e frágil.

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