A fada do dente
Numa época muito anterior à nossa, em que ainda se media o tempo por Eras, e os seres humanos dividiam o mundo com toda sorte de criaturas místicas… Uma lágrima solitária, com sabor de ciú
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O Leiteiro
— Estão todos mortos — disse o senhor Lúcio. — O último matei-o esta manhã. — Levou à boca um copo de leite e limpou os beiços à manga da camisola, antes de prosseguir. — O corpo dele está por ali — a
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O FANTASMA DA NEVE
Na província de Echigo, em frente à Ilha de Sado, no Mar do Japão, a neve cai pesadamente. Às vezes, acumulam-se sete metros acima do chão. Muitas foram as pessoas que sepultadas pela neve, cujos corp
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Foi A Noite Que Te Levou
El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio. Natalia Lafourcade, La Llorona Chamei-lhe Noite e foi ela que te levou. Não porque fosse a noite em si, mas porque à escuridão pertencia.
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Minha filha dormindo ao meu lado... não é bem ela!
Uma noite, recebi uma mensagem de um número desconhecido no meu celular. — Mamãe, me salve! Me salve agora! Olhei para a cama ao lado, onde minha filha estava dormindo tranquilamente, respirando sua
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Polifemo
Como uma esmeralda apodrecida, a luz. Verde, doentia. Zumbe como um mosquito. Vampira, sanguessuga. Um jogo de sombras pincela a parede. É uma mariposa noturna que dança no abajur. Asas peludas como a
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A Dança das Ruínas
A dança tinha recomeçado. No escuro, podia ouvir a música e o som dos pés na madeira centenária do salão. A dor na perna era agora uma espécie de farol aceso, insuportável na sua intensidade, mas impe
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Pés que Olham o Abismo
Forget-me-not. Alguém decorou o meu quarto com papel de parede amarelo mergulhado nestas minúsculas flores azuis, um cortinado rosa para esconder todos os pés que passam pela minha janela e me espreit
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Crisma
Os vestidos e fatos elegantes dos crismandos brilhavam ao sol de uma manhã de verão e eram enriquecidos por sorrisos envaidecidos e delicados, enquanto as harmoniosas badaladas dos sinos já chamavam p
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A Queda
Perco as forças, caio para trás, fecho os olhos e deixo-me ir, em queda livre… Mas a queda não é tão livre assim. Pelo caminho, vou batendo em rocha e raízes. Uma pedra rasga-me o braço, fazendo-o san
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Se Me Morres
Abria a janela todas as manhãs, para que o gato Tobias se espreguiçasse e apanhasse um pouco de sol. Depois, colocava a bacia de loiça no parapeito da janela. — E se me morres, pai? — pergunta Helena,
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Staccato – O Oráculo –
Túlia encarou o espelho, os olhos lampejantes não vislumbraram defeitos, apenas pele jovem e macia, doçura de boneca e inocente alvura, ligeiramente contrastada com rosas na face. Finalizou com perfum
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O Presépio
Jingle bells! Jingle bells! O comboio de Natal sobe a avenida. O Pai Natal toca a sineta e acena aos transeuntes. Apressados, procuram as compras de última hora. Milhares de lâmpadas enfeitam as árvor
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Cheiro a Velho
O n.º 8 da Rua das Margaridas estava trancado há demasiado tempo. Notei-o assim que passei a porta e tive de suster a respiração. O cheiro a velho entranhava-se-me nas narinas, na boca e na língua. To
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O Furo
Quão azarada tem uma pessoa de ser para ter um furo a meio da noite, numa estrada secundária, com uma barra de rede no telemóvel que aparece e desaparece, em caprichos intermitentes? Contar já estar e
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Campo Santo
El que no sabe de amores llorona, no sabe lo que es martirio. Natalia Lafourcade, La Llorona Os lírios presenteiam o rio em tons de roxo, perdendo pedaços de si numa promessa de união que só se concre
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A Cigana
O documento de texto composto por uma única página e duas palavras (Capítulo Um), criado e inalterado há quase um mês, fora substituído por um site onde uma grande imagem ensinava as bases da quiroman
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A Carta
Já faltava pouco para acabar a carta. Tinha as mãos húmidas e os dedos tensos de segurar a esferográfica com um pouco de força a mais. Os pensamentos eram-lhe tão estranhos que lhe secavam a boca. Era
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A Larva
Sou uma larva que se alimenta de carne em decomposição. Fui a primeira a irromper deste corpo, ainda agarrado a uma réstia de vida. Olha-me com nojo e desconforto; tenta sacudir-me. Mas eu escondo-me
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Remédio Santo
Violante Guerreiro era a mulher que todos queriam. Com um sorriso a transbordar de charme e um olhar raro, violeta, atraía tudo e todos. Tudo nela era um cântico de sereia. E igualmente perigoso. Ela
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