O contrato foi assinado, mas Joshua Valentin nem mesmo se deu ao trabalho de olhar em meus olhos ou de ser minimamente simpático.
Tudo que ele fez foi me jogar os papéis sobre uma mesa de madeira escura e colocar ao seu lado uma caneta-tinteiro.
Joshua: leia os termos e se concordar, assine — era obvio a falta de interesse em seu rosto — não gosto de perder tempo e não negócio. Se não gostar de algum
dos termos, deixe o contrato sobre a mesa e saia da sala em silêncio. Encontraremos outra babá.
Meu orgulho – aquele que adquiri por tanto tempo em minha antiga vida –, me fez querer jogar aquele contrato na cara do homem de 1,94 cm e mandá-lo a merda; mas essa agora era uma das minhas realidades: não havia um orgulho a ser ferido e nem um nome a ser respeitado.
Odiava a forma como Joshua lidava com os outros – mais que qualquer outra coisa –, mas não podia julgá-lo quando sabia que havia muitos empresários e bilionários que faziam coisas bem piores – inclusive meu querido pai.
Niel: Não se preocupe, senhor. Estou disposta a aceitar quaisquer que sejam os termos.
Ele bufou como se já esperasse uma resposta do gênero.
Nenhuma outra palavra foi dita, nem mesmo um movimento a mais foi feito. Li cada cláusula do contrato de trabalho, todas as exigências e no fim, as achei razoáveis.
Joshua queria que alguém fosse totalmente responsável por Nix. Cuidasse para que não se aproximasse de pessoas de índole ruim, quase como se desejasse proteger a criança do mundo cruel onde vivíamos – principalmente aqueles que herdavam uma grande fortuna.
Ele desejava alguém que pensasse em Nix como sua maior prioridade e para aceitar o emprego, deveria deixar para trás compromissos que não envolvessem trocar fraldas e fazer o pequeno herdeiro se sentir bem e feliz. Ele estava pagando para que alguém vivesse e criasse seu filho – já que parecia se achar incapaz para o papel.
Bom, não podia julgá-lo quanto a isso, concordava sobre sua incapacidade.
No fim, com a ajuda de Alfred consegui buscar minhas coisas na casa de Clara e as levei para a mansão. Não havia tanto para levar e pude ver o julgamento nos olhos de Alfred – quase conseguia ler sua mente e o ouvir dizendo “ela pretende voltar? Essa criança não vai durar uma semana”.
‥‥‥‥‥‥‥
Como se era esperado, a rotina de Nix consistia em algo perto do comum para uma criança de 1 ano.
10:00 – Acordar e tomar o banho que deve ser preparado 10 minutos antes de despertá-lo.
10:30 – Café da manhã
No intervalo entre o café e o almoço, ele deveria ser estimulado a brincar com tintas ou blocos com letras e números para auto desenvolvimento. (Às terças possuía aulas de natação na piscina).
12:30 – Almoço
13:00 as 14:00 – Tempo de tela.
14:30 – Leite
16:30 a 17:00 – Lanche
Entre as 17:00 e as 18:00 ele deveria realizar um passeio no jardim para ter contato com as plantas e ar fresco.
19:30 – Janta
21:30 – Banho
22:00 – Leite e Dormir
Sentei-me ao lado do berço e o vi dormindo calmamente enquanto as empregadas que cuidavam do pequeno preparavam seu último banho.
Empregada: amanhã estará sozinha.
Sorri.
Niel: sim, amanhã seremos apenas Nix e eu.
Empregada: bom, na verdade... — ela sorriu — será a senhorita, o pequeno Nix e o senhor Valentin.
Uni as sobrancelhas sem entender.
Empregada: amanhã é sábado, senhorita. Aos sábados o senhor Valentin saí com o pequeno para passear e passa o dia com ele. Ele diz que é importante passar tempo com o filho e não renuncia a ficar todos os sábados com ele.
Eu deveria estar contente pela criança, eu sei, mas ao saber que teria que passar meu primeiro dia ao lado de Joshua me senti miserável.
Niel: entendo... não haviam me informado sobre isso — falei forçando meu melhor sorriso.
Empregada: bom, acho que no fim faz parte. Devem ter se esquecido de falar algo que é considerado como comum.
Comum.
De início, pensei que Nix era como eu. Uma pobre criança jogada a própria sorte em um mundo cruel que o veria apenas como um herdeiro ou um nome que nem mesmo o representava; mas talvez eu estivesse errada.
Não me recordo de sábados ao lado do meu pai, não me recordo de momentos onde ele tenha se importado de sermos próximos.
A primeira vez que o vi, eu estava me formando no ensino fundamental e tudo que ele fez, foi me olhar da cabeça aos pés e virar-se para ir embora.
Talvez... aquilo fosse realmente comum.
Niel: então... o pai do senhor Valentin também era assim com o filho?
A empregada riu enquanto checava a temperatura da água antes de ir em direção ao berço.
Empregada: bom, acho que ele deve ter sido para o segundo filho, mas não com o senhor Joshua. Eles nunca tiveram uma boa relação, ao menos foi o que ouvi dos empregados mais antigos.
Assenti.
Empregada: porque não tenta acordá-lo? — Ela me pegou de surpresa e com suas palavras, olhei para Nix ainda adormecido.
Niel: claro...
Coloquei-me de pé e ao lado do berço deixei que uma das mãos pousasse sobre a barriguinha da criança.
Niel: Nix... é hora do seu banho.
Nix: humm...
Sorri o vendo abrir os olhos de forma sonolenta. Esse era o segundo dia com a criança e ainda me encantava o quão esperto ele era para um bebê. Seus olhinhos brilhavam enquanto ele olhava para coisas que lhe eram interessantes e quando me dei conta, seus dedos apertavam minha mão.
Nix: bano...
Sorri acariciando seu rostinho.
Niel: sim, está na hora do banho.
Eu me recordava do meu tempo ajudando no orfanato e me recordava de como era importante dar uma rotina a um bebê e ensiná-lo que existe dia e noite, que existe um momento para cada coisa, mas ainda assim era difícil manter as crianças em uma rotina -, mas Nix... ele parecia entender perfeitamente o momento de cada coisa em seu dia.
Como um verdadeiro menino crescido, ele se apoiou em mim e ficou de pé em seu berço e com cuidado eu o ajudei a tirar suas roupas para o banho. A empregada que assistia sorriu ao ver como lidava bem com o pequeno e foi prontamente pegar a toalha e todos os produtos que usaríamos no banho de Nix.
Nix: patin...
Niel: estão na banheira — falei segurando o riso enquanto o erguia em meus braços e o levava até a banheira que já estava pronta e com a água aquecida.
Ele sorriu com aquele rostinho redondo e uma boca com uma incrível e fofa falta de dentes.
Aquele sorriso por algum motivo me pareceu precioso.
Talvez eu estivesse me tornando afetiva demais, talvez... eu estivesse me agarrando aquela criança pequena e fofa como me agarraria a qualquer chance de apagar o meu passado, mas ali, enquanto ele sorria e brincava com os patinhos flutuantes na banheira e eu lava seus cabelos, não me importava mais se havia sido uma Rossian, se havia sido usada, traída ou quebrada.
Isso tudo estava no passado.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Andressa Silva
😌😌😌😌😌
2024-08-31
0
Rita De Cassia Rodrigues Dos Santos Pires
quanto mistério
2024-07-08
1
Luiza Lora
tô gostando 😊
2024-03-15
0