SEM SAÍDA.

Não sei porquê tomamos certas decisões onde nos arrependemos, mas temos de enfrenta--las aja o que houver.

Fui idiota o suficiente em amar com todo meu ser,me entregar e acreditar em um amor verdadeiro e eterno. Mal sabendo eu que eterno é apenas enquanto dure ou apareça alguém melhor...

Nunca entendi como eu pude acreditar que uma simples serviçal poderia ter o direito de ser uma Cinderela .

Corro para não perder o ônibus coletivo, essa é uma das primeiras coisas que aprendemos a fazer na vida adulta: correr para não perder o ônibus e o emprego. Vou me apertando e consigo entrar num ônibus lotado e cheio de pessoas "robos",que assim como eu ,vivem um dia após o outro.

Chego na portaria do condomínio de luxo, onde trabalho à alguns meses para uma família conceituada na cidade. Os Kent, que são ingleses, mas estão no Brasil, onde tem negócios lucrativos.

O porteiro comprimenta como sempre ,achando que terá uma chance de sair comigo pra um chopinho... coitado ,nem sabe ele que essa trouxa conheceu o paraíso e foi atirada no limbo, nada me fará cair nessa de novo.

Nem bem abro a porta dos fundos e Cláudia, a governanta da casa e a pessoa mais cruel desse mundo ,já esbravejando, me manda por logo o uniforme que a família receberá uma visita importante.

Pelo que vejo, não terei tempo pro cafezinho da manhã com fofoca junto com a cozinheira com cara de mãe, a dona Marta.

- Bom dia senhora Cláudia, não me demoro.

-É bom mesmo ou terei que informar a Sra. Kent sobre seus atrasos...

- Mas senhora, foi o ônibus .Hoje passou atrasado, as vezes acontece...

-A senhorita me acha com cara de tonta ,SARA ? Sempre a mesma desculpa.

Dizendo isso,deu sua costumeira girada de calcanhares e saiu em retirada com seus passos firmes.

Entro no quartinho de empregada e vou me trocar... mas o coração idiota juntamente com meu cérebro mais idiota ainda ,volta a 1 ano atrás, em outro emprego... CARLO !Esse é o nome do meu pecado. Sinto até seu cheiro, fecho os olhos e parece que vejo seus cabelos cacheados ao vento,uma escultura, um deus grego se ele não fosse espanhol. Sinto até seu toque e o frio na barriga costumeiro de quando o via...

- Vai ficar aí sonhando até quando menina ? Assim o serviço não rende! Corre preparar os quartos para as visitas.

- Sim ,dona Cláudia. Agora mesmo.

Que burra ! Como fui ficar sonhando acordada...Passo pela cozinha rapidamente e apenas aceno para Marta que está tomando seu café em companhia da babá, uma moça que vivia nas nuvens e sonhava em se casar com um milionário ,sua arrogância e inconveniência era de dar nos nervos.

- Essa uma não sabe o seu lugar. Logo ganhará o olho da rua . - fala Michelle com desdém .

Engulo uma boa resposta e saio rapidamente para organizar os quartos. Esse é meu sustento, tiro desse emprego o dinheiro pra pagar meu aluguel e meu sustento, por isso mantenho a calma .

A casa é enorme,casa não, mansão.Tantos quartos e banheiros que vivo me perdendo. Penso que não darei conta de tantos afazeres, mas tem tantos funcionários na casa que tudo acaba dando certo ao final. Pediram que preparasse 3 suítes, pelo jeito a casa ficaria lotada na semana.

Penso em como as coisas nunca são como planejamos... termino de arrumar a cama enorme e dou uma ajeitada nas almofadas. Deitada na cama macia e com lençóis perfumados, fico pensando no deus da praia ...

Foi apenas uma noite,foi mágico apenas pra mim, pois ver aquele homem todo másculo ao entardecer naquelas rochas a beira mar olhando o horizonte, com seus cabelos negros e cacheados ao vento foi de tirar o fôlego. Lembro-me que fiquei paralisada, ele se virou e me olhou nos olhos com um sorriso de canto ,sorriso maroto, foi se aproximando, com suavidade incompatível com suas mão fortes, retirou uma mecha de cabelo que teimava em cobrir meu rosto. Olhou- me bem nos olhos me hipnotizando, beijou como se eu fosse a última gota de água, me abraçou encaixando meu corpo ao seu e a minúscula sunga que ele usava deixava em evidência o desejo dele no momento...

As lembranças eram tão reais e a sensação tão maravilhosa que senti a pele arrepiar de desejo e mantive os olhos fechados para não sair dessa recordação extasiante...

- A vadia já está se esfregando nas visitas ! - grita Michele.

Como num transe , olho ao meu redor. Senhor ! Estou nos braços de um homem, ou melhor, literalmente me esfregando. Levanto o olhar é dou de cara com meu pecado em pessoa ,o deus da praia ! Saio do choque e desço as escadas correndo ,sem falar com ninguém no caminho, nem mesmo com uma assustada Marta que me vê passar como um furacão por sua cozinha e me tranco no quartinho de empregada.

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