Circulada / Xeque mate

***********Juliano**************

Acordei cedo, me arrumei, fiz o café e fui dar uma circulada pelo morro e o pouco que vi deu para perceber que são muitos os olheiros e vários vapores que circulam pelos muitos becos do morro.

Alguns me encararam e dois deles perguntaram sobre mim, disse que vim passar uns dias na casa do meu primo porque acabei de sair da cadeia e quero começar novamente.

Algumas circuladas e um dos vapores que me abordou perguntou se quero fazer um serviço para ele.

Vapor-x_     Tenho que entregar uma mercadoria em um lugar, mas tem uma gata me dando bola e quero aproveitar se é que você me entende.

Juliano_    Claro cara só falar a hora e local.

Vapor-x_   Me encontra aqui às 19 hrs,  mas não vacila cara.

Juliano_    Pode deixar.

Volto para casa animado com o progresso de hoje, claro que tenho que ficar esperto para não cair em uma emboscada.

Chego em casa faço minhas anotações e um mapa dos becos que circulei hoje, após algumas horas faço um lanche, tomo banho e espero dar o horário marcado e vou para o lugar combinado. Chego e dois caras vem ao meu encontro

X1_    Então você é o cara novo no morro.

Juliano_   Sim, sou Juliano Perez.

X2_    O que você quer na nossa comunidade cara?

Juliano_    Estou passando uma temporada na casa do meu primo até resolver o que farei daqui para frente.

X2_    Por que escolheu o morro?

Juliano_    Estava preso por envolvimento ao tráfico e por esse motivo minha família não me quer por perto o meu primo foi o único que estendeu a mão para mim.

X2_   Entendi, mas o que você faz para sobreviver?

Juliano_   Faço de tudo um pouco depende de quantos me pagam.

Após terminar de falar ouço vapor-x perguntar?

Vapor x_    O que está acontecendo aqui?

X1_    Nada cara, só estamos conversando.

Vapor-x_     Deixa que me entendo com o cara.

X1_   Ok mano.

Os caras saem e fico com vapor x que se apresenta como Denilson Martins, mas pede que o chame de Dedé. Ele entrega um pacote lacrado, um papel com o endereço que deve ser entregue e por último um envelope com o pagamento pelo meu serviço, pego tudo e ele vai embora.

Leio o endereço no papel e vou fazer a entrega, após alguns minutos procurando chego no local, vejo que é uma casa de prostituição, entro e procuro pelo dono da mercadoria entrego e saio.

Me sinto sujo depois de saber que  contribuí para destruir vidas e famílias, pois sei muito bem o que tem naquele embrulho e o poder de destruição que ele causa.

Volto para casa e sigo por um novo beco para descobrir aonde vai sair sigo meu trajeto até que no caminho esbarro em uma moça que está com os olhos vermelhos e chorando, ela cai com o esbarrão.

Juliano_    Desculpa moça, esta tudo bem, você se machucou?

Clara_     Não, não está.

Juliano_    Perdão, estava distraído e não te vi.

Me chamo Juliano.

Clara_     Não se preocupe já estou acostumada, ninguém me vê mesmo.

Me chamo Clara.

Ela fala seu nome e sai sem se dispedir ou olhar para trás, eu também sigo o meu trajeto, mas não sei porque o seu nome ficou em minha mente. Chego em casa faço minhas anotações e acrescento os vários becos em que fui hoje no mapa e fui tomar um banho, me deito e penso, porque uma garota tão linda e com o nome tão doce estava sozinha  chorando em um beco deserto.

***********Clara*************

Depois de sair daquele beco sem olhar para trás vaguei por horas sem destino, sinto que minha vida não me pertence e sou apenas uma marionete nas mãos do meu pai que se acha o meu dono, mas não posso permitir que ele tome as rédeas da minha vida não posso me casar com qualquer um que com certeza é um traficante.

Como vai ser minha vida se eu concordar com suas loucuras?

Me casarei com um traficante que na verdade não será meu marido e sim meu carrasco, não sairei nunca desse morro e meus filhos que nem existem já estarão condenados.

Após algumas horas volto para casa e ao chegar encontro meu pai com olhar mortal, quando percebe minha chegada vem até mim, pega em meu cabelos com fúria, me puxa até a sala e me joga com força no chão.

Sinto meu corpo doer com o impacto.

Douglas_ Sua maldita onde você estava?

Clara_ Eu fui dar uma volta pai.

Douglas_ A essa hora da noite sua vagabunda.

E assim começou a sessão de espancamento, meu pai pegou um cinto e me bateu como sempre. Meu corpo sentiu as primeiras cintadas,

mas o restante o meu corpo já estava amortecido e não sentia nada, depois de anos apanhando meu cérebro me ajuda a tirar o foco da dor e colocar em outra coisa e de repente minha mente volta naquele beco e naquele rapaz não sei porque Juliano vem em minha memória, ele me ajudou a passar por aquele momento de dor sem ao menos saber.

Saio dos meus pensamentos com meu pai falando.

Douglas_ Escuta aqui sua desgraçada, à partir de hoje você vai ter alguém da minha confiança na sua cola.

Ele me deixa jogada no chão pega o celular, digita o número e fala.

......................Ligação on.....................

Alô Dedé!

Preciso que arrume alguém de confiança para ficar na cola de Clara!

Quero que comece amanhã mesmo!

Tem certeza Dedé?

Não quero qualquer um nessa função.

Ok Dedé.

...................... ligação off.....................

Escuto toda a conversa quieta, então como xeque-mate meu pai fala.

Douglas_ Você tem que se comportar porque está de casamento marcado com o Dudu dono do Morro do Adeus, esse casamento vai acontecer uma semana depois do seu aniversário.

Ele fala e vai para o seu quarto me deixando destruída naquele chão, com muito esforço e com dores no corpo vou para o meu quarto e choro.

Não posso lutar contra meu pai, ele é mais forte do que eu.

Sentada no chão do meu quarto com meu corpo encostado na parede e com as mãos em volta da minhas pernas eu choro e falo para mim mesma, se eu não conseguir me livrar do meu pai e desse casamento, eu mesma darei fim a minha vida, porque estarei morta de qualquer maneira meu pai tem me matado aos poucos e esse casamento será o meu fim.

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