Capítulo 5: Primeiro encontro?

Aquilo era muita loucura. Eu sei. Mas não posso evitar. Aquele emprego era tudo o que eu queria. Ok. Talvez eu pudesse ter dito meu verdadeiro nome pra variar. Mas não poderia correr o risco de Luís saber e voltar a ser o mesmo de antes. Me tratando como um lixo. Assim que saí da sala de Sara me deparo com algumas pessoas na minha frente. Só podia ser. Lina, Carla e Jean foram os primeiros a me rodear pra saber do acontecido com minúcia. E me encheram de perguntas:

— É você a nova estagiária aqui, né?

— Sim.

— Qual seu nome?

Já que eu comecei isso, tenho que continuar meu disfarce.

— Sou a Cynthia.

O secretário de Sara aparece na mesma hora, me salvando daquele interrogatório. Ele me leva até uma mesa. Aquele seria meu novo lugar agora, por sinal bem mais espaçoso e bem melhor que o meu antigo. Era entre o escritório de Sara e Luís.

— Aqui. — Ele aponta pra uma mesa com cadeira. Essa será sua nova mesa. E o senhor Luís está esperando você no escritório, você vai precisar se apresentar a ele. — O secretário saiu logo em seguida.

Me sento lá e não demora pra Lina e Carla aparecerem, mas dessa vez não teria mais escapatória.

— É você a nova namorada do Luís, Cynthia?— Carla insinua.

Quase caí da cadeira. O que ela tava pensando? Detesto quando sou acusada injustamente. Por que diabos Lina foi aparecer exatamente naquela hora? Argh!

— Claro que não! Que absurdo! De onde você tirou isso? — Me defendo.

— É que eu te vi quase aos beijos com Luís, então pensei que… — Lina explica.

— Pensou errado. Eu e Luís não temos nada, só somos companheiros de trabalho.

— Tá bom, pra que tanta irritação?

Sorri de canto de boca e elas finalmente saíram e me deixaram de lado. Mas minha felicidade dura pouco. Tenho que me apresentar pro meu novo chefe, pra meu azar. Me dirijo até a sala de Luís e bato na porta. Ele me manda entrar.

Uau! O escritório dele era muito semelhante ao da Sara. Só que com menos móveis. Assim que vi ele sentado na enorme mesa a minha frente, senti um grande desconforto. Talvez porquê eu não sei como separar minha vida profissional da minha pessoal. Só de pensar já sentia um frio na barriga. Espero que ele saiba fazer isso.

— Me mandaram aqui falar com você e parece que você vai ser meu novo chefe agora… — Falo tensa.

Ele não tirava os olhos do computador na sua frente e continuava me ignorando. Idiota!

— Sim, eu sei. E o que você quer? — Ele responde sem sequer me olhar nos olhos.

— Acho que você deveria me dizer...Acredite, é o que eu mais quero saber.

— E o que você quer saber? — Me remexo na cadeira.

Idiota petulante.

— Será que dá ao menos pra você olhar pra mim? — Me excedo um pouquinho.

— Pra isso, você vai ter que me convencer.

Eu reviro os olhos na mente. Que idiota!

— Convencer? E o que eu tenho que fazer?

— Pode começar dizendo o que fez você vim procurar este trabalho.

— De novo? A sara já me perguntou isso.

— Eu não sou a Sara. Vai responder ou não?

Argh! Arrogante!

— Sim, eu vim porquê eu sempre tive inspiração nas criações de Sara e ela sempre foi meu estímulo pra meus desenhos.

— Só isso? Pensei que você fosse um pouquinho mais ambiciosa.

— Só porque minha família tem dívidas não quer dizer que sou gananciosa! Eu tenho meus princípios! — Me levanto da poltrona.

— Não foi isso que eu quis dizer, eu…— Ele levanta o rosto, e seu semblante estava lastimável, seus olhos inchados denunciavam que tinha chorado há pouco.

Confesso que senti pena naquele momento. Pela primeira vez, vi ele em um estado frágil e vulnerável. Muito diferente do antigo Luís abusivo.

— Está tudo bem? — Pergunto me aproximando da mesa dele.

— Sim, só não estou no meu melhor momento agora. Mas de qualquer forma isso não vem ao caso. Você realmente quer isso? Já adianto que você vai ter muita responsabilidade. Você vai dar conta?

— Sim, me dê uma chance!

— Eu quero que você me apresente um design sobre um produto cosmético pra uma página da revista. Está aqui todo o material com todas as informações que você precisa saber. — Ele me entrega uma pasta com uma pilha de papéis, já percebo que vou ter um grande trabalho daqui pra frente.

— É só isso?

— Sim, considere como um teste pra sua admissão.

— Vou dar meu melhor.

— Eu sei que vai.— Ele balbucia.

— Oi?

— Nada. Pode ir agora.

Me despeço e saio da sala dele. Mas o que foi aquilo? O que deu nele afinal? Será que ele realmente não está bem? Senti que ele começou a me tratar um pouco diferente do habitual. Antes ele me ignorava, hoje sinto que algo pode ter mudado.

Volto pra minha mesa e checo meu celular. Tinha uma mensagem de Cynthia. Ela me convidava pra um jantar depois do trabalho. Depois de tantas surpresas naquele dia, poderei ter um tempo pra lazer. Me apressei para terminar o design seguindo algumas instruções que Luís havia colocado no material e enviei pro email dele. Finalmente poderei sair daquele ambiente. Desliguei o computador, peguei minhas coisas e corri pro lugar que Cynthia estava.

Assim que entro no restaurante, já me deparo com Cynthia acenando pra mim, sentada em uma mesa. Ela bebia um copo de suco e pediu pro garçom servir a "comida da casa" e enquanto nós esperamos a comida, conversamos:

— E então, você conseguiu as informações?— Ela começa.

— Que informações? — Ponho a mão no queixo. — Ah, sobre o homem misterioso?

— Claro, de que mais? Qual é o nome dele?

Que garota insuportável!

— É Luís. Luís Guilherme.

— E o que mais? Desembucha!

— Acho que informação sobre ele é só o que você vai ouvir de mim agora.

— Por quê?

— Por quê ele é meu chefe e inquilino na minha casa.

— O quê?! — Ela põe mão na boca, pasma.

— Pois é, e essa é uma triste notícia pra mim, na verdade.

— Não acredito que você vai conviver com um gato daqueles e ainda acha ruim!

— Me escuta, ele não é uma boa pessoa, tá?

— Como assim?

— Eu soube que ele já fez muita coisas ruins na juventude dele. E você? Por quê você quer saber sobre ele?

Logo, o garçom serve o prato de filé com batatas fritas pra nós duas.

— Não é nada demais. É que ele estudou na mesma faculdade que eu. E eu tinha um crush nele, só que ele não me conhecia, porque a gente era de sala diferente. Mas eu conhecia ele bem.

Nossa! Por essa eu não esperava.

— E aí? O que aconteceu?

— Quando eu tomei coragem pra me declarar, ele me deu o maior fora sem nem me conhecer. Esse foi com certeza o maior vexame da minha vida.

— Isso sim que é uma notícia bombástica!

— Haha, continue assim, e vamos quem ri por último!

A gente ia começando uma guerra de batatinha fritas, quando ouço atrás de mim alguém cumprimentar Cynthia. Era a voz de um homem conhecido.

— Boa noite meninas! — Viro minha cabeça e dou de cara com Henrique. Ele estava a centímetros de distância de mim. Na mesma hora, Cynthia se levanta da cadeira e se despede.

O quê? Como isso é possível? Foi ela que armou aquilo? Não acredito que ela ia me deixar sozinha com aquele estranho!

— Eu vou indo agora, espero que vocês se dêem bem. Tchau gente! — Cynthia pega a bolsa e sai do restaurante.

Henrique se senta na mesa e pede ao garçom uma taça de vinho.

— Você vem com frequência aqui? — Quebro o silêncio.

— Na verdade, só vim onde a Cynthia disse que estaria. — Ele responde.

— Entendi.

— Mas se você estiver desconfortável aqui, podemos ir pra outro lugar.

— Não, não, aqui está bom.

— Peço desculpas por atrapalhar seus planos com sua amiga, foi eu que pedi pra me encontrar com você.

— Não, tudo bem, você não atrapalhou nada.

— Sendo assim, fico feliz.

— Então, porquê você quis me encontrar?