Eu ainda não me sentia preparada para encarar aquele que já tinha me feito chorar durante quase toda minha infância. Eu sentia que precisava mostrar algo mais além, que estava diferente da menina de antes e que estaria disposta a encarar o que houvesse. Eu não esperava ter que revê-lo assim do nada, esperava que eu pudesse ter coragem para ser eu mesma e ele não me sacanear novamente. Mas infelizmente eu fracassei, ainda estava me recuperando do meu passado, quando ele inesperadamente retorna, isso talvez seja demais para mim. Mas ainda assim não quero fazer errado, nem quero que Luís me veja dessa forma, a mesma que eu era na infância…
— E qual é seu nome? — Luís pergunta incisivamente.
—Meu nome é… Cynthia Boulevard. — Respondo instintivamente, com a primeira coisa que me veio à cabeça.
—Prazer! Eu sou Luís. — Ele estende sua mão em minha direção.
Pena que não posso dizer o mesmo. Porque na verdade é um desprazer ver ele de novo.
— Então você não conhece nenhuma Joanna? Sabe… É que você me lembra muito uma menina fofinha que estudou comigo no fundamental.
Fofinha ou balofa? Que ódio! Parece que ele não tá lembrado do tanto que ele me fez passar raiva!
— Não, eu não conheço nenhuma Joanna. — Eu respondo com um sorriso amarelo.
— Tudo bem, então até mais Cynthia! — Ele acena com as mãos, desce as escadas e vai embora.
Ufa! Só parecia que estava me livrando dessa, mas ele seria meu chefe! Estou completamente encrencada! Não sei porque achei que essa era uma boa ideia, estou ferrada! Só consigo pensar nisso. Queria enfiar minha cabeça em um buraco se tivesse na hora em que o vi. Parecia até que eu tinha visto um fantasma, meu coração disparou, fiquei pálida e em estado de choque. Não pode ser, será que eu estou com transtorno pós- traumático? Ai..minha cabeça dói só de pensar nisso. Eu não entendo nada disso, mas sei que vai ser bom manter distância do Luís, pelo meu próprio bem. Voltei para minha mesa e felizmente Lina e Carla voltaram para seus lugares. Passado algum tempo, finalmente era hora de ir embora e fui para casa com um misto de sentimentos. Ao mesmo tempo que parecia livre do Luís, me sentia mais presa. Sei que não foi correto eu ter mentido, mas queria ficar longe o máximo que eu pudesse dele. Ainda bem que amanhã não precisarei ir já que vai ser final de semana, então poderei aproveitar bem para pensar no que fazer antes de reencontrar meu novo chefe e saber como vou lidar com isso. Cheguei em casa e logo fui direto para cama,estava muito cansada depois de um dia como esse.
No outro dia…
Minha mãe me acordou cedo para que eu ajudasse ela nas tarefas domésticas. Então lá fui eu estender as roupas enquanto estava pensando comigo mesma sobre o que fazer para que Luís continuasse acreditando naquela falsa identidade. Mas quando estava estendendo o último lençol, senti como se alguém estivesse me observando e num piscar de olhos, o vento levantou o lençol e pude ver! Tinha alguém me observando! Era um intruso. Ele estava na minha frente, vestia roupas pretas com capuz e máscara, e com um pé apoiado no muro. Mas assim que me viu, correu e pulou a mureta do meu quintal em direção à rua. Não pensei duas vezes, comecei a correr para pegar aquele intruso, também pulei a mureta e corri atrás dele pela rua, mas antes que pudesse chegar até ele, Cynthia aparece no meio do caminho e quase tropeço pelo impacto entre nós duas.
— Muito bem, ao invés de estar pagando o que deve, tá parecendo uma sirigaita correndo atrás de homem! — Cynthia lança um olhar fugaz pra mim.
— Não é isso! — Falo me controlando pra não fazer besteira.
— Sei... Me engana que eu gosto! — Cynthia cruza os braços.
— É sério! Aquele homem tava me espionando!
— Hahaha! — Ela gargalha alto. — Espionando você?! Acho mais fácil você estar espionando ele.
— Claro que não! Mas quer saber? Isso não vem ao caso agora.
— Na verdade sim, eu estou disposta a te ajudar, mas você precisa fazer algo por mim.
— Ajudar no quê? Fazer o quê por você? Eu não tenho tempo.
Ela revira os olhos.
— Eu sei onde ele está agora. Mas você precisa fazer algo por mim pra eu te contar.
— O quê você quer?
— Descubra sobre ele pra mim.
— Olha só! No final, é você que tá atrás de homem.
— Não é só isso, eu acho que eu conheço ele.
— Tudo bem, mas preciso que você faça outra coisa por mim.
— Se for sobre o aluguel...
— Por favor, me transforme em você. — Quase implorei.
— Como é?
— É uma longa história, mas eu só quero que você me ajude a ficar parecida com você, quer dizer, ter a mesma aparência.
— Então você quer ajuda pra se vestir melhor?
— Sim.
— Oh Darling! Esse na verdade é um favor que você faz pra mim.
— Então você vai me ajudar?
— Claro! Tudo pra fazer você escapar dessa escuridão.
No mesmo instante, Cynthia pega no meu braço e me leva até a casa dela. Chegando lá, o espaço era enorme, tanto que dava duas vezes minha casa e do lado de dentro tinha muitas antiguidades. Ela me levou até o seu quarto no andar de cima e me sentou na cadeira da penteadeira. Eu estava totalmente atordoada com aquilo tudo. Ela começou a fazer meus cabelos, aplicou alguns hidratantes capilares e percebi que isso ressaltou meus cachos, que ficaram moldados e brilhosos. Assim também foi com meu rosto. Ela tirou meus óculos e pôs uma lente clara e demorei um pouco pra me acostumar. Aplicou uma máscara facial e a minha pele ficou igual a de um bebê. Fez minhas sobrancelhas e aplicou uma maquiagem suave em meu rosto. Depois, me levou para uma loja de roupas e me pediu pra provar vários estilos diferentes. Após eu ir e voltar do provador umas 10 vezes, ela finalmente balançou a cabeça positivamente ao me ver vestida em um vestido preto preenchido com rendinhas até o joelho que contornava todo meu corpo, revelando curvas e levantando meus seios.
Joanna (Depois da transformação):
— Agora sim você está pronta! — Cynthia aplaude enquanto me vê perto do provador.
— Te agradeço muito por isso.
— Não me agradeça ainda, lembra que você me deve algo?
— Sim, eu me lembro. Vou te apresentar ao homem misterioso. Mas por quê você mesmo não vai se encontrar com ele?
— Porque se ele for quem eu tô pensando que seja, não vai querer me encontrar.
— Entendi. — Eu me aproximo do espelho, e noto que aquele vestido ainda não estava bom, já que ele estava me sufocando. — Mas não sei quanto a esse vestido… Ele ficou um pouco apertado em mim. — Falo ainda olhando pro meu reflexo.
— Isso tem solução!
— Qual?
— Vem comigo! — Ela pega nossas coisas, paga pelo vestido e saímos imediatamente da loja.
Cynthia me puxa pelo braço, e partimos no carro dela até um espaço enorme que parecia de ginástica. Assim que ela estaciona bem na frente do local, não pus os pés pra fora do automóvel, e Cynthia se incomoda.
— Vem, você não vai sair? — Ela indaga começando a abrir a porta do carro.
— Que lugar é esse? — Pergunto ainda confusa. — Me segurava no cinto de segurança igual uma criança.
— Tente adivinhar! — Ela enlarguece o sorriso.
— Isso é uma academia?! — Falo já mostrando os dentes de tanta irritação.
— Sim, agora vamos sair pra te matricular.
— Não, eu não vou!
— Por acaso você tem alguma doença?
— Não, por quê?
— Por nada, agora levanta daí!
— Tá, tá bom, você venceu!
Desço do carro ainda irritada, mas seguindo Cynthia. Porém ao chegar na recepção não havia nenhum funcionário sequer e quando eu já ia saindo Cynthia acena pra alguém. Um homem moreno, alto e tonificado nos atende e não sei se ele percebeu mas fiquei boquiaberta com tamanha beleza.
Henrique:
— Olá Henrique, essa aqui será sua nova cliente. — Cynthia diz olhando pro homem e depois aponta pra mim.
— Espero que possamos nos dar bem… — O homem se pronuncia se aproximando de mim.
— Joanna. Meu nome. — Digo percebendo que Cynthia ainda não havia dito meu nome.
— Joanna. — Ele repete logo em seguida.
— Também espero Henrique. — Respondo, e sinto minhas maçãs do rosto enrubescerem assim que nossos olhares se encontram.
Eu fiz minha matrícula e nós saimos da academia. Assim que entramos no carro não pude conter meus sorrisos.
— Tá tão alegre assim por quê? — Cynthia pergunta enquanto começa a dirigir.
— Eu sinto que vou gostar dessa academia! — Exclamo quase pulando de alegria.
— Da academia, ou do Henrique?
— Da academia, claro!
— Acho que ele estava interessado em você.
— Claro que não!
— Claro que sim!
— Dentre todas aquelas meninas lindas da academia, por que ele iria se interessar logo por mim?
— Você ainda não se olhou no espelho? Você tá mais gata até que eu se duvidar!
— Hahaha. Você me mata de rir Cynthia. — Gargalho alto. — Mas obrigada pela motivação.
— Qual é teu problema Joanna? Será que só você não enxerga o tanto que você mudou e tá gata?
— Não sei Cynthia. Mas de qualquer modo, agradeço por tudo o que fez pra mim.
Ela revirou os olhos.
Depois de alguns instantes ela me deixou na porta da minha casa e nos despedimos.
— Tchau, até mais Cynthia! — Digo saindo do carro.
— Não esquece do favor que você me deve.
— Claro, o homem misterioso. E por falar nisso, onde ele tá?
— Ele voltou pra sua casa.
— O quê?
— Argh! Você vai encontrar ele. — Ela murmura.
— Que seja! Não entendi nada, mas tudo bem. Tchau! — Ela dá partida no carro e vai embora.
Eu entro em casa e assim que piso os pés na sala me deparo com minha mãe e um homem sentados no sofá conversando. Eles tomavam chá e reparo que o homem era o mesmo de antes. Era igual ao homem que me espionava. Ele estava usando o mesmo capuz e tinha abaixado a cabeça para beber o líquido da xícara. Parecia que ele estava bem confortável ali. Não posso acreditar nisso! Fui em direção a ele e indaguei furiosa:
— Quem é você?! O que você tá fazendo aqui?! — Meu estômago se revira quando ele levanta a cabeça e eu pude ver um rosto conhecido. Era Luís.
— Que modos são esses, Joanna? — Minha mãe me repreende. — Desculpa pela minha filha, ela às vezes é um pouco emotiva.
— Mamãe! — Exclamo.
— Eu entendo. — Ele fala com um sorriso no canto da boca.
— Joanna, esse é nosso novo inquilino, Luís.— Ela aponta pra ele. — E essa é minha filha Joanna. — Ela aponta pra mim. — Minha outra filha não tá aqui, então você pode ocupar o quarto dela. — Minha mãe nos apresenta finalmente pra meu desprazer.
— Muito obrigado. Amanhã eu me mudo pra cá.
— Eu é que agradeço. Além de bonito você é um amor de pessoa. — Ela se derretia pela carinha dele. Ela vai ter ataque se descobrir que ele é na verdade um lobo em pele de cordeiro. Na minha época de infância, apesar de algumas vezes eu voltar chorando da escola, ela não sabia quem me fazia aquilo. E me pedia pra ser forte. E eu era forte por ela. Aguentava tudo sem dizer nada. Na maioria das vezes eu mentia a causa dos meus "acidentes". Mas agora com aquela notícia, isso é demais! Eu fiquei pasma. Pálida. Não pode ser! Será que meu plano vai todo por água abaixo logo agora?!
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Anilda Alves da Cruz
nossa ! ele é rico bonito porque dsaiu de casa ? vamos descobrir
2024-04-14
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