Capítulo • 4 •

Eram 6 da manhã quando despertei. A mansão era silenciosa – mais do que eu esperava ou me recordava da minha casa jamais ter sido.

Era como morar em meio ao nada.

Ainda de pijama, sai pelos corredores do terceiro andar e caminhei até a varanda; ampla, calma. O ar gélido da manhã Batia em meu rosto com uma delicadeza que me fez me sentir viva outra vez.

Eu poderia me acostumar com isso, com essa leveza e calmaria.

Joshua: não conseguiu dormir?

Em um sobre salto me virei em direção a voz e vi Joshua ali, parado com um roupão aberto deixando a mostra suas tatuagens que subiam pelo peito e pescoço. O cabelo bagunçado deixava claro que ou ele havia acabado de acordar, ou havia acabado de deixar alguém largado em sua cama.

Provavelmente a segunda opção.

Niel: na verdade... dormi muito bem — Menti. Eu não me lembrava o que era dormir bem desde os 6 anos.

Ele bufou.

Joshua: e que tipo de ser vivo se acorda as 6 da manhã por livre e espontânea vontade?

Niel: o tipo que gosta de ver o sol nascer.

Joshua: me parece um tipo esquisito.

Niel: normalidade é super estimada.

Ao me ouvir, jurei ver algo que pareceu um sorriso se formar no rosto de Joshua, mas não passou disso. Um breve momento e logo a sua postura egocêntrica estava de volta.

Joshua: melhor voltar a dormir, terá um dia cheio com Nix.

Niel: já dormi o suficiente, senhor. Não precisa se preocupar com o meu trabalho ou minha disposição.

Ele ergueu uma sobrancelha como se nunca houvesse sido contrariado.

Joshua: que seja então, mas se acabar caindo pelos cantos, mando demiti-la por falta de capacidades.

Engoli a vontade de manda-lo a merda e forcei um sorriso de compreensão enquanto mentalmente pensava – e deve ser por isso que sua esposa (ou quem quer que tivesse sido a mãe de Nix) o abandonou.

.............

Horas se passaram e Nix estava pronto, vestido com um conjuntinho cinza e azul (escolhido por ele) que parecia ressaltar a cor de seus olhos. Era a criança mais adorável que eu já havia visto.

Nix: papa...

Niel: sim, você vai tomar café com seu papai hoje.

Nix: papa, cominda.

Niel: você gosta de tomar café com seu pai?

Ele sorriu com a boquinha sem dentes enquanto assentia. Suspirei me dando por vencida e o pegando em meus braços no lugar de usar o maldito carrinho e o elevador que ficava ao fim do corredor.

Niel: então vamos... seu papai chato deve estar te esperando lá embaixo.

Nix: papa tato.

Engasguei com a risada enquanto o ouvia e rapidamente me corrigi.

Niel: não querido, você não pode falar isso.

Nix: papa tato.

Niel: bom... não está errado.

E o que ele poderia fazer contra mim? Me demitir? Sempre podia falar que Nix estava falando papai pato.

Desci com a criança sorridente em meus braços e caminhei até a sala de jantar. O café estava posto e uma cadeirinha para bebê estava ali, bem ao lado da cadeira onde Joshua estava sentado.

Ele sorriu ao ver a criança, um sorriso que pensei que aquele homem era incapaz de dar.

Joshua: bom dia, Nix. Sentiu falta do papai? — Perguntou se levantando e tomando Nix dos meus braços — eu sei que te disse que comeríamos juntos mais vezes..., mas anda complicado, papai anda ocupado.

Ele beijou o topo da cabeça do pequeno e sorriu quando Nix colocou uma das mãos no rosto dele.

Nix: papa tato.

Joshua ergueu uma sobrancelha.

Joshua: você me chamou de chato?

COMO DIABOS VOCÊ ENTENDEU ISSO? – Era o que eu queria perguntar.

Nix: papa tato, Nil dixe... encontá... papa tato.

Traidor. Sim, no fim Nix era um homem e parecia ser um traidor desde criança.

Joshua: ah... então a babá acha o papai chato? — Pude ver a satisfação no rosto dele — você também acha o papai chato? Mas o papai sentiu tanto a sua falta...

Nix: fata...

As mãozinhas gordinhas apertaram o rosto de Joshua e a cabeça pendeu em seu ombro.

O moreno sorriu como um pai coruja e abraçou o pequeno.

Joshua: que bom, filho. É bom saber que sentiu minha falta... — um beijinho foi posto no topo da cabeça do pequeno e o moreno logo o colocou na cadeirinha — mas agora vamos comer, temos um dia muito divertido.

Seu olhar então voltou-se para mim.

Joshua: sente-se, Nil.

Mordi o lábio para conter o xingamento e sorri sem mostrar os dentes.

Niel: obrigada, senhor Valentin.

Durante todo o café, ele me alfinetou e durante todo o café sorriu e brincou com Nix como se fosse o pai do ano. Limpando sua boca quando se sujava, ajudando a cortar as frutas em seu prato, entregando o suco sempre que Nix o pedia e pegando tudo que o pequeno derrubava

de novo e de novo.

Nix ria como se aquele fosse seu momento favorito do dia e Joshua beijava seus dedinhos gordos sempre que o

pequeno estendia as mãos para cima.

Naquele momento me vi questionando sobre o quanto Joshua parecia amar seu filho e sobre o quanto não devia ter amado sua antiga esposa.

Talvez ela houvesse sido assassinada por seu envolvimento com a máfia. Talvez... morta no parto – como em livros de romance de época –, ou quem sabe ela o traiu e fugiu com algum mafioso ainda mais perigoso que ele.

No fim, não importava o que houvesse acontecido com ela, aparentemente não mudava o quanto o senhor Valentin amava o pequeno de cabelos negros.

Nix era seu sol, sua noite estrelada e o centro do seu universo; era algo que se podia ver em seus olhos, algo palpável. Algo que desejei ter por tanto tempo, tanto que sem notar, lágrimas desceram por minhas bochechas enquanto olhava para os dois. Foi um choro silencioso,

despercebido. Uma dor que nem me recordava de estar ali, ao menos não até ver os olhos arregalados de Joshua me fitando.

Joshua: o que aconteceu?

Sorri rapidamente limpando as lágrimas.

Niel: nada, acho que um cisco.

Joshua: acha que sou burro? Um cisco em ambos os olhos?

Niel: você não quer que eu responda a essa pergunta, senhor.

Ele bufou.

Joshua: francamente, mulher...

Niel: não foi nada, apenas deixei meu óculos lá em cima e a sala é muito clara — menti — se não reparou em meu

histórico médico... eu tenho sensibilidade a luz.

Ele suspirou se dando por vencido.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***