Querida Sandra

Eric Moore

Whitewood

15 de novembro de 2000

Sandra era uma mulher incrível. A mulher por quem sempre meu coração fez questão de bater mais forte.

1999 havia sido um ano incrível. Ano em que seus olhos cor de esmeralda, cruzaram com a escuridão dos meus. Ano em que seus carnudos lábios, tocaram os meus com desejo e amor. Ano em que sua pele cor de ébano, chocou-se contra meu corpo caucasiano. Ano em que todos nos olhavam com desdém e curiosidade, onde todos achavam que tinham o direito de julgar o nosso amor por conta de um detalhe tão simples, como nossa raça.

Sandra Taylor Moore, filha de um dos executivos mais bem sucedidos do mundo, a princesinha do papai e da mamãe que nunca precisou economizar para comprar nada, que nunca entrou em um dilema interno de "devo comprar os livros da faculdade ou, pagar o aluguel atrasado?".

A mulher que, apesar de ter tido o mundo aos seus pés, era diferente de todas as outras que já tinha conhecido e que, não tinham metade do rei na barriga que você tinha. Eu era apenas um homem comum, que morava em um bairro tomado pela criminalidade, onde as drogas e armas mandavam, onde gangues matavam e morriam por quererem sempre mais e mais poder. Filho de uma mãe solteira que trabalhava de domingo a domingo como doméstica, e de um pai que teve a vida roubada por uma escolha errada, a escolha de entrar no mundo

sombrio da criminalidade. Apesar de ver armas e confronto quase que rotineiramente, isso nunca me induziu a seguir os passos dos que andavam para cima e para baixo como donos do mundo por apenas, usarem cordões de ouro e portar pistolas em suas cinturas. Eu não queria morrer estripado, como um porco, não queria morrer como meu pai morreu.

Apesar de muitas vezes ter ficado sem comer para pagar a mensalidade da faculdade, trabalhado em tantas horas extras que quase não tinha forças de assistir as aulas, foi você que eles resolveram atacar, foi você que eles chamaram de interesseira. Logo você Sandra, que sempre teve tudo, inclusive um coração bondoso e caridoso, logo você, estava sendo tratada como uma mulher qualquer.

1999 também havia sido um ano difícil. Um ano em que te vi chorar quase que diariamente de desespero, por novamente, seu nome ter sido manchete no jornal, por novamente, estarem te chamando de aproveitadora e oportunista. Eu poderia ter te defendido, poderia ter escrito uma carta aberta contando toda nossa história, de como nos conhecemos, de como nos apaixonamos, de como você me ajudou a chegar onde atualmente estou, onde você e sua família, que foram tão queridos comigo, me fizeram tirar minha velha mãe daquele lugar nebuloso e, daquele trabalho que lhe causaram tantos problemas de saúde.

Mas não. Apenas resolvi me calar, me contentar que um dia eles iriam parar e tudo ficaria como antes, que como por milagre, eles passariam apenas a olhar para suas doações aos orfanatos locais, mas nada mudou, e sinto muito por isso.

1999 foi capaz de nos dar um grande e abençoado presente, nossa preciosa filha, Ester. Que preencheu o vazio que restava em nossa casa e, em nossos corações. Nosso tesouro.

Ester tinha herdado sua linda cor de ébano e meus grandes olhos escuros, era tão linda, que logo não ganhou apenas os nossos corações como também, os de seus pais. Nunca havia visto Francis chorar como no dia em que segurou Ester pela primeira vez em seus braços, os olhos dele brilharam num misto de amor e felicidade. Mas então tudo acabou. Nosso tesouro morreu após o seu carro ser perseguido por jornalistas.

Eles juravam que Ester não era minha filha e que você tinha um amante, um verdadeiro absurdo, uma perseguição desumana, que tirou a vida da nossa filha.

Você ficou fisicamente machucada, mas, mentalmente você estava quase morrendo. Nosso lar ficou sem vida. E foi então que 1999 acabou. Dando início ao ano 2000.

Um ano em que tudo parecia estar entrando nos trilhos novamente. Aparentemente todos haviam te deixado em paz, e então, a felicidade aos poucos foi entrando em nosso lar novamente.

Na metade do ano 2000, nosso segundo tesouro veio ao mundo, Helena. Diferente de Ester, Helena tinha o tom de pele igual ao meu e os seus olhos Sandra.

Poderia dizer que tudo acabou bem, que tivemos nosso "felizes para sempre", mas, seria uma grande mentira. Porque logo voltaram a difamar tua imagem, alegavam para quem quisesse ler que você teve um caso com meu irmão mais novo, Antônio, que na época tinha apenas 14 anos.

Foi então que você tomou uma decisão. E desde o ano 2000, restou apenas eu para criar a pequena Helena.

Sandra, perdoe-me por não ter te protegido quando tive a oportunidade, perdoe-me por não ter evitado a morte da pequena Ester e a sua, meu amor. Confesso que era um fraco, temeroso em perder tudo que estava começando a conquistar, tratando tudo com neutralidade para ganhar a simpatia das pessoas que tanto te fizeram sofrer, apenas para não perder a mordomia que tinha e, para não voltar para o buraco de que saí.

Seu amor sempre será insubstituível. Sinto muito a sua falta e, a pequena Helena também.

Whitewood

10 de abril de 2014

Eric guardou seu diário com capa de couro preto em uma gaveta com tranca e, se levantou de sua cadeira de couro, indo em direção ao quarto de Helena, que dormia docemente. O quarto de Helena estava sendo iluminado por um pequeno abajur rosa que ficava em seu criado mudo. Helena sempre teve um jeito durão, marrenta como a mãe, sempre dizendo que não tinha medo de nada. Mas, ela morria de medo do escuro, achando que um monstro sairia de seu guarda-roupa para atacá-la. Morria de medo de dormir com seus pés descobertos, porque achava que alguma força sobrenatural iria puxá-los.

Eric sorriu ao lembrar-se de como Helena parecia com Sandra. Então ele se aproximou e lhe deu um beijo na testa.

- Bons sonhos minha princesa! – sussurrou Eric antes de se afastar e sair do quarto. Eric estava sem sono aquela noite\, nem o trabalho foi capaz de cansá-lo. Então ele resolveu caminhar em direção a seu grande e confortável escritório. Encarou a última prateleira de sua estante de livros e\, subindo numa escada\, pegou o que aparentemente era um livro com capa de couro rosa. Nesta capa de couro rosa estava escrito com letra de forma: Sandra Taylor Moore – O Verdadeiro.

Eric sorriu ao se sentar e ler um pequeno trecho da primeira página do diário de sua falecida esposa.

"Eu sei que o Eric anda me traindo. Sei que a qualquer instante ele pode me deixar, lhe dar presentes caros já não é mais útil, não é mais o suficiente. Agora é hora de lhe dar um filho, realizar o seu verdadeiro sonho [...]”.

- Sandra\, Sandra... - Eric encostou a coluna no encosto de couro marrom de sua cadeira. - Um pouco de dinheiro nunca é demais querida. – riu enquanto continuava a ler.

“Eu odeio a forma como você olha para aquela mulher vulgar e pobre, odeio a forma como você faz com que me sinta inferior a ela, eu odeio amar você, mas, é inevitável, Suzana nunca vai tirar você de mim, não se eu der a você um pequeno herdeiro, ela nunca terá o que é meu, isto eu juro por minha vida.”

- Só de pensar que algum dia falei que você era uma mulher incrível\, uma mulher extremamente caridosa\, me sinto completamente enojado. – Eric apoia sua cabeça na palma de sua mão direita. – No final\, fui eu quem conseguiu tudo que queria\, eu que fiquei com todo o seu dinheiro\, enquanto você está morta minha querida Sandra! – disse enquanto fechava o diário.

Mais populares

Comments

Letania Lopes de Moura

Letania Lopes de Moura

nossa muito bom as aparências enganam hem q loucura amei 🤣

2022-09-10

0

Vandiele Cintra

Vandiele Cintra

COMEQUIÉ??? KKK já começa assim autora, eu fui pega de surpresa, achei que Sandra era boa e o Eric bom porém escroto.

2022-07-20

1

Simplesmente Eu

Simplesmente Eu

Eu aqui com dó do viúvo🤡 #Cantinho das Críticas 🤡#

2022-05-30

3

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!