Matheus é partideiro um ótimo partideiro junto aos seus quatro colegas eles formam o Bate Coração. Tocam todo o tipo de samba nós partidos que são convidados em salvador, as festas são longas e as vezes ele faz várias de vez, então vive cansado e eu tento ajudar com algumas coisas básicas, ainda não fui em uma festa que ele estivesse tocando porque meus pais não deixam.
Depois de um tempo namorando o Matheus meus pais não ligaram mais para minhas saídas e posso ficar mais tempo fora.
Subi as escadas para o segundo andar que era só de Matheus, a parte de cima era de telha de eternit e fazia muito calor por conta disso, Matheus ficou lá embaixo ouvindo a mãe falar sobre a primeira viagem para a ilha que iria levar a sobrinha Talita uma adolescente que tinha sido apadrinhada após a morte do pai e não tinha muito apoio para fazer esse tipo de passeio já que a mãe dela não quis cuidar e deixou ela a sozinha apenas com os cuidados dos vizinhos da família. Dona Rosa convidou a mim e o Matheus que se eu pudesse seria ótimo.
Dona Rosa minha sogrinha, muito forte criou 3 filhos sozinha e se formou em enfermagem aos 45 anos tenho ela como exemplo, imaginando como é difícil. Tenho orgulho dela.
Fiquei sozinha lá encima com o teste na mão e um copo de água na outra, encarando o meu divisor de águas, talvez ele aceitasse o nosso fruto de amor.
Eu estava mais do que pronta para fazer o teste de gravidez, entro no banheiro que é pequeno, mas aconchegante e faço tudo o que fala na caixinha, nunca fiquei tão preocupada e animada, se estivesse grávida, mesmo que jovem daria todo o amor do mundo ao meu bebê que, e já imaginava o barrigão, a casa e a família linda que nasceria junto com meu bebê.
Escuto os passos de Matheus chegado até o banheiro de supetão. Tenho certeza que ele sabe o motivo da minha quietude.
Dava para ver o ódio em seus olhos, mas não conseguia entender o razão afinal de contas nós fizemos esse bebê juntos.
- e aí, deu negativo?
- pode olhar aqui. – digo estendendo a mão e mostrando o nosso divisor de águas olhando em seus olhos.
- você tá brincando né? Vou na farmácia trazer outro teste para você fazer esse aí tá errado. – diz se afastando notando que eu precisava de um abraço.
- sai, não pega em mim agora não.
- Matheus, esse filho é nosso. – tento me aproximar novamente sem esperar que a resposta seria um murro na minha cara.
- ...
Matheus saiu como foguete, passando pela mãe que estava no andar de baixo já almoçando.
– filho, o que aconteceu lá encima? Cadê Emília?
- Pergunta minha a sogra com ar preocupado.
Matheus Nem respondeu nem nada, só seguiu seu percurso.
Ainda jogada no chão sem reação começo a sentir o peso de tudo o que está acontecendo na minha vida, o machucado em meu rosto latejava e nem força para levantar eu tinha.
Sentei no chão aguardando as coisas se encaixarem em minha cabeça.
- menina, vem comer. Sai desse calor dai de cima.
Escuto dona Rosa me chamar no andar de baixo e agradeço a Deus por ela não ter insistido.
Minutos depois.
– desculpa amor, eu fiquei nervoso... Acho que o teste tá errado, faz esse aqui que é diferente e deve ser melhor pra saber. – diz Matheus
Eu não tenho coragem de olhar para a cara dele, me levanto desta mesma forma observando o embrulho em sua mão.
Este teste era mais arrojado com jeito de caro. Entro no banheiro pronta para fazer o segundo teste que apontou o mesmo resultado, tudo o que quero é deitar novamente na cama.
Saiu do banheiro entregando o resultado em suas mãos.
Matheus deu uma olhada no teste sentou na cama desolado.
– você pode voltar pra casa de sua mãe? Preciso pensar um pouco. – diz com um jeito cabisbaixo.
Confesso que fiquei surpresa com o que ele disse, porém acho melhor ir mesmo.
Tava muito calor nesse dia e a ardência em meu rosto era insistente.
O ônibus que eu devia pegar só passaria as 19hr e ainda era 17h queria pegar o ônibus que iria direto para o meu bairro, mas não tinha como pois iria demorar umas 2hrs. decidi então fazer baldeação.
Quase 40 minutos de pé olhando o horizonte sob o sol escaldante, não importa qual o tamanho de sua roupa o mesmo calor é para todos.
Parecia que todo mundo dentro aquele ônibus sabia meu segredo pois a maioria principalmente mulheres já senhoras me observam com cara de dó.
Não tinha lugar para se sentar então permaneci em pé e isso não me incomodava eu apenas estava presa em meus pensamentos.
Faltavam uns 5 pontos para o lugar em que eu iria descer.
Escuto gritos vindos do fundo do ônibus eu estava na parte da frente lotada em pé e com calor.
- Assalto motorista, não para não! Arrasta aí esse ônibus. – falou alto ao lado da cobradora.
Nesta época a gente ainda entrava por trás no ônibus e saia pela frente, devo confessar que assim eu me sentia mais segura.
- passa tudo aí bando de Fela – grita um dos 3 rapazes que faziam parte da trupe.
Meu coração acelera, minhas mãos ficam trêmulas e sinto o ar falhar.
Nunca tinha passado por este tipo de situação, não sei nem como agir e pior ainda tudo o que tenho de valor é o vale transporte.
– é um assalto, passa tudo bando de fela. – repetiu um deles.
Algumas pessoas que estavam dormindo começaram a despertar e fingir dormir novamente.
- aí motorista não para, arrasta esse carro se não quiser morrer hoje. – continuavam cheios de exigências.
- o vagabunda. Na tá ouvindo não ???
Os três eram altos e apenas um estava armado os outros dois apenas facas porém grandes.
Sinto minhas minha pernas falharem um pouco, talvez pela fome ou quem sabe pelo medo...
Apenas deixei a escuridão que vinha em minha vista me abraçar, ainda sinto o impacto das minhas costas contra o chão empoeirado do ônibus e minha cabeça batendo contra o mesmo.
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Atualizado até capítulo 81
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