Comprometido

Ao que parece ela torceu o tornozelo, não vi sinais de lesões no osso. Por não ter tido o tratamento adequado inchou e ficou com hematomas. A febre pode ter sido ocasionada por alguma questão emocional. Ela também está muito desidratada. A paciente também precisa se alimentar bem ou não vai se recuperar facilmente.

- Febre emocional? E eu que pensei que ela era corajosa. ( murmurei)

- O que o Senhor disse? ( respondeu o médico enquanto prescrevia os medicamentos).

- Nada não. Ela já está medicada ? ( perguntei)

- Sim. Apliquei alguns medicamentos e estou prescrevendo alguns que ela deverá tomar nos próximos dias.

- Muito obrigado. ( falei entregando o envelope com o pagamento)

Era muito comum chamarmos o Dr Efaim para atender nossa família e também nossos funcionários, principalmente quando estavam gravemente feridos.

Assim que sentei no sofá a fim de me acalmar dos eventos do dia o João Lee chegou.

- E como ela está? ( foi sua primeira fala)

Fiquei surpreso com o interesse repentino dele. E uma das minhas sobrancelhas se levou em curiosidade. Ao perceber meu olhar intrigado ele logo cuidou de se explicar.

- Não, não entenda mal. Só fiquei preocupado ela estava inconsciente e trancada sei lá onde que não encontramos.

- Uma passagem escondida e muito mal construída. Não sei como vocês não encontraram. ( disse para ele)

Me levantei e fui até o bar pegar uma bebida. O João me seguiu para continuarmos a conversa.

- Bem esperta ela... Apesar da pouca idade. ( disse ele parecendo intrigado)

- Instinto de sobrevivência. ( declarei ao entrega um copo para ele)

- O que pensa em fazer agora?

- Meus pais vem hoje a noite. Não posso apresentá-la como minha namorada nesse estado. E também preciso usá-la para chegar aos seus pais. A garota não é suficiente.

- Você acha que ela vai aceitar tão facilmente? Ela pode ser do tipo resistente. ( ponderou ele)

João tem razão, mas pelo rosto tão angelical e pelo quarto bem infantil, acho que ela aceitará fácil.

- Que escolha ela tem, João? Agora verifique o celular da garota e tente rastrear de onde vieram as últimas ligações ou mensagens. Não esqueça de entrar nas redes sociais dela também. O computador dela não foi confiscado, vi no quarto dela. Vasculhem o aparelho também. Assim que tiver alguma informação entre em contato comigo. Agora vou me arrumar para o jantar com meus pais.

Depois de um banho frio, fui ao closet e peguei uma camisa social azul e uma calça preta. Ao borrifar um pouco do meu perfume preferido um cheiro amadeirado tomou conta do quarto.

Desci as escadas e me sentei no sofá com meu celular na mão para verificar as mensagens do dia.

"Só espero que não tenha mais nenhum problema para resolver" ( pensei enquanto lia as mensagens)

Uma mensagem chamou minha atenção. Era de uma prima distante. Namoramos uns três meses, apesar de gata demais ela era chata pra caramba. Só namoramos porque meu pai também estava me tirando do sério com isso de ter namorada, casar e ter filhos. Ainda não tínhamos descoberto a doença da minha mãe.

Se antes já era difícil de isso acontecer imagina agora que estou mais que envolvido com a máfia e consequentemente com situações perigosas. Minha esposa e filhos teriam o mesmo destino inseguro que eu. Fora de cogitação. Também não sinto falta.

Não demorou muito e meu pai entrou empurrando minha mãe na cadeira de rodas. Minha mãe ficou paralítica em uma perseguição com bandidos de uma máfia rival na época. Após o acidente de minha mãe meu pai cuidou que a gangue terminasse. Nunca perguntei como, mas imagino.

Após cumprimentos felizes. Começamos a jantar e o assunto em pauta era eu e uma suposta namorada.

Ri quando mencionaram um encontro as cegas.

- Arrumamos um encontro para você, filho ( disse minha mãe repetindo pela segunda vez enquanto eu tinha um sorriso nos lábios)

Minha mãe sempre foi uma mãe carinhosa e entendo suas preocupações ela acha que deve me deixar casado e feliz antes de morrer.

Recentemente descobrimos um câncer e ela se recusar a tratar. Decidiu dedicar seus últimos dias em "me deixar bem".

- Tenho certeza que você vai gostar dela. ( meu pai acrescentou)

Engoli um pouco do risoto que estava em minha boca e limpei o canto com o guardanapo.

- Não precisam se dar esse trabalho. Eu disse que no momento certo vou apresentar uma, digo minha namorada para vocês.

- Se você não for a um encontro não terá uma namorada.(disse meu pai insistindo)

A única coisa que eu pai Almeida no momento é que eu tenha "alguém" para que minha mãe se convença de tratar essa doença.

- Acho que não fui claro. Eu estou comprometido. Já tenho uma namorada, pai. E em breve vou apresentar para vocês.

Minha mãe me olhou incrédula, enquanto meu pai parecia ter acreditado e até um sorriso surgiu em seu rosto.

Me apressei rapidamente para detalhar meu namoro para que minha mãe acreditasse piamente.

- Estamos juntos a três meses. E tenho certeza que é ela. Por isso vou marcar um jantar e finalmente vocês vão se conhecer.

- Como você sabe que é ela? (perguntou minha mãe parecendo desconfiada)

Olhei para minha mãe e ela ainda estava com o mesmo olhar.

"Droga isso precisa funcionar a todo custo".(pensei)

Lembrei de um filme que vi e então sabia exatamente as palavras que deveria usar.

- Quando estou com ela o tempo parece parar, mãe. O mundo pode estar caindo, mas vou está tranquilo porque estou no meu oásis chamado, Gabriela. Ela é a única mulher capaz de extrair meus melhores sorrisos e um amor grande que eu não sabia que poderia sentir.

Ao olhar para minha mãe vi um sorriso e uma lágrima no canto dos olhos. Agora acho que exagerei.

- Ela já sabe da sua vida dupla ? ( disse meu pai)

- Ainda não. Ela só sabe que administro a empresa da família, só falei que tinha outros negócios além da empresa. Mas tenho certeza que não será um problema porque ela me ama.

-Estamos muito feliz por você, filho. Um brinde a sua felicidade ( disse minha mãe sorridente)

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