Sandra Taylor
Whitewood
05 de agosto de 2000
Já estava esgotada. Mês após mês era sempre a mesma coisa. O mesmo discurso de que as coisas poderiam ficar piores no final, de que nada era 100% garantido. Estava cansada de estar tendo sempre minhas esperanças e expectativas diminuídas com frases como: “talvez você acabe sofrendo um aborto no final da gravidez Sandra, seu corpo está muito fragilizado e talvez seu bebê não consiga sobreviver”.
E mesmo depois de tanta descrença, de tantas energias e vibrações negativas que tentaram colocar em minha mente, depois de tanto sofrer com dores terríveis que me consumiram ao longo de seu crescimento, depois dos milhares de fios capilares perdidos, choros e agonias noturnas, nós conseguimos vencer. Helena Taylor Moore de Albuquerque nasceu no dia 05 de agosto de 2000, as 16:54 PM, com 3 quilogramas e 500 gramas, 40 centímetros e uma saúde que fez com que todos ficassem perplexos, sem entender como havia sido possível. Chamaram minha pequena Helena de milagre, de guerreira.
E então, veio o drama da escolha do nome.
Minha sogra, Sônia, queria que seu nome fosse Maria Vitória, por ter encarado a morte desde o momento em que foi gerada pelo útero e corpo fraco de uma mulher mentalmente desequilibrada e, em meio à escassez e as baixas probabilidades de vida, conseguiu vir a este mundo viva, pela graça do bondoso Deus. Ela disse que este nome era o símbolo de uma mulher poderosa, vencedora, e que tinha grandes chances de ter sorte na vida, em seus planos pessoais e na carreira. Mas, seu rosto não combinava com este nome, seus olhos de cor ainda indefinida, não brilharam quando sussurrei em seu ouvido "Maria Vitória".
Eric, por outro lado, queria que você se chamasse Filomena, de primeiro momento até achei que ele estivesse ficando louco ou brincando, lembro que gargalhei com a escolha de um nome tão estranho e feio, mas então, seus olhos marejaram. Eric queria que nossa filha se sentisse amada, queria abençoa-la com um nome que lembrasse a ela todos os dias não só a sua força, muito menos o fato de que driblou a morte, mas também que se sentisse sempre amada por todos, e mesmo que toda a história fosse muito bonita, definitivamente, este não seria seu nome. Helena, minha filha tão amada, de maneira alguma gostaria que você fosse lembrada apenas como a criança que foi contra a ciência e, apesar dos pesares veio ao mundo com uma saúde de ferro, não queria você pudesse se sentir amada apenas porque seu nome diz isso. Para mim, você sempre vai ser o meu tesouro, meu talismã e minha estrela guia. Independente de qualquer coisa, sempre vou te amar incondicionalmente.
Com ou sem Maria Vitória e Filomena, você vai sempre ser uma guerreira, uma menina forte, não apenas por sua
gestação complicada, por seu parto tão trabalhoso, você ainda vai ter muitas batalhas e guerras para vencer ao longo de seu crescimento, vai ter muitos orgulhos e decepções também, em nossa vida nada é fácil, nada vem de mãos beijadas apenas porque um significado de nome, diz que sim. O sucesso vai depender da sua força de vontade, determinação e originalidade.
Quando nossos olhos se encontram, querida filha, sinto que meu coração vai aos poucos aquecendo. Sua calma enquanto dorme me dá uma sensação de paz de espirito, consigo ver nestes olhinhos (que peço tanto a Deus para serem iguais aos meus, já que você é branquinha como seu pai), que você tenha um brilho diferente dentro si, um brilho que possa te destacar no meio da multidão, brilho capaz de te tornar unicamente original, e por isto, seu nome é Helena, por causa deste brilho que com o passar dos dias vem aumentando mais e mais.
Desculpa-me se em um futuro próximo você não gostar da escolha, desculpa-me se um dia achar que fui hipócrita em usar de um argumento para não ceder aos caprichos de sua avó ou de seu pai, apenas para satisfazer os meus. Desculpa-me se ter o segundo nome igual ao da sua mamãe é brega para você. Eu também achei brega quando minha mãe me deu seu segundo nome para que eu sempre carregasse um pedaço dela comigo, sendo que não precisava, pois, eu tenho os olhos dela, assim como sinto que em breve você terá os meus.
Espero que um dia todos possam entender que não foi minha fragilidade que matou Ester, não foi minha tristeza ou vontade de ficar deitada apenas existindo que matou minha primogênita, Ester não morreu de causas naturais, muito menos foi um acidente. Ester precisou morrer, e eu sinto muito por isso.
Whitewood
08 de agosto de 2000
- Acho que isso é o suficiente. - diz Sandra analisando o que havia acabado de escrever. - Espero que ele não desconfie mais de nada, espero que um diário falso seja suficiente. – Sandra colocou seu diário falso em cima de seu criado-mudo.
Sandra deitou vagarosamente em sua cama macia depois de colocar seu plano em prática, ela realmente tinha medo de que Eric descobrisse a verdade sobre a morte de Ester, ela sabia o quão agressivo seu namorado poderia ser, sabia que com uma atitude tão deplorável quanta esta, ele iria matá-la por tal absurdo.
- Sandra? – uma mulher alta e branca feito a neve falou enquanto entrava no quarto. – Trouxe uma sopa bem gostosa para você tomar, deve estar querendo comer algo saboroso depois de ter comido aquela comida sem gosto do hospital! – ela sorriu enquanto entregava a tigela para Sandra.
- Patrícia! Você não precisa fazer isso, temos empregadas, você não precisa se dar ao trabalho! – falou pegando a tigela quente. – Onde está Helena? – completou depois de engolir a primeira colherada da sopa.
- Eu gosto de ajudar, não se preocupe, isso não me incomoda nenhum pouco. – sorriu docemente. – Isso é um diário? – perguntou chegando perto do criado-mudo.
- Onde está Helena? Quero ver minha filha! – resmungou Sandra, visivelmente incomodada.
- Ela está no berço, dormindo feito o anjinho que é. – afastou-se lentamente do criado-mudo. – Ela é uma grande dorminhoca, não acha? – riu ao lembrar da neta dormindo.
- Sou uma mãe de sorte! – riu também.
- Eric era um bebê muito agitado, chorava a noite inteira e também durante o dia, nem parece que depois de adulto seria este homem tão sério! – sorriu timidamente. – Ah, por falar nele, Eric pediu para te avisar que ele acabaria se atrasando hoje, coisas do trabalho, sabe? – sorriu sem graça.
- Tudo bem! – sorriu forçadamente. – Estou um pouco cansada, vou dormir um pouco agora. – Sandra abrindo a gaveta e propositalmente guardando seu diário falso nela.
- Claro, claro querida! Irei te deixar dormir, vou fazer um delicioso bolo de milho para vocês! – pegou a tigela ainda cheia de sopa das mãos de Sandra. – Espero te ver comendo mais, você precisa estar forte! – falou enquanto saia e fechava a porta do quarto, deixando Sandra completamente sozinha.
Naquela mesma noite, enquanto Sandra estava tomando banho, Eric, que ficou sabendo do diário de sua namorada através da velha e fofoqueira Patrícia, sua mãe, abriu silenciosamente a gaveta e leu algumas poucas linhas do que estava escrito na primeira página, antes de ser flagrado por Sandra.
Sandra Taylor
Whitewood
09 de agosto de 2000
Meu coração está um pouco mais tranquilo agora. Sei que ontem o Eric leu meu diário escondido, enquanto eu estava no banho. Ele até tentou disfarçar quando saí do banheiro e o vi com "meu diário" nas mãos. Eu vi o seu nervosismo. Eu senti o seu medo. Eu senti que, pela primeira vez desde que nos conhecemos, ele estava vulnerável e eu, estava por cima. Fingi que estava chateada por ele estar invadindo minha privacidade, por não confiar em mim. E então, ele me pediu perdão. Em uma vez a cada milhão em que Eric erra, essa foi uma das únicas vezes que ele pediu o meu perdão. Ele se ajoelhou perante mim, como um submisso e, me olhou com aquele olhar patético e chorou me pedindo perdão.
Como eu queria ter gargalhado diante aquela cena patética. Como eu queria chorar de rir. Como eu queria cuspir naquele rosto bonito e prepotente. Mas eu sabia que, se abandonasse o personagem naquele momento e
mostrasse tudo que estava guardado dentro do meu peito. Ele me empurraria contra a parede do quarto. Ele daria um tapa forte em meu rosto. Ele apertaria meu pescoço tão forte que teria que suplicar por minha vida em meio às lágrimas e a falta de ar. Depois, ele me trancaria no quarto, não me daria comida ou bebida e, dispensaria as criadas.
Então, eu apenas aceitei seu pedido de desculpas e, pedi para que nunca mais duvidasse de minha fidelidade ou de minhas palavras, pedi para que não invadisse mais a minha privacidade. E ele jurou que nunca mais faria nada disso. Mesmo sendo uma mentira.
Whitewood
12 de agosto de 2000
- Amor? - diz Eric abrindo a porta do quarto. - Você está atrasada para ir ao médico. – ele para por alguns segundos enquanto olha o semblante surpreso de Sandra, que terminava de escrever em seu diário.
- Tudo bem. – levanta da cadeira nervosa. - Poderia buscar Helena no quarto dela, por favor? - Eric fez que sim com a cabeça. - Não esquece de passar um pouco de perfume nela. – tenta sorrir docemente.
Assim que Eric saiu, Sandra correu para esconder o seu diário verdadeiro, embaixo de uma madeira solta no chão de seu quarto.
- Pronta? - balançou a cabeça positivamente, ainda nervosa. - Já sabe o que vai dizer hoje? – Eric olhou-a atentamente.
- Que me machuquei enquanto andava de cavalo. - disse enquanto lembrava-se das mesmas palavras que Eric usou na noite anterior.
- Perfeito. – beijou a testa de Sandra.
Sandra estava com os olhos, à barriga e braços machucados, estava roxa e inchada. Ele havia batido nela na noite passada. Ele havia perdido a paciência porque ela disse que estava com muita dor e que não poderia amamentar Helena. Eric não se importou com a presença de sua mãe na casa, não se importou se sua namorada estava ou não de resguardo, ele apenas bateu nela.
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Atualizado até capítulo 46
Comments
Rosana Gonzalez
monstro bater na mulher de resguardo, cara louco.
2023-08-08
0
Vandiele Cintra
senhoor, quanta mentira
2022-07-20
1
💚Socorro Miranda🍀
Ainda não estou conseguindo entender muita coisa, ele relata as coisas de uma maneira e ela de outra 🤔🤔
2022-05-28
9