Guardando em uma "caixinha"

Fabio olhou mais uma vez para o bilhete que sua melhor amiga e amor de sua vida havia deixado. Com o celular em sua outra mão aberto em suas conversas, ele pensava se mandava mensagem para Martha. Depois do que seu pai disse, o garoto não discutiu, apenas subiu para seu quarto cheio de raiva por ver sua vida sendo controlada pelo pai que não o deixava ser livre para escolher o que queria ser. Ele soltou o ar pesadamente sentindo sua garganta amargar e uma imensa vontade de chorar, da qual o menino segurava o choro e se negava a desabar. Estava prestes a digitar uma mensagem quando a porta de seu quarto fora aberta. Era Laís. Encostou no batente da porta e encarou o filho desapontado. Os olhos dela estavam inchados, mesmo debaixo da maquiagem era perceptível que também estava magoada com as atitudes do patriarca da família. Fabio dobrou o papel com o recado de Martha e bloqueou a tela de seu celular, inclinando a cabeça e olhando para a mãe.

— Você está bem?

Ele desviou os olhos e reprimiu os lábios, evitando uma resposta. Era o suficiente para a mãe que o conhecia muito bem e quase poderia sentir o coração do filho apertado e aflito. Entrou completamente no quarto, fechando a porta e caminhou até sua cama, se sentando ao seu lado. Ela era uma mulher linda e jovial, mais parecia a irmã do próprio filho, que sua mãe. O garoto em silêncio apenas fez o que sempre fazia em situações como essa, jogou o corpo para o lado e deitou a cabeça no colo dela, fechando os olhos.

— Será que meu pai nunca vai deixar de ser assim?

— Querido, seu pai foi criado em uma família muito rígida, desculpe por ele ser assim, mas ele te ama.

— Vai me dizer que essa e a forma dele de querer o meu melhor?— Bufou.— Esqueça, essa desculpa já é bem velha e eu já sou bem grandinho.

— Não fale assim!— Advertiu.— É verdade, sabia? É a maneira dele de querer o seu bem.— Ela acariciava os cabelos do filho.— Seu pai não teve muitas escolhas na vida, foi criado com seu avô que morreu quando você era bem pequeno. Seu avô era muito mais rígido que Roger e também não foi escolha dele se tornar um advogado. Na verdade, o sonho de seu avô era um dia ver o filho ser um juiz, mas Roger bateu o pé contra o pai.

Fabio levantou o corpo, voltando a ficar sentado e encarou a mãe, que carregava um olhar triste.

— Mas justamente por ter sido tratado assim, ele deveria ser diferente comigo.

— Nem todos pensam como você, meu filho. Tem pessoas que carregam o trauma de infância e o descarrega no próximo. Seu pai melhorou muito, quando me casei com ele era muito pior, mas estou tentando trabalhar ainda mais nele, fazer Roger ser mais amoroso.

— Você tem um coração bom, mãe. Mas entenda, quando alguém nasce assim, ou se deixa ser com o tempo, será sempre.

Ela sorriu, passando a mão no rosto de seu filho. Não era bem assim que Laís pensava, no entanto, seu filho nunca entenderia a lógica de seus pensamentos, por isso a mulher deixou que o assunto fosse encerrado com seu silêncio. O assunto que viera tratar era outro, ela queria muito entender o motivo de Martha passar rapidamente por ela logo pela manhã, com uma expressão muito envergonhada, como se tivesse escondendo algo.

— Querido, aconteceu algo entre você e Martha?

O garoto sentiu seu coração falhar uma batida com o susto, então sua mãe havia descoberto o que aconteceu em seu quarto? Será que ela sabia que Martha não dormiu no quarto de hóspedes aquela noite? Que eles dormiram juntos e tiveram uma noite maravilhosa aos olhos do garoto? Suspirou, encarando a mãe. Fabio engoliu seco antes de responder.

— N-não, mãe... Por que?

— Por que hoje pela manhã vi Martha saindo daqui rapidamente, ela parecia estar envergonhada ou... estressada, não sei explicar. Achei vocês tivessem brigado.

— Oh, não.

Era um alívio para ele saber que não havia descoberto nada. Laís era uma mãe compreensiva, mas caso algo assim acontecesse em sua casa e ela soubesse, com certeza iria contar ao seu marido e ele tomaria suas rígidas atitudes.

— Então vocês estão bem?

— Estamos bem, eu acho.— Desviou o olhar.— Não houve briga, então se Martha estiver irritada não é comigo.

— Sim... Talvez os pais dela ligaram logo cedo para aborrecer a coitada. Eles são tão maus com ela, as vezes acho que a vida não foi justa com ela. Uma pessoa boa como a Martha não deveria ter pais tão... horríveis.

— Pois é... Mãe, se não se importa, eu gostaria de ficar sozinho.

Ela encarou o filho pela última vez, era hora de seu menino ficar sozinho. Os tempos não eram mais como quando ele era criança e desejava sua companhia a todos momentos. Fabio agora era um homem em desenvolvimento e precisava de seu tempo sozinho,Laís entendia isso, mas sentia saudades dos longos dias que eles passavam juntos, brincando, cozinhando ou fazendo algo para se divertir e passar as horas até que Roger chegasse do trabalho. Eram bons tempos que nunca mais voltariam. A mulher se levantou passando as mãos em suas roupas para que se alinhassem ao seu corpo. Manteve seu grande sorriso estampado, exalando alegria,era sempre assim.

— Claro, filho.— Deu-lhe um beijo na testa e seguiu até a do quarto.— Estarei em meu quarto, caso precise de mim, ok?

— Obrigado, mãe.

Laís saiu do quarto, deixando o garoto sozinho, que voltou a pegar o bilhete e encarar o que estava escrito. Pegou seu celular. Queria ligar para ela, ter certeza se era mesmo o que queria,esquecer tudo o que aconteceu, fingir nunca tiveram nada e aos poucos sua amizade ir desgastando até que se tornassem dois estranhos, mas com lembranças. Discou o número, mas ninguém atendeu. Tentou por mais algumas vezes até finalmente desistir. Suspirou, decidindo guardar em uma "caixinha"no fundo de seu coração, os sentimentos pela melhor amiga. Talvez fosse mesmo melhor que Fabio esquecesse o que sentia por Martha, não lutar mais por seu amor e aceitar seu futuro por longos anos na faculdade, cursando o que seu pai tanto quer, longe de tudo e todos que conheceu até o momento. Fabio decidiu não lutar mais contra tudo e todos, ele aceitaria seu destino, se mudando para outro país, cursando advocacia e esquecendo completamente seu amor por Martha.

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Comments

Imaculada Abreu

Imaculada Abreu

Os dois vão sofrer muito

2024-02-27

2

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