Ana Clara ajeitava a alça da bolsa enquanto caminhava pelo corredor estreito do avião. O cheiro característico de cabine, misto de perfume, tecidos novos e o leve odor metálico, deixava a experiência ainda mais marcante. Ela seguia em direção ao assento que lhe fora designado, na primeira classe. Viajar em espaços de luxo não era novidade para ela — afinal, era filha de uma família milionária, acostumada desde cedo a voar com conforto. Ainda assim, havia algo naquele voo que a deixava especialmente empolgada.
Quando se aproximou, viu que o lugar ao lado já estava ocupado. Seus olhos demoraram alguns segundos para acreditar no que enxergavam. O rosto conhecido, as feições delicadas, o jeito elegante de segurar o celular... não havia dúvidas.
– MEU DEUS!! – exclamou Ana Clara, quase deixando a bolsa cair de suas mãos. – Não acredito que é você mesmo!
Beatriz, que havia começado sua carreira de influenciadora de moda e maquiagem apenas dois anos atrás, levantou o olhar surpresa. Apesar do pouco tempo, já conquistara milhões de seguidores, mas ainda se sentia constrangida em momentos como aquele, quando a fama se transformava em encontros inesperados.
– Você está falando comigo? – perguntou Beatriz, constrangida com a explosão de empolgação da jovem.
– Ai, me desculpa! – Ana Clara colocou a mão na boca, rindo sem graça. – Acho que me empolguei demais. É que eu sou uma grande fã sua! Eu... eu posso tirar uma selfie com você?
Beatriz respirou fundo e sorriu de canto. Estava acostumada com esse tipo de situação, mas ainda assim se sentia um pouco desconfortável com tanto entusiasmo.
– Claro. Cadê seu telefone?
– Espera só um pouquinho que vou pegar. – Ana Clara abriu apressada a bolsa, quase derrubando algumas coisas no corredor. – Não acredito que estou no mesmo voo que você!
As duas tiraram a selfie. Ana Clara sorriu de orelha a orelha, já imaginando a foto postada em suas redes sociais. Beatriz ajeitou-se novamente no assento, colocando os fones de ouvido no colo.
O avião decolou, e o ronco das turbinas criou um fundo sonoro constante. Apesar da tentativa de Beatriz de se recolher em silêncio, Ana Clara não conseguiu conter a curiosidade.
– Então... o que você vai fazer no Brasil? – perguntou, com os olhos brilhando.
– Bom... – Beatriz fez um mistério, arqueando uma sobrancelha. – É segredo.
– Ah... – Ana Clara insistiu, inclinando-se um pouco. – Está indo a trabalho?
– Em parte, sim. – respondeu a blogueira, sem entrar em detalhes.
– Ata! – murmurou a jovem, ainda intrigada.
Beatriz, percebendo que não conseguiria escapar tão facilmente, resolveu dar uma pista:
– Estou indo realizar um sonho. Em breve vou contar para todos.
– Nossa, boa sorte, então! – disse Ana Clara, emocionada. – Posso te perguntar mais uma coisa?
– Pode. Mas dependendo da pergunta, talvez você fique sem resposta. – brincou Beatriz, já relaxando um pouco com a sinceridade da garota.
– Será que eu posso trabalhar com você enquanto estiver no Brasil? – disparou Ana Clara, os olhos arregalados. – Eu juro que vou ser de grande ajuda!
Beatriz deu uma risada curta.
– Você não é menor de idade?
– Não, já tenho 18 anos! – garantiu a jovem, erguendo o queixo com confiança. – Posso ser sua assistente pessoal, se você quiser.
Beatriz a observou com atenção. Havia algo de genuíno naquela empolgação.
– Bem que eu estou precisando de ajuda mesmo... Mas você não está estudando? Isso não vai atrapalhar seus estudos?
– Não! Estou de férias, e mesmo quando voltar, meus horários são bem flexíveis. Pode deixar, eu darei conta.
Beatriz suspirou, pensativa, mas a sinceridade de Ana Clara a conquistou.
– Está bem. Mas me prometa que, se ficar muito puxado, você me fala.
– Então você está me contratando?! – Ana Clara mal podia acreditar. – Sério? Eu não acredito!
– Que tal eu te passar minha agenda e ver se você aguenta o tranco? – disse Beatriz, rindo da reação dela.
– Claro! – respondeu a jovem com entusiasmo.
Durante o restante do voo, elas conversaram bastante. Beatriz mostrou a Ana Clara alguns detalhes do que estava planejando no Brasil, ainda sem revelar tudo, mas o suficiente para que a garota se sentisse parte de algo especial.
No aeroporto, a correria de sempre: malas, pessoas apressadas, anúncios nos alto-falantes. As duas se despediram com um abraço rápido, mas já combinaram de se encontrar na empresa onde Beatriz teria uma reunião importante.
Na manhã seguinte, Ana Clara chegou bem antes do horário combinado. O nervosismo não permitira que dormisse direito, então preferiu pecar pelo excesso de pontualidade. Sentou-se na recepção, ajeitando os papéis na bolsa e respirando fundo, como se tentasse controlar a ansiedade.
Pouco depois, Beatriz chegou. Elegante, com óculos escuros grandes e um vestido sofisticado, ela exalava confiança.
– Bom dia! – cumprimentou, sorrindo ao ver Ana Clara já à sua espera. – Vamos?
Na recepção, Beatriz se apresentou:
– Bom dia, eu me chamo Beatriz. Tenho uma reunião marcada com o Diretor de Marketing, Jorge.
A recepcionista pegou o telefone.
– Só um minuto, senhora. – E, após a ligação rápida, completou: – Ele pediu para a senhorita subir para o sexto andar.
– Obrigada. Vamos, Ana Clara. – disse Beatriz, guiando a nova assistente.
No sexto andar, foram recebidas calorosamente por Jorge e sua equipe. A sala de reuniões estava impecavelmente organizada, com água, café e documentos alinhados sobre a mesa.
Após uma breve conversa, Beatriz leu atentamente o contrato. Conferiu cada detalhe com calma, e ao perceber que estava tudo conforme o combinado, assinou sem hesitar. A partir dali, a parceria estava oficializada.
– Muito bem – disse Jorge, animado. – Agora precisamos definir os produtos do lançamento.
A discussão avançou, cheia de ideias, opiniões e ajustes. Ao final, ficou decidido: seriam lançados cinco batons mates de cores modernas, um rímel preto de longa duração, um delineador líquido, uma paleta de sombras com seis tonalidades e um kit de pincéis de maquiagem.
– Quero que cada item tenha a minha identidade, mas que também seja acessível para o público – reforçou Beatriz. – Beleza não deve ser privilégio de poucos.
O próximo passo foi discutir embalagens e estratégias de divulgação. Cartazes, comerciais, campanhas digitais. Tudo precisava estar alinhado. Quando a reunião terminou, Beatriz já tinha uma visão clara de como seria o projeto.
No dia seguinte, acompanhadas por Jorge, elas visitaram o laboratório responsável pela produção. A visita começou com um tour técnico, passando por corredores impecavelmente limpos, salas cheias de equipamentos modernos e funcionários de jaleco branco. O cheiro de produtos químicos pairava no ar, mas não era desagradável — era o cheiro da criação.
Por fim, conheceram o químico que ficaria responsável pelos produtos. Beatriz aproveitou a oportunidade para explicar cada detalhe do que esperava: textura, durabilidade e fragrância. Nada passava despercebido.
– Quero que cada batom deslize nos lábios como seda. O rímel precisa dar volume sem borrar, e o delineador tem que ser preciso até para mãos inexperientes. – explicou com firmeza.
Ana Clara observava tudo com admiração. Era incrível ver sua ídola de perto, não apenas como influenciadora, mas como uma mulher de negócios determinada e visionária.
No caminho de volta ao hotel, Beatriz quebrou o silêncio do carro.
– Ana, preciso de mais uma coisa. Procure um apartamento para eu alugar enquanto estiver aqui. Quero algo confortável, mas prático. Você pode cuidar disso para mim?
Ana Clara sentiu um frio na barriga, mas sorriu imediatamente.
– Pode deixar comigo!
E assim, entre admiração, aprendizado e responsabilidade, nascia uma parceria inesperada, que mudaria não só o rumo da carreira de Beatriz, mas também a vida de Ana Clara.
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Atualizado até capítulo 20
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