Capítulo 04 - Parte 01

HENRIQUE

Algumas pessoas te ferem tão profundamente, que não há como ignorar as cicatrizes que ficou em você,na verdade as cicatrizes se tornou minha melhor marca. Por mais que haja o perdão e, consequentemente, a liberdade de não guardar mágoas dentro do seu corpo, as marcas estão ali. Elas sempre estarão ali.

O tempo não apaga, palavras não desfazem, gestos não podem amenizar. Entenda: feridas fecham e saram, mas nunca deixarão de existir.

Eu sinto magoa. Ódio por ter sido tão tolo e confiante com a pessoa que eu amava e por fim me enganou no final de tudo.

Se Ellie soubesse a força que ela tem sobre a minha vida. Se ela soubesse que tem influência no meu dia, na minha alimentação e até no meu círculo de amizades. Ou até se soubesse como ela me tem nas mãos feito um fantoche.

Mas ela não vai saber, não vai!

Sempre mantive esse silêncio, e esse coração que pouco se mostra não é por bobeira! Já sofri um assassinato do coração, e por isso hoje mantenho ele camuflado sim, por segurança. As pessoas gostam de jogar, de seduzir, te querem possuir e quando descobrem que tem: acabou a graça, já querem outro jogo pra brincar. Já errei milhares vezes, deixei saberem que tinham meu coração e fui enganado. Mas com você não, você não vai saber! Nunca! Não vai saber que eu respiro você o dia todo e que no fim dele eu choro igual á um idiota pela sua ausência.

Não vai saber que te vejo em todos os lugares e que tem lembrança sua espalhada por cada centímetro de espaço que ando.

Meu corpo treme ao lembrar-me do dia que tudo desabou, vi minha vida se desfazendo de uma vez. Eu vi a felicidade indo embora sem chance nenhuma de segurar-la. Imagino quantas pessoas se tornaram tão imensamente amarga por um amor perdido, ou, por um amor mal correspondido. Tolo. O amor é para os fracos.

E você, foi o quê?

Meu consciente grita lá do fundo mais escuro da minha mente com toda sua razão de acreditar que fui um fraco.

Fraco.

Inútil.

Mas, jamais deixarei nenhuma mulher pisar encima de mim novamente, assim como Ellie fez e levou tudo que eu tinha.

Já se fazia uma semana que ela se foi.

Eu, como um maldito otário, vivo sofrendo pelos cantos e acabando-me na bebida. Minha mãe estava ao meu lado nesse momento mais difícil e eu agradecia com todo o coração pela sua bondade infinita.

Tirei todos os meus pensamentos de órbita para tentar esquecer tudo que aconteceu e tentar seguir em frente. Eu sou um cara forte. Porém, com a porra do coração ferido que será incapaz de amar novamente.

— Imaginei que estivesse aqui! — Becca, minha irmã, apareceu no terraço da empresa. Sem dá muita atenção coloquei as mãos no bolso fechando os olhos e sentindo a sensação do vento batendo em meu rosto — Vim assim que soube, meu irmão — senti sua mão leve em meu ombro com o intuito de dizer "Estou aqui para o que precisar".

Ficamos calados por alguns minutos, apenas olhando o céu negro junto com as luzes da cidade.

— E Samy? — perguntei quebrando o silêncio.

— Está com a mamãe. Você está bem? — assenti, coloquei meu braço em seus ombro indo para o elevador. Era reconfortante o silêncio que eu e minha irmã gêmea tínhamos.

Assim que chegamos em meu apartamento Samy rapidamente veio correndo para dar-me o abraço de urso que eu tanto amava. Meu sonho sempre fora ter um filho com Ellie. Espanto os pensamentos rapidamente e tento me concentrar apenas em minha família.

(4 meses depois)

— Mirian, desmarque todas reuniões de hoje! — falei a minha secretária assim que cheguei a minha sala presidencial.

— Sim senhor! — respondeu sem jeito. Tsc. Já se tornou comum as pessoas viverem com meu humor negro.

Coloquei minha pasta encima da mesa, liguei o computador indo em minhas redes sociais, logo deu a vontade de ver o perfil dela... e como sempre estava nossa foto que tiramos ao visitar o museu de arqueologia que Ellie tanto amava. 4 meses sem entrar, talvez tenha mudado de número.

Droga. Estava novamente pensando nela.

Fechei as abas das pesquisas, assinei alguns documentos ouvindo meu interfone tocar.

— O que foi Mirian?

— A senhorita Izabela estar aqui e quer imediatamente falar com o senhor, devo mandar-la entrar?

— Sim.

Assim desliguei, vendo Belinha entrar com um sorriso largo. Imagino que ela esteja feliz.

— O que foi dessa vez, Bela?

— Tenho algo para lhe contar — falou contente. Rodou a mesa sentando em meu colo.

— Então fale logo.

— Bom... — mordeu os lábios e logo sorriu novamente — Não sei como te contar, mais vamos lá... Henrique, eu estou grávida! — ela abriu um sorriso largo e sinceramente meu coração parou de bater por alguns segundos.

— Como isso aconteceu? — a empurrei levantando-me da cadeira.

— Oras, a gente transamos a duas semanas atrás e você gozou dentro, quer mais detalhes? — debochou.

— Eu sei disso, quero saber, eu usei a porra camisinha — respondi frio.

— Deve ter furado Henrique. Você vai me abandonar? — ela me abraçou choramingando. Claro que não. Era meu filho. Meu herdeiro. Eu confiava nela e não podia deixar a mãe do meu filho desamparada.

— Me dê um tempo, não sei no que dizer — disse olhando pela vidraça o movimento da avenida.

— Certo, eu darei. Sabe onde eu moro, só te peço que não me abandone na mesma barca — então ela saiu sem dizer mais nada, e eu estava como um homem mais amargo e frio. Não me importando com nada.

Estou me sentindo tão triste.

Eu não diria triste, infeliz talvez. É como se você se visse em um labirinto, você consegue ver a saída mas não sabe como chegar, tenta se levantar e se vê caído no chão mesmo assim. Você se vê naquela situação e não consegue fazer nada. Mas, é muito fácil alguém chegar e dizer o que fazer, já que não é ela quem sente. É fácil dizer pra qual caminho seguir, já que não é você que está perdido. Eu queria que pelo menos uma vez, as coisas fossem do meu jeito.

Mais infelizmente não são.

(8 meses)

— Douglas, há uma reunião a tarde quero que você compareça em meu lugar — disse ao meu amigo que brincava com o bonequinho do super Mário encima da mesa. Bom, nem parecia que ele tinha uma filha com essa mente infantil.

— Já contou para sua família que irá ser pai? — perguntou me ignorando. Cerrei os olhos tentando me acalmar.

— Não, mais faremos um jantar para comunicar que iremos nos casar.

— O QUÊ? — disse, na verdade gritou para todo o prédio ouvir. Revirei os olhos ignorando sua cara de susto — Cara, você ta sentenciado sua morte. Só por que vocês vão ter um filho não quer dizer que precisa casar com aquela megera.

— Não fale assim da minha noiva, Douglas — o repreendi.

— Depois não venha me dizer que eu não avisei!

— A propósito, estou com saudade de Agatha — mudei de assunto.

— E..la... ela está morando com a mãe dela, qualquer dia a levo em sua casa.

— Eu mesmo posso ir ver-la se quiser — ele fez um cara de espanto, o que achei muito estranho.

— NÂO! — gritou novamente. Douglas tinha algum problema? — Não se incomode, Henrique. Minha ex mulher é muito insuportável.

— Entendo.

Assim terminamos nossa conversa e fomos a nossos afazeres, recebi uma ligação de minha mãe para ir ao mercado comprar alguns materiais para o jantar de amanhã a noite. Dirigi até o mais próximo mercado, peguei tudo que estava na lista dada por dona Laura.

Entrei para o corredor de doces e logo me surpreendi por ver Agatha, filha de Douglas, tentando pegar um chocolate encima do freezer.

— Oi pequena! — disse tendo sua atenção e logo um sorriso brotou em seu rosto.

— TIO RIQUE!!! — ela pulou em meu colo sorridente.

— Quer ajuda com isso? — ela assentiu. Peguei o chocolate a entregando, ela estava sozinha, apenas havia algumas pessoas vagando pelo mercado.

— Você está sozinha?

— Não tio, estou com minha tia — ela sorriu mais uma vez deixando meu coração leve. Como um jeito doce de uma criança pode me acalmar?

— Tio, já vou mais fique com um — a coloquei no chão, vendo a pequena me entregar um chocolate.

— Obrigado. Como vai o seu pai? — perguntei para saber se ela realmente estava morando com sua mãe. Eu conhecia muito bem Douglas e sabia que ele estava mentindo.

— Papai está trabalhando e vim com minha tia comprar morangos — entendi, talvez Douglas dissesse a verdade, pois, ele não tinha irmã.

— Venha, vou te levar para sua tia irresponsável — sim, era uma irresponsável por deixar uma criança sozinha ao supermercado, era um lugar que as crianças eram fácil de se perder.

— Ela tá bem ali tio — apontou para o corredor e logo andou, acompanhei e só ouvi meu coração batendo.

Ela estava linda.

Continuava a mesma.

Seu olhar estava em mim, assim como eu olhava tão intensamente para ela. Olhei para baixo vendo uma barriga grande. Ela estava grávida. E o que ela estava fazendo com Agatha? Como isso?

Não, eu a odeio. Coração tolo, pare com isto já!

Não pode ser o que eu estou pensando.

Não não não. Não pode.

Ela estava grávida de Douglas?

Argh, não se importe Henrique, você já vai ser pai e com certeza esse filho não é seu.

Eu fui traído duas vezes?

Eu mereço isso?

Tantas perguntas que eu certamente não iria ter nenhuma resposta sem perguntar para o meu amigo. Ou melhor, ex amigo.

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