A Descoberta De Nanda. Me contaram...

Enquanto eu estava em casa conversando sobre alguns assuntos com a minha mãe, eu fiquei pensando nele, ele me parecia sempre tão sozinho, tão sobrecarregado, tão tão, me contaram tantas coisas dele, mas eram rumores, e da boca dele? Ninguém teve peito pra perguntar? Algumas até disseram que ele era agressivo sabe, aqueles homens que bate em mulher, fiquei com medo mas concordei, mas no fundo eu só conseguia ver um olhar cansado e cansado de tudo.

Depois de todo esse devaneio, antes de chegar na clinica, uma brisa me trouxe o cheiro do perfume dele de longe e sutil, não sabia se era delírio ou se ele estava por perto, mas fiquei ali durante uns 5 minutos sentindo a brisa, o perfume os barulhos e sons que rodeavam o prédio da clínica.

De longe enquanto ela sentia a brisa leve, ele a olhava distante, a menina dos olhos dele, a menina que ele sentia algo diferente quando estava por perto.

Rafael Spence

(da um murro no carro) Agora sim, estou com o pé na merda por uma pirralhinha de 19 anos. Parabéns Raphael, excelente escolha. (vai indo em direção a ela).

Rafael Spence

Você não quer trabalhar não?

Fernanda Adler

Oi? Aí que susto! (diz ela com a mão no peito).

Fernanda Adler

Quero vou entrar sim, só estava apreciando as coisas...

Rafael Spence

Você tem alguma coisa que quer me contar?

Fernanda Adler

(respira fundo) Esse é meu primeiro emprego sabe... eu nunca tive outras oportunidades, eu tenho dislexia.

Rafael Spence

Não parece, você trabalha tão bem. Você foi diagnosticada?

Fernanda Adler

As meninas estão me ajudando para não perder o emprego, mas se não me quiser eu vou entender (ela abaixa a cabeça).

Rafael Spence

Eu te quero claro que quero. Olha tudo bem não se enquadrar nos primeiros dias, isso é normal. Tem certeza que é só isso?

Fernanda Adler

Você é tão sozinho, você está bem? Por que tem dias que trata as pessoas mal, e dias que trata bem? O que você tem?

Rafael Spence

Nada. Eu acho que você anda supondo coisas de mais sobre mim, eu sou normal como qualquer outra pessoa, stress, cansaço.

Fernanda Adler

Ei olha, eu sou dislexica e não burra. Se você quiser eu posso ser sua amiga, e te ajudar, uma mão lava a outra sabe? (pega a mão dele).

Rafael Spence

(solta a mão e engole seco) E qual a sua experiência de vida com 19 anos? Uma briguinha de namorado? Você acha mesmo que tem bagagem pra toda essa merda? Já disse que você não sabe nada sobre a vida, você mal sabe chegar pra trabalhar no horário.

Fernanda Adler

Você não sabe conversar com as pessoas, é um arrogante e sempre vai ser, a sua fachada de bom moço é pra não ser denunciado nos direitos trabalhistas, a sua cara infeliz já diz tudo, você não é sozinho você é um babaca que só pensa em dinheiro mesmo (escorre uma lágrima).

Rafael Spence

(limpa a lágrima dela) Desculpa tá bom.

Devagarinho ele tenta abraçar ela, aos poucos para não assustá-la, ele sente o coração dela acelerado e as mãos trêmulas, ele vê que os problemas que estava enfrentando não eram motivo de disseminar raiva ou ódio a qualquer pessoa, engoliu seco e se sentiu culpado.

Fernanda Adler

Obrigada.

Rafael Spence

Vem eu vou te pagar um café, daqui a pouco você sobe para o trabalho, eu não tenho paciente agora mesmo.

Fernanda Adler

Está bem. (ela o acompanha).

Enquanto ele adoça o café, ele fica olhando a ingenuidade no rosto dela, ele olha as pequenas mãos que comiam a torta como se fosse a última, a delicadeza do anelsinho simples de bijuteria no dedo, os olhos tão verdes enquanto olhava pela janela, ele se sentia diferente, se sentia protetor, se sentia como se pudesse enfrentar o mundo.

Fernanda Adler

Você tá bem? Está aí mudo. Quer? (ela empurra a torta) tá bem gostosa.

Rafael Spence

Você é tão linda.

Fernanda Adler

Oi?

Rafael Spence

Tô sem fome ainda.

Fernanda Adler

Ata, nossa pensei que tinha ouvido outra coisa (ela ri), sabe, minha mãe faz bolo e torta também, qualquer dia levo para você.

Rafael Spence

Obrigado, pode trazer que eu vou gostar.

Rafael Spence

O que você acha de mim?

Fernanda Adler

(fica vermelha) A, você é assim, bem vestido sabe...

Rafael Spence

Não (ri) não a aparência, aquilo que você disse sobre ser solitário.

Fernanda Adler

A sim claro, olha, as meninas dizem que você bate em mulher, que você levou chifre, que você é sem vergonha, e tarado.

Rafael Spence

(ele ri)

Quando ele ri, ela ri também, ela olha ele e vê o sorriso com covinhas, ela vê os olhos cor de mel dele, ela se sente tão apaixonada ao ponto de o frio na barriga chegar a doer.

Rafael Spence

Eu sou, bom, eu era casado a 07 anos. Eu me casei jovem por que amava a minha esposa, o nome dela era Helena. Durante um bom tempo as coisas foram bem legais, mas de uns tempos pra cá, eu acabei sendo injusto com ela, eu tive um relacionamento fora do casamento com outra mulher e ela acabou tendo um filho, um filho que eu nem sei quem é, a Helena não suportou, ela acabou adoecendo, e 1 ano depois faleceu, minha família toda está contra mim, mas, eu sei que tive culpa e esta difícil me perdoar, eu tentei de todas as maneiras salvar Helena, os melhores tratamentos, pedi perdão, mas não foi o suficiente. Eu ainda a amava, mas eu fiz todas as escolhas erradas que foram possíveis alguém fazer, eu sou visto como um fardo pela minha família, meu pai meu vô com casamentos de 30/40 anos e eu sem ela, culpado por todos os últimos anos infelizes dela. Mesmo comprovado que a doença dela era algo genético, eu não consigo me perdoar, não consigo.

Fernanda Adler

(ela engole seco) Ninguém ainda aprendeu a viajar e mudar o passado, mas pode melhorar o futuro sabe, meus pais também ficaram separados durante alguns anos mas depois viram que só eram felizes juntos.

Rafael Spence

A Helena não vai voltar Nanda.

Fernanda Adler

Eu sei que não, mas, você pode tentar fazer algo para se redimir com sua família.

Enquanto Nanda falava, ele fechou os olhos e a imagem de Helena veio a sua mente.

Ele balança a cabeça e respira fundo, ele sentia saudades de Helena, mas sentia mais ainda um sentimento incontrolável por Nanda.

Fernanda Adler

Eu acho que é melhor a gente não tocar mais nesse assunto o que você acha?

Rafael Spence

Eu concordo. Gostou da torta? quer mais uma?

Fernanda Adler

Eu posso? Nossa obrigada!

Rafael Spence

Sim pode pegar, você termina de comer e eu vou indo resolver algumas coisas. (beija a cabeça dela). Até depois mocinha.

Fernanda Adler

Ele beijou minha cabeça? Ele beijou minha cabeça (ela ri) eu nunca mais vou lavar o cabelo.

No final da torta Nanda corre para a recepção e fica terminando alguns exercícios que as meninas deixaram para que ela aprenda a mexer no Excel. O dia todo ela pensando no que tinha ouvido de Raphael, quem era a Helena, quem era a família, sentia que tinha mais coisas, mas sabia que não tinha sido aprovada ainda para saber de toda história. Ela sentia pena, mas também sentiu raiva por ele ter traído Helena e prometeu que nunca mais iria acreditar no me contaram...