Sou uma larva que se alimenta de carne em decomposição. Fui a primeira a irromper deste corpo, ainda agarrado a uma réstia de vida.
Olha-me com nojo e desconforto; tenta sacudir-me. Mas eu escondo-me na sua pele. Continuo a comer e a defecar para viver.
A minha progenitora, com o seu aguçado olfato, largou-me aqui nesta montanha de despojos, para que eu, e todas as outras larvas que eclodirão a partir dos seus ovos, nos alimentemos. Seremos milhares a usufruir deste repasto.
Quando o meu hospedeiro pensa que está livre de mim, apareço de novo à flor da pele, para o lembrar de que agora ele me pertence e de que, brevemente, toda a minha comunidade estará empenhada no seu consumo.
Cuac, cuac. As aves necrófagas sobrevoam os cadáveres, mas eu antecipo-me. Despacho-me a perfurar estes amontoados de carne e sangue.
Começo a escavar no pé, a preparar o caminho. Cavo túneis para que todas as larvas possam passar. Amanhã, estaremos todas juntas a trabalhar neste pedaço.
Este campo de batalha vem mesmo a calhar para nós. Por todo o lado, há alimento, tudo é lixo e podridão. Teremos comida por muito tempo.