5

Despi-me rapidamente, vesti o pijama e me enfiei na cama. Ainda estava excitada com os beijos de Richard. Entretanto, agora eu percebia, tinham sido beijos controlados, como se ele já tivesse decidido com antecedência qual o envolvimento que teria comigo, ou com qualquer outra garota. Aquele fora o final perfeito para uma noite adorável. Mas era melhor eu não ficar interpretando muito aqueles beijos, para minha própria paz de espírito. E só esperava que, pelo amor de Deus, eu não fosse estragar tudo o que acontecera, ficando completamente vermelha, amanhã, na enfermaria, quando ele falasse comigo.

No dia seguinte havia casos de emergência e dois enfermeiros vieram ajudar. Era o dia de folga de Chris. Foram eles que cuidaram do leito de Robert e terminaram tudo antes que eu ficasse livre. Vi-o fazendo exercícios com as pernas, debaixo do cobertor, quando passei.

— Eu lhe disse que logo ficaria bom, não foi? — Sorri e parei para erguer um pouquinho o travesseiro dele.

— Você teve um papel importante; evitou que eu ficasse louco, Nicole.

— Ei, você não deve me chamar assim. Como sabe o meu nome?

— Perguntei aos outros.

— Por que fez isso?

— Porque eu queria saber mais sobre você — respondeu simplesmente. — Não estava aqui e fiquei imaginando o que faria nas suas horas de folga. Onde ia e com quem. Esse tipo de coisa.

Nossos olhos se encontraram rapidamente. Eu desviei os meus e disse:

— Estou recebendo um sinal desesperado do senhor Birch. Falo com você depois.

Saí voando. O senhor Birch era um pouco nervoso, mas quando mudei sua posição e ele se sentiu mais confortável, sorriu e me deu uma piscada como quem diz "sei de tudo".

— Se eu fosse mais jovem e bonitão como aquele sujeito lá, poderia ganhar mais atenções também.

— Oh, você não está tão mau — falei brincando, olhando para Robert. — Então, acha mesmo que ele é bonitão?

— Sim. Você não acha?

— Hum… bem, só agora é que você me fez notar…

Ele riu. Eu lhe dei um tapinha no braço antes de sair apressada para o almoço.

Logo que entrei no refeitório, vi Richard Gray sentado sozinho numa mesa a um canto. Depois da noite passada, era perfeitamente natural que o seu olhar tivesse um significado especial, causando um certo calor entre nós.

Mesmo à distância ele se sobressaía. Tinha alguma coisa que, certamente, o tornaria um médico famoso, dentro de pouco tempo. O doutor McReith também pensava assim. Eu sabia disso pelo modo como lhe explicava os casos difíceis, coisa que ele não faria, a não ser que soubesse que seus comentários seriam assimilados e lembrados. Ele havia percebido, pelos olhos atentos de Richard, pelo modo como este o ouvia, pelas perguntas que fazia, que seu interesse pela profissão era sério e profundo.

Eu ainda pensava na noite anterior quando peguei minha bandeja. Mas não a levei para a mesa dele. Richard já estava quase terminando. Sentei-me, deliberadamente, com outra companheira, com quem já trabalhara na enfermaria infantil, no ano passado. Minha meia hora passou rapidamente, distraída com aquela conversa. Eu tinha adorado trabalhar com crianças e havia muitas novidades para serem contadas. Quando olhei para a mesa de Richard, ele já tinha saído.

Os pacientes, geralmente, parecem muito diferentes fora da cama, e Robert Larkham não era exceção. Parecia mais alto e de ombros mais largos do que eu imaginara. Pensei nisso enquanto o olhava apoiado contra a cama, com a fisioterapeuta segurando firmemente seu braço. Ele tentou colocar o peso do corpo nas pernas, mas elas não tinham forças para sustentá-lo. 

Ele empalideceu e não conseguiu ficar em pé. Após um instante, a fisioterapeuta pediu-lhe que voltasse à cama.

— É suficiente por hoje — disse ela, colocando as pernas dele sobre o lençol. — Amanhã teremos mais. Continue mexendo-se, senhor Larkham. Estará junto com os seus cavalos antes de o verão acabar.

— Espero que sim. — Mas eu sabia que Robert Larkham não acreditava. Na verdade, naquele momento ele duvidava até mesmo que um dia saísse da cadeira de rodas.

— Ela está certa, você sabe, Robert — disse eu, mais tarde, quando levei-lhe o chá. — Na semana que vem, você ficará surpreso com sua melhora. Ficará bom, vai ver.

— O que é que o senhor Larkham vai ver, enfermeira? — Eu não tinha escutado a Irmã Batsun se aproximar do leito dele.

Robert interrompeu depressa:

— A enfermeira está me garantindo que ficarei em pé a qualquer momento — ele disse —, e que isso é só uma questão de tempo. — Ele indicou as pernas. — Mas tenho as minhas dúvidas. Olhe para mim…

— A enfermeira Page é uma otimista nata. Mas não é de todo ruim. — Ela me olhava quando voltei para o carrinho de chá, e eu a vi ainda conversando com Robert, ao mesmo tempo que empurrava a cadeira de rodas dele. Talvez, afinal, eu o tivesse ajudado.

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Comments

Joelma Rocha

Joelma Rocha

Robert não perca as esperanças em Deus 🙏❤️😇

2024-01-13

3

Amanda

Amanda

Tomara

2023-07-26

1

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